Opinião
Finalmente, uma boa notícia!
Do ponto de vista financeiro a Three Gorges paga mais, assegura linhas de crédito em condições imbatíveis e quase que duplica a capacidade de investimento da EDP no Brasil. Ao todo, pelo menos 8,7 mil milhões de Euros entre 2011 e 2015!
Do ponto de vista financeiro a Three Gorges paga mais, assegura linhas de crédito em condições imbatíveis e quase que duplica a capacidade de investimento da EDP no Brasil. Ao todo, pelo menos 8,7 mil milhões de Euros entre 2011 e 2015!
Estava-se na fase final da negociação da venda da TAP. A "falecida" Swissair pretendia a consagração contratual de certas condições. Quem representava o Governo de então não se opunha, tinha pressa em fechar o contrato, já era tarde e, ainda por cima, sexta-feira. Mas o seu consultor insistia em que essas condições não fossem aceites.
O "chefe" da delegação, que gostava de coisas práticas e de reuniões rápidas, pediu um exemplo que justificasse tanta insistência. O consultor, com a cerimónia possível, deu-o com rapidez: "olhe, por exemplo e com o devido respeito, …se a Swissair for à falência!"
"Ó doutor, não complique!", atirou-lhe o "chefe", com a segurança de quem subiu na vida sem perder tempo com "casos académicos".
Vem isto a propósito da privatização da EDP.Nesta privatização, quem tinha o dever de "complicar, complicou", o Governo tratou do tema com intensidade, rapidez e competência e, goste-se ou não da venda ou do comprador, em seis meses e numa conjuntura económica e financeira adversa foi imaginada, organizada, negociada e concluída uma difícil operação de privatização.
Reconheço que a estatização da EDP a favor de Estado estrangeiro levanta questões que mereceriam ser discutidas, se existissem opções e o País não estivesse em estado de necessidade. Mas, infelizmente, exceptuando o norueguês, os fundos soberanos que andam às compras causam polémica quando a discussão se centra, na identidade e na natureza dos seus donos e não na sua capacidade financeira ou estratégia económica!
O grande concorrente da Three Gorges sempre foi a E.On, sobretudo a partir do momento em que a Electrobras resolveu, ao que dizem, viajar para Lisboa com escala em Madrid!
A E.On é uma grande empresa, é alemã e necessita desesperadamente de alternativas, fora da Alemanha, na área da energia renovável, pois foi a mais afectada pela decisão do Governo alemão de cancelar os projectos de expansão da energia nuclear. Além do mais, apesar de andarmos irritados com a Chanceler Merkel, o investimento alemão em Portugal é, de entre todo o investimento estrangeiro, o mais sólido, consistente e sustentável. Basta lembrar a Siemens e a Volkswagen!
A E.On apresentou uma boa proposta de preço, embora pagasse pouco em "cash" e muito em activos na Península Ibérica, alguns dos quais pouco atractivos.
Havia quem dissesse que a estratégia da E.On era a de " buy and hold", ou seja, controlar o crescimento da EDP, integra-la progressivamente, lançar uma OPA a prazo e transformá-la na E.On Portugal.
Julgo que a E.On só não ficou com a EDP porque do outro lado estava a proposta de uma grande empresa estatal Chinesa que era financeira e estrategicamente mais interessante.
Do ponto de vista financeiro, a Three Gorges paga mais, assegura linhas de crédito em condições imbatíveis e quase que duplica a capacidade de investimento da EDP no Brasil. Ao todo, pelo menos 8,7 mil milhões de euros entre 2011 e 2015! Se os alemães foram vítimas é porque estamos a falar de muito dinheiro!
Mas onde a proposta da Three Gorges provou ser verdadeiramente tentadora e imbatível foi nas contrapartidas estratégicas, directas e indirectas.
A Three Gorges necessita da EDP para se expandir internacionalmente, designadamente na Europa, no Brasil, no Canadá e nos EUA. Nesses países comparticipará até 49% nos investimentos já realizados ou a realizar, mantendo a EDP a maioria do capital. A EDP, porque tem passaporte e não precisa de visto, será a plataforma que a Three Gorges se compromete a utilizar nos seus investimentos a Ocidente.
A Three Gorges não tem expertise na energia eólica e a EDP é um dos líderes mundiais. Poderá criar em Portugal um centro de investigação e promover uma fábrica de geradores. Além disso, potencia o aproveitamento de toda a tecnologia e talento que a EDP adquiriu e formou durante anos e que está sediada em Lisboa e Madrid, sem risco de absorção no médio prazo.
A Three Gorges anunciou que queria manter a gestão, mesmo antes de consultar formalmente o Estado e os outros accionistas. Esse anúncio é bem revelador de que a Three Gorges não quer alterações súbitas e profundas, ouvirá sempre o Estado português como o verdadeiro parceiro institucional e quer manter uma relação tranquila com os accionistas detentores de participações qualificadas que representam, no seu conjunto, mais capital do que aquele que a Three Gorges adquiriu.
Com a Three Gorges virão os Bancos chineses (o China Development Bank, em primeiro lugar, a financiar a operação), atrás deles outros candidatos a comprar, ou iniciar, negócios em Portugal (banca, construção, indústria automóvel, portos, estaleiros, turismo) e, às empresas portuguesas será facilitado o acesso ao enorme mercado da crescente classe média chinesa.
