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06 de Agosto de 2007 às 13:59

Cultura e turismo (1)

Num mundo globalizado, em que a cultura e as artes têm já – e terão cada vez mais – um papel decisivo e insubstituível na afirmação da competitividade dos países, é do interesse de cada Estado criar mais oportunidades de oferta cultural.

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Esta é uma aposta que – além de traduzir um esforço de qualificação dos cidadãos – dinamiza os territórios, os sectores da cultura e do turismo, a distribuição e a comercialização, robustecendo a economia de cada país.

Também é sabido que o reforço de investimento no sector do turismo implica planear a captação de turistas, isto é, saber atrair determinado tipo de clientela e, sobretudo, condicionar essa atractividade.

Por esta razão, Governos e poder local procuram, um pouco por todo o mundo, “apostar” naquilo que consideram um bom investimento a longo prazo: a oferta cultural. Por exemplo, cidades fortemente posicionadas nos rankings internacionais de turismo, como Barcelona, não cessam de investir nesta área. De 2002 a 2006, nesta cidade foram investidos 1,6 milhões de euros em arte pública. De realçar que o critério de selecção dos projectos culturais envolveu a participação de toda a comunidade: desde associações, a particulares, passando por arquitectos, artistas, ou mesmo a própria comissão responsável pelo conjunto de decisões de investimento que sempre considerou relevante a multiplicidade de contributos no sentido de “melhorar o ambiente urbano”.

Ora é neste contexto que importa também pensar o turismo nacional.

Portugal – país que apresenta inúmeras debilidades na oferta cultural –, e por razões que se prendem com o seu posicionamento periférico e reduzida dimensão territorial, tem interesse em atrair, sobretudo, um turismo que não seja massificado. Mas os turistas com um forte poder de compra são mais exigentes na qualidade dos serviços e procuram nos destinos eleitos maior diversidade de oferta cultural.   

Ciente de que para o país o reforço da aposta em sectores estratégicos da economia – como é o caso do turismo – revelar-se-á, a médio prazo, um excelente investimento económico, o actual executivo tem – desde Dezembro de 2005, altura em que foi apresentado o Plano Estratégico Nacional para o Turismo (PENT) – procurado criar em Portugal uma “cultura nacional de turismo” apoiada em cinco eixos fundamentais: territórios, destinos e produtos; marcas e mercados; qualificação dos recursos; distribuição e comercialização; inovação e conhecimento.

Contudo, é imprescindível que esta aposta implique um entendimento de políticas estáveis ao longo do tempo. Como noutras áreas da vida pública portuguesa, também nesta matéria as políticas não podem ser descontinuadas, pois é necessário criar hábitos e construir imagens que perdurem.

E é exactamente esse o objectivo do “programa Allgarve” lançado este ano. Esta iniciativa – suportada por um investimento de 3 milhões de euros dirigido à prossecