Opinião
Empreendedorismo "infantil"
Na passada semana foi conhecida a “short list” das seis empresas nacionais que participarão na última etapa do prémio “Ernst & Young Entrepreneur of the year 2007”. Este prémio, que já destacou alguns “campeões mundiais” da inovação como o Cirque du Solei
Richard Branson no seu livro “Lições de Vida” deixa um conselho interessante que chocará os mais conservadores – “se optar por uma vida segura, nunca provará o sabor da vitória”. Steve Jobs num discurso que fez em Stanford afirmou que uma das melhores coisas que lhe tinha acontecido na vida foi ter sido despedido da Apple em 1985. Frases pouco convencionais de pessoas invulgares. Jobs e Branson têm em comum um conjunto de características que os distingue do homem vulgar – são optimistas por natureza, recusam o “status quo”, procuram fazer o que ainda ninguém fez e como consequência arriscam como ninguém. Este conjunto de características, onde se destaca a predisposição para o risco poderá ser a combinação explosiva para o empreendedorismo.
Quando pensamos na Martifer ou na Logoplaste, duas das empresas presentes na referida “short list”, não podemos deixar de associar o sucesso destes dois projectos ao activismo dos seus dirigentes. Quer os irmãos Martins, quer a dupla Filipe de Botton e Alexandre Relvas são reconhecidos como exemplos nacionais de empreendedorismo. Talvez seja o “mindset” de Branson e Jobs que ilumina alguns dos destacados empreendedores portugueses, mas infelizmente ainda há pouco quem ouse arriscar para ousar vencer.
Como criar alavancas para o empreendedorismo?
Os programas de apoio ao empreendedorismo têm-se multiplicado nos últimos anos. Do capital de risco ao apoio administrativo, passando pelo modelo das incubadoras, de tudo um pouco se tem visto. Com mais ou menos sucesso, estes programas têm uma característica comum, nenhum vem solucionar o problema estrutural do empreendedorismo – a inexistência de um “mindset” Branson/Jobs. Se pensarmos que os grandes empreendedores na sua história procuraram formas criativas para solucionar o problema dos recursos, percebemos que não é a falta destes apoios que condiciona a actividade de “um empreendedor” – Jobs começou na garagem dos seus pais e tenho dúvidas que hoje tivesse procurado uma incubadora de empresas para lançar o seu projecto.
A criação de novos quadros de referência nos mais jovens pode ser a alavanca chave do empreendedorismo. O projecto desenvolvido pela Associação Aprender a Empreender, congénere portuguesa da conceituada organização americana Junior Achievement, está a ajudar a construir mentalidades empreendedoras em Portugal. Através de um programa de voluntariado a Aprender a Empreender leva às crianças da escola do 1º ciclo um conjunto de ideias e experiências que estimulam o espírito criativo e introduzem conceitos elementares de negócio. Esta actividade, por via do elevado impacto que produz nas construções mentais dos jovens desta idade, promete uma nova geração de empreendedores. A exposição a exercícios relacionados com a construção de um negócio e com algumas variáveis que fazem a envolvente contextual é uma forma de “semear” o mindset Branson/Jobs.
Levar empreendedorismo à escola nas diferentes etapas da vida dos jovens é uma acção estratégica para o país. A intervenção conjunta de organizações privadas, Ministério da Economia e Ministério da Educação pode criar condições para alargar este tipo de iniciativas e apostar em alavancas mais estruturantes do empreendedorismo que até ao momento têm sido pouco exploradas.