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Negócios negocios@negocios.pt 19 de Fevereiro de 2002 às 16:55

Marta Lopes: «Boatos Electrónicos»

As correntes de felicidade espalham-se à velocidade da luz e inundam as nossas caixas de correio electrónico... E ficamos incrédulos ao ver os nossos amigos a responder prontamente com a simples frase "Nunca se sabe".

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As correntes de felicidade espalham-se à velocidade da luz e inundam as nossas caixas de correio electrónico... E ficamos incrédulos ao ver os nossos amigos a responder prontamente com a simples frase "Nunca se sabe".

Durante o ano 2001, através do meu e-mail, fiquei a conhecer as correntes milenárias do Dalai Lama e da Madre Teresa de Calcutá, quase deixei de ir ao cinema com medo de encontrar uma seringa infectada, limpei 300 vezes cada lata de Coca-Cola antes de a beber para evitar contaminações provenientes de excrementos de rato e vi 100 fotografias de pessoas desaparecidas onde nunca se referiam números de contacto ou descreviam a data de desaparecimento.

Tudo isto, multiplicado por 4 ou 5, que era o número de vezes que recebia a mesma mensagem.

Certamente que foi útil receber o e-mail dos enganos que aconteceram nas bombas de gasolina com a chegada do euro... que se passou com um amigo do meu amigo...

Ou aqueles e-mails em que ganhava US$10,00 de uma empresa qualquer se enviasse aquela mensagem 10 vezes. Para não falar das cartas em favor da Amazónia ou das mulheres do Afeganistão.

Todas elas muito válidas mas que não resultaram em nada... e não aumentaram a minha conta bancária.

Descobrir a origem dos boatos é uma tarefa hérculea. Na maior parte das vezes, ficamos no diz-que-disse e, quando estamos quase a chegar à fonte, não encontramos as provas que tanto ansiamos. Também não se percebe bem para que precisamos delas porque nem saberíamos o que lhes fazer, nem conseguiríamos parar o boato.

Há boatos que são célebres, como o suposto McDonalds com minhocas... o mundo inteiro ficou a pensar que andava a ingerir um hamburguer com aquelas pequenas criaturas trituradas. Não passou de um lamentável boato que originou conferências de imprensa e esclarecimentos constantes sobre a composição dos hamburguers.

Isso foi há alguns anos atrás mas, com o advento da Internet, a Ericsson e a Gessy Lever também viram os seus nomes associados a falsas promoções ou a informações incorrectas sobre eventuais problemas de saúde com o uso dos seus produtos. Um estudo publicado pela empresa de comunicação Burson-Marsteller compara os boatos electrónicos aos «naturais»: no método tradicional, o boca-a-boca é transmitido a duas pessoas, contra oito pelo uso do e-mail. Um número assustador, quando se pretende controlar as mensagens ou desmentir uma falsa informação.

Se o ano de 2001 foi pródigo na proliferação de e-mails, o que nos reservará os próximos anos? A Forrester prevê que, em 2004, cada caixa postal receberá, em média, nove mensagens comerciais por dia. Um bom número, a juntar às 10 newsletter actuais!

Felizmente que hoje a maior parte dos sites já nos pergunta se queremos, ou não, receber informação complementar sobre a empresa e os seus produtos. Geralmente, quando preenchemos uma inscrição na Internet, encontramos no final da página, um quadradinho bem pequenino, que podemos desactivar se não quisermos receber informações complementares.

Este é um segredo que deveria ser revelado a todos os webdesigners... sempre que pedirem informações aos clientes, através do site, solicitem permissão para usá-la.

Só que, quando o internauta autoriza, aproveite! Parece que até faz sentido esta história de «marketing viral». Segundo a Jupiter Communications, estima-se que as campanhas de e-marketing, usando o e-mail, representaram 164 milhões de dólares em 2001, e que atingirá o bonito valor de 7 bilhões de US$ em 2005. Muitos zeros à direita que têm uma explicação, também fundamentada por outra pesquisa da Jupiter Communication: a taxa de retorno de e-mail situa-se entre os 2% e os 10%. Taxas superiores ao número de respostas no marketing directo mas com outra variante mais apetecível: 60% mais baratas que as campanhas por correio.

Ainda assim, todos os cuidados são poucos. Os e-mails deixaram de ser uma simples brincadeira. A empresa farmacêutica Eli Lilly acabou de ser ilibada de pagar uma multa altíssima pela Comissão Federal de Comércio Americana (FTC), porque um dos seus funcionários enviou um e-mail a 700 consumidores de Prozac, com os endereços de e-mail em aberto.

A empresa não utilizou a «cópia oculta», expondo a identidade de todos os clientes que eram destinatários do e-mail. O serviço de mensagens da empresa foi cancelado durante o mês de Junho e o pedido de desculpas foi imediato...

Por agora, a FCT considerou que foi um «deslize» mas defende que foi quebrado o sigilo médico uma vez que os doentes poderiam ser identificados através de e-mail.

O aviso ficou patente a todas as empresas americanas que, dali em diante, os «deslizes» não serão mais tolerados.

O Governo chinês é, talvez, dos que mais restrições coloca ao conteúdo que circula na Internet, como forma de controlar a informação que chega aos seus cidadãos. A sua última aventura – que demonstra a seriedade com que encaram o potencial dos e-mails – foi ordenar aos «service providers» o «scanner» de todos os e-mails privados em busca de conteúdos políticos...

Os boatos mais recentes na Internet têm um nome pomposo e, claro, seguem a nomenclatura inglesa: hoax. Estes boatos são, nada mais, nada menos, mensagens falsas sobre vírus. O último difundido, segundo a Info Exame, é o Coke.exe que se afirma como um vírus que destroi os arquivos do seu disco rígido, usando um «screen server» da Coca-Cola. Estes e-mails só servem para atrapalhar quem não percebe nada do assunto e para gerar tráfego na rede... e, já agora, para irritar a Coca-Cola.

A questão que se coloca é: como prevenir tudo isto? Remédios milagrosos não existem mas é importante fazer qualquer coisa. Há empresas especializadas que procuram informações sobre marcas, nomes, etc, na Internet.

As avenças são, geralmente, baixas e costumam encontrar muita coisa interessante sobre a sua empresa... O que será que se diz da sua organização e dos seus produtos? Quais as mensagens que são divulgadas com o nome da sua empresa? E as referências nos sites de defesa dos consumidores onde os cidadãos podem escrever o que muito bem lhes apetecer sobre os seus produtos?

Encare este assunto tranquilamente mas com seriedade. Estar informado sobre o que se passa é a melhor forma de combater os boatos no ciber espaço. Como já sabe, a informação propaga-se a uma velocidade que nunca vimos antes... demore o mesmo tempo a reagir, eliminando atrasos sucessivos provocados por aprovações que só impedem respostas rápidas e eficazes.

É que, enquanto você está a enviar um memorando interno para o Presidente, o e-mail «boato» já esteve na Alemanha, deu um passeio à Grécia e vai a caminho da Austrália!!!

Por Marta Lopes, directora de Marketing da E-Chiron

marta.lopes@ixis.pt

Artigo publicado no Jornal de Negócios – suplemento Negócios & Estratégia

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