Não é o ouro do Brasil, mas será um forte tónico para a economia portuguesa, para os empresários e para o Governo, no actual contexto político, económico e financeiro internacional.
A China terá lançado recentemente, no seu mar, o primeiro de uma série de porta-aviões. Em Portugal lançou o segundo, que fica estacionado no Atlântico Norte.
Advogado
mcb@mcb.com.pt
Assina esta coluna semanalmente à sexta-feira
Estava-se na fase final da negociação da venda da TAP. A "falecida" Swissair pretendia a consagração contratual de certas condições. Quem representava o Governo de então não se opunha, tinha pressa em fechar o contrato, já era tarde e, ainda por cima, sexta-feira. Mas o seu consultor insistia em que essas condições não fossem aceites.
"Ó doutor, não complique!", atirou-lhe o "chefe", com a segurança de quem subiu na vida sem perder tempo com "casos académicos".
Vem isto a propósito da privatização da EDP.Nesta privatização, quem tinha o dever de "complicar, complicou", o Governo tratou do tema com intensidade, rapidez e competência e, goste-se ou não da venda ou do comprador, em seis meses e numa conjuntura económica e financeira adversa foi imaginada, organizada, negociada e concluída uma difícil operação de privatização.
Reconheço que a estatização da EDP a favor de Estado estrangeiro levanta questões que mereceriam ser discutidas, se existissem opções e o País não estivesse em estado de necessidade. Mas, infelizmente, exceptuando o norueguês, os fundos soberanos que andam às compras causam polémica quando a discussão se centra, na identidade e na natureza dos seus donos e não na sua capacidade financeira ou estratégia económica!
O grande concorrente da Three Gorges sempre foi a E.On, sobretudo a partir do momento em que a Electrobras resolveu, ao que dizem, viajar para Lisboa com escala em Madrid!
A E.On é uma grande empresa, é alemã e necessita desesperadamente de alternativas, fora da Alemanha, na área da energia renovável, pois foi a mais afectada pela decisão do Governo alemão de cancelar os projectos de expansão da energia nuclear. Além do mais, apesar de andarmos irritados com a Chanceler Merkel, o investimento alemão em Portugal é, de entre todo o investimento estrangeiro, o mais sólido, consistente e sustentável. Basta lembrar a Siemens e a Volkswagen!
A E.On apresentou uma boa proposta de preço, embora pagasse pouco em "cash" e muito em activos na Península Ibérica, alguns dos quais pouco atractivos.
Havia quem dissesse que a estratégia da E.On era a de " buy and hold", ou seja, controlar o crescimento da EDP, integra-la progressivamente, lançar uma OPA a prazo e transformá-la na E.On Portugal.
Julgo que a E.On só não ficou com a EDP porque do outro lado estava a proposta de uma grande empresa estatal Chinesa que era financeira e estrategicamente mais interessante.
Do ponto de vista financeiro, a Three Gorges paga mais, assegura linhas de crédito em condições imbatíveis e quase que duplica a capacidade de investimento da EDP no Brasil. Ao todo, pelo menos 8,7 mil milhões de euros entre 2011 e 2015! Se os alemães foram vítimas é porque estamos a falar de muito dinheiro!
Mas onde a proposta da Three Gorges provou ser verdadeiramente tentadora e imbatível foi nas contrapartidas estratégicas, directas e indirectas.
A Three Gorges necessita da EDP para se expandir internacionalmente, designadamente na Europa, no Brasil, no Canadá e nos EUA. Nesses países comparticipará até 49% nos investimentos já realizados ou a realizar, mantendo a EDP a maioria do capital. A EDP, porque tem passaporte e não precisa de visto, será a plataforma que a Three Gorges se compromete a utilizar nos seus investimentos a Ocidente.
A Three Gorges não tem expertise na energia eólica e a EDP é um dos líderes mundiais. Poderá criar em Portugal um centro de investigação e promover uma fábrica de geradores. Além disso, potencia o aproveitamento de toda a tecnologia e talento que a EDP adquiriu e formou durante anos e que está sediada em Lisboa e Madrid, sem risco de absorção no médio prazo.
A Three Gorges anunciou que queria manter a gestão, mesmo antes de consultar formalmente o Estado e os outros accionistas. Esse anúncio é bem revelador de que a Three Gorges não quer alterações súbitas e profundas, ouvirá sempre o Estado português como o verdadeiro parceiro institucional e quer manter uma relação tranquila com os accionistas detentores de participações qualificadas que representam, no seu conjunto, mais capital do que aquele que a Three Gorges adquiriu.
Com a Three Gorges virão os Bancos chineses (o China Development Bank, em primeiro lugar, a financiar a operação), atrás deles outros candidatos a comprar, ou iniciar, negócios em Portugal (banca, construção, indústria automóvel, portos, estaleiros, turismo) e, às empresas portuguesas será facilitado o acesso ao enorme mercado da crescente classe média chinesa.
Não é o ouro do Brasil, mas será um forte tónico para a economia portuguesa, para os empresários e para o Governo, no actual contexto político, económico e financeiro internacional.
A China terá lançado recentemente, no seu mar, o primeiro de uma série de porta-aviões. Em Portugal lançou o segundo, que fica estacionado no Atlântico Norte.
Advogado
mcb@mcb.com.pt
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