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Opinião
11 de Dezembro de 2009 às 11:37

Notas

(Onde o autor desilude os incautos leitores, visto que não vai escrever sobre métodos infalíveis de ganhar montes de "notas" de 500 euros, mas antes dizer umas coisas sobre pessoas e temas recentes, a saber: Berbanke no Congresso dos EUA, o filme de Michael Moore, Vara e, surpreendentemente, Sócrates).

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"Capitalism: a love story" - Tinha uma boa curiosidade de ver o filme deste produto do capitalismo, Moore, a tentar demolir o sistema que lhe deu riqueza e fama. Mas eu até gosto de ver filmes ideologicamente alinhados: Quando têm aquele misto de fanatismo e grande arte dá para sentir uma espécie de inocência perversa, muito mais do que propaganda. Riefenstahl, Griffith ou Eisenstein andavam por aí e por isso ficaram nas cinematecas, independentemente da proposta de ideologias falhadas.

Sem chegar àquele sublime, lembro-me de ter ido ver ao cinema, durante o PREC, o épico "1900", em duas partes. Era uma sala cheia com 1.502 pessoas, a mrs. Matos e eu, mais uns 1.500 comunistas modelo soviético; mas era Bertolucci e a fotografia deslumbrante de Storaro, não se podia resistir.

Moore não é assim, obviamente, e, de modo previsivel, saiu uma fita "agit-prop"(1), com pouca arte mas muita fúria à solta, sarcasmo feroz e argumentário emocional. Uma coisa para partilhar sentimentos e estabelecer empatia com qualquer pessoa, da direita à esquerda, ou não fosse o tema o da indignação contra o regabofe da banca-sombra e do seu resgate pelos sofredores contribuintes. O Wall Street Journal classifica o filme com um 7 em 10; Louçã, provavelmente, com um 34 em 20.

E, por falar em cinema, para me estragar a semana também fui ver o "Lua Nova", classificado por um cunhado de humor seco como "um filme de vampiros para gajas". E foi com nostalgia que me lembrei do Bela Lugosi, do Cristopher Lee, do Anthony Hopkins ou da dupla das "entrevistas" da Ann Rice, Cruise/Pitt, isto para não evocar o tempo em que dos Romeus e Julietas modernos emanavam os West Side Stories. Agora imaginem uma vampirada com teenagers do liceu, índios das berças norte-americanas de lábios pintados, vampiros com cabelo à futebolista, e comparem com os filmes nos quais ainda se não tinha passado nada, a não ser inquietação, e depois era um frio pela espinha acima…

Não sei, mas se calhar estou a ficar saudosista.

Bernanke - Deu uma notável "conferência" na audição perante o Congresso norte-americano(2). Aqui temos mais um liberal a sustentar com pertinácia uma forte regulamentação dos mercados financeiros bancários (Trichet fez o mesmo poucos dias mais tarde- embora este defenda que não houve "exuberância irracional") e com uma curiosidade extra que, aliás, justificou este destaque: Interrogado se (numa linha Keynesiana) não deveria antes contar com o Banco Central a orientar as taxas de juro e a desinflacionar "bolhas", respondeu que um problema resultaria sempre quando apenas um sector estivesse em inflação, pois a subida das taxas iria deprimir o andamento da restante economia. Lê-se muito esta proposta de por o Fed como grande estabilizador do sistema, com margem alargada, e a mais convincente para mim estava no "Origin of Financial Crises" de G. Cooper, num modo de argumentação mais Minski que Keynes.

Um livro elegante e um depoimento de professor, para aficionados.

Vara - Adorei, quando , segundo os meios de comunicação, afirmou que "se recusava a regressar ao BCP, enquanto fosse suspeito" . É assim uma coisa como se (a elegante) Ana Maria Lucas, 35 anos depois, viesse declarar à imprensa que se recusava a voltar à competição de Miss Portugal enquanto lhe não assegurassem que estava como quando tinha 20 anos.
Não sei , evidentemente, se o homem é culpado ou inocente, mas sei, isso sim, que a prova "dura" no processo há-se ser para o lado do flácido. Doutro modo, teríamos um Vara cauteloso e calado quando constituído arguido, mas fluente e a dar baile mal a defesa teve acesso aos autos? Nyet!

Os pequenos accionistas do BCP não podem respirar aliviados.

Sócrates - Esta semana, afinal, tira folga.


(1) Para quem não saiba, significa, divertidamente, "agitação e propaganda" no modelo leninista de partidos comunistas.
(2) Quem tiver curiosidade encontra tudo no site da CNN.


Advogado, autor de " Ganhar em Bolsa" (ed. D. Quixote), "Bolsa para Iniciados" e "Crónicas Politicamente Incorrectas" (ed. Presença). fbmatos1943@gmail.com
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