Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
15 de Outubro de 2007 às 13:59

Dos Açores, com amor

Nada melhor, para uns largos minutos de fama, do que ser-se visitado pelo PR. E nada melhor, para manter os holofotes, do que condimentar a recepção com umas quantas frases que ficam. O problema reside, apenas, em que umas ficam pelas boas razões denuncia

  • ...

O presidente do governo regional dos Açores disse, alto e bom som, o que poucos ousam dizer. Que o país é governado “por um subsistema de directores-gerais”. A frase seria letal para o governo nacional se o governo se importasse com isso. Como não se importa, assobiou para o lado e puxará as orelhas em devido tempo ao autor do dito.  A verdade dói e ninguém gosta de ouvir as dores. O facto é que, certeiramente, uma seta veio do meio do Atlântico e cravou-se em Lisboa. Teoricamente, os directores-gerais não fazem política. Teoricamente, gerem o que têm a gerir, mandam no que têm a mandar, seguem o fio dos dias. Teoricamente, arrumam o tempo e o espaço dos assuntos todos em geral e de cada assunto em particular. Teoricamente são a “longa manus” do ministro respectivo.

Mas na prática não fazem outra coisa senão política. Não é uma política visível, deixada para os políticos propriamente ditos, nas suas condições de ministros ou de “ajudantes”. Mas é a verdadeira política, por fazerem marchar um assunto à frente do outro, por o fazerem descansar numa gaveta ou por o tratarem em conjunto com outros ou separadamente. Quando este poder se torna demasiado grande, este é o verdadeiro poder. Ao político propriamente dito cabe um papel de representação, sem um real poder, depositado nas mãos dos directores-gerais ou por estes avocado. O sistema político vira, assim, sistema de directores-gerais. Isto, já de si, é suficientemente mau. O pior, contudo, é que o mal generalizou-se. Nos ministérios, nas secretarias de Estado e nos institutos públicos e afins. Assiste-se hoje, nestas instituições, a um poder desmesurado depositado nas mãos de funcionários que estão longe da pertença à primeira linha das qualidades profissionais e humanas. Eles cortam, eles vetam de gaveta, eles bloqueiam “dossiers” inteiros. Exercem a burocracia compulsiva com um zelo que se alimenta de todos os expedientes processuais à mão de semear. Vai-se ao presidente ou ao vice-presidente e eles não sabem (de) nada. Mas vai-se aos “soldados-funcionários” e, como com os vampiros da canção de combate, eles sabem tudo. E comem tudo. A consequência imediata e visível é a de que andam certos assuntos e param outros.

Mas a consequência mais profunda é a de que, quando é preciso proteger a casa do caruncho se verifica que o caruncho convive, alegremente, dentro de casa. Bem podem o PR, com destinatário anunciado, ou o PM, em causa própria, falar de metas na educação, na saúde ou na administração pública. As metas serão o que o caruncho quiser que sejam.

Mas o Presidente (do governo) dos Açores pareceu querer ganhar ainda mais protagonismo com o renascer da propalada “guerra das bandeiras”. A mesma solenidade e as mesmas honrarias, em estrita igualdade, para a bandeira nacional e para a bandeira dos Açores. Não sei se é para levar muito a sério e se o próprio presidente regional leva a ideia a sério. Mas fica o registo, ainda que mais ou menos escondido, consultável, de quem levou mesmo a ideia a sério:

“Oh Bandeira Regional, só o teu povo te ama, quem te critica afinal, são vozes vindas da lama”. E, num registo, de inolvidável fulgor: “Triunfando açorianismo, nas terras onde o civismo, há muito se instalou, em prol dos nossos valores, cesse quanto a musa canta, uma vez que nos Açores, outro poder se alevanta”.  É brincadeira, não é?

Post-scriptum. “ Em Espanha, o OE acolheu a gratuitidade da vacina contra o cancro do colo do útero e das consultas dos dentistas para as crianças. Sociedades desenvolvidas são assim.

Mais artigos do Autor
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio