Opinião
“Esta” classe empresarial
Com regular frequência, umas vezes de forma sub-reptícia, outras demaneira frontal, são lançadas sobre a classe empresarial portuguesaasmais fortes e graves acusações.
"A liberalização dos despedimentos, num país com uma classe empresarial como esta,era um risco que eu não correria." José Maria Ricciardi, Presidente do BES Investimento e relator das proposta para a Competitividade do Compromisso Portugal (Jornal de Negócios, 21/09/2006).
"Enquanto não houver desemprego de doutorados não haverá grande iniciativa na biotecnologia. Porque toda a gente se encosta num sítio ou noutro. Só quando já não puderem fazer isto é que assumirão riscos." António Coutinho, Director do Instituto Gulbenkian de Ciência (Portugal em Exame, 2006, revista Exame).
Com regular frequência, umas vezes de forma sub-reptícia, outras De maneira frontal, são lançadas sobre a classe empresarial portuguesa as mais fortes e graves acusações. Estas, admitem diversas graduações, desde a baixa qualidade e deficiente formação até às fortes acusações de intrínseca desonestidade. Estas últimas podem mesmo contemplar a afirmação descomplexada do seu carácter mafioso, como recentemente altos responsáveis políticos ousaram bramir.
A classe política, o mundo universitário, enfim quase toda a elite intelectual continua fiel à tradição nacional, vendo na classe empresarial perigosos agentes do mal que não se devem frequentar às claras. Até muitos membros da classe olham, com desconfiança, desprezo e grande receio, as dinâmicas que por vezes, apesar de tudo, criam movimentos de mobilidade social que afectamos equilíbrios na classe.
A percepção e apreciação negativa dos empresários teria pouca importância, não fora o facto de arrastar consigo obstáculos de monta à criação de condições essenciais ao desenvolvimento do empreendorismo no país. Na verdade, conforme estudos fundamentais têm revelado, e como muito bem refere o Prof. António Coutinho – ao contrário da concepção avançada pelo Dr. José Maria Ricciardi – (vejam-se as citações no início deste artigo) a estrutura flexível do mercado de trabalho é uma condição para o desenvolvimento da classe empresarial em quantidade e qualidade.
As condições do mercado de trabalho não são condicionadas ou limitadas pela qualidade dos empresários.
Este ponto deverá ser bem sublinhado: o problema da flexibilidade e de outras condições no mercado de trabalho tem sido abordado, quase sempre, no âmbito da relação entre a força de trabalho e os actuais empresários. Esta abordagem não esgota o impacto da estrutura do mercado de trabalho, tendo um interesse sobretudo no curto prazo.
Ora, esse é apenas um dos aspectos a considerar, porventura o menos interessante e importante para a criação de uma economia dinâmica produtora de empresários e de mobilidade social.
O facto de a questão do mercado de trabalho ter sido abordada da tão forma tradicional como foi na última reunião do Compromisso Portugal revela que, ao contrário do que se refere com insistência, o diagnóstico dos entraves ao crescimento da economia portuguesa não está completo.
A forma acrítica como o discurso acerca da sobredimensão do sector público tem vindo a reproduzir-se e os mil cuidados com que se aborda o problema do mercado de trabalho tem sido acompanhada pela ausência de reflexão sobre as condições e o impacto do desenvolvimento da empresarialidade.
Se a redução do sector público se verificar, como tudo indica que vai ocorrer, sem que se criemos necessários desequilíbrios criadores no mercado de trabalho e nas estruturas empresariais, os recursos poupados dificilmente se dirigirão para a criação de riqueza no país.
O conceito e a função do empresário são ainda muito mal compreendidos pelos mais insuspeitos e nos meios, aparentemente, mais surpreendentes.
Infelizmente, os empresários portugueses continuam, sem motivos objectivos, a ser mal amados e a serem remetidos para um estatuto social menorizado.
É verdade, em certa medida, são eles próprios que contribuem para essa situação através de autoflagelações incompreensíveis. Os empresários portugueses não têm que se lastimar nem que se envergonhar.
"Estes" empresários são o elemento humano, simultaneamente, mais valioso e mais raro. Reconhecer este facto no nosso país é ainda, tragicamente, um acto de coragem, que poucos assumem. Tomara o país que pelo menos alguns decisores políticos quisessem ter a coragem de integrar o grupo dos "poucos" a que se referiu um dia Winston Churchill com as seguintes palavras:
"Para alguns a empresa é um tigre predador que deve ser abatido. Outros olham para ela como a vaca que podem ordenhar. Só uns poucos a tomam pelo que realmente é: o forte cavalo que puxa sozinho a carroça". Winston Churchill.