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12 de Março de 2007 às 13:59

Emprego e Responsabilidade Social

Marcado pela inserção das economias no sistema mundial em termos globais e pela concomitante intensificação da competição internacional, o início deste século XXI ficará certamente associado à emergência de um período socioeconómico totalmente novo.

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A verdade é que vivemos na era da globalização, o que implica considerar uma profunda mudança de mentalidades. Se, no passado se confiava no imediato, no conhecido e no material, agora acontece o inverso: a evolução e a incerteza dos mercados, a concorrência e, nomeadamente, as recentes mutações económicas, tecnológicas e sociais, constituem factores envolventes de acrescida exigência para as organizações.

É neste contexto que a expressão "responsabilidade social" ganha, cada vez mais, assiduidade no discurso, designadamente de políticos, empresários, gestores, opinion makers, professores e sindicalistas.

Cientes de que as decisões de gestão influenciam quer o ambiente interno de uma organização, quer o ambiente externo envolvente, muitos são os que hoje pugnam pela existência de um "código de valores" que, de forma abrangente, contemple questões relativas à ética, à responsabilidade social e ao reconhecimento da cidadania na empresa.

A responsabilidade social – enquanto investimento estratégico – é já hoje, e para um grande número de organizações, uma opção central. Com a integração voluntária de preocupações sociais e ambientais na sua actividade, as empresas contribuem para a satisfação das necessidades dos seus clientes, gerindo simultaneamente as expectativas dos trabalhadores, dos fornecedores e da comunidade local, ou seja, dos stakeholders.

No que respeita, em particular, à relação da organização com os trabalhadores, o propósito de criar um ambiente propício ao desenvolvimento e à participação activa de todos nos projectos de gestão, criando condições para o desenvolvimento da confiança mútua, da participação, da responsabilidade partilhada pelos resultados da organização, fortalecem o conceito de cidadania organizacional.

No fundo, trata-se de adoptar uma abordagem inclusiva do ponto de vista financeiro e social, conducente a uma estratégia a longo prazo que minimize os riscos decorrentes da incerteza do mercado.

Mas a responsabilidade social pode ser implementada através de diversas formas. Desde logo, procurando motivar os trabalhadores através da aprendizagem ao longo da vida; de um tratamento justo e não discriminatório que siga critérios estritamente meritocráticos em termos de remuneração e de perspectivas de carreira; uma preocupação relativamente à empregabilidade e à segurança no emprego. Depois, diligenciando no sentido de reduzir a exploração de recursos, as emissões poluentes ou a produção de resíduos.

Ora, a abordagem deste tema torna-se tão mais premente na medida em que, um pouco pelo mundo inteiro, muitas empresas, sujeitas à pressão exercida pela globalização, implementam planos de reestruturação empresarial, quer suprimindo emprego, quer deslocalizando a sua actividade para destinos mais atractivos.

Veja-se o caso francês. Reagindo aos movimentos de deslocalização, tem sido transversal ao discurso político francês, da esquerda à direita, a ideia de que as empresas devem privilegiar uma faceta da responsabilidade social: a salvaguarda do emprego. Assim, criou-se no discurso político a ideia de que urge implementar nas organizações uma cultura de promoção dos valores da responsabilidade social. E esta ideia tem sido bem acolhida no meio empresarial. Por exemplo, em pleno crescimento – e já após a integração da austriaca VA Tech – o presidente da Siemens France, Philippe Carli, apelou publicamente à urgência de reconhecimento por parte dos poderes públicos de uma nova faceta da responsabilidade social das empresas, realçando que esta deve ser avaliada sobretudo pela capacidade de criar ou conservar emprego no seu país.

Também em Portugal, o desafio de aplicar os princípios da responsabilidade social e de asseverar uma verdadeira segurança dos percursos profissionais associada ao direito à formação para todos ao longo da vida, será parte da resposta aos desafios da globalização. Porque a afirmação da "responsabilidade social" deve passar pela preocupação com as pessoas e por uma cultura de antecipação que permita a prevenção de incertezas, urge sensibilizar a sociedade, em geral – e as empresas e organizações em particular – para os benefícios de uma gestão sustentável dos recursos.

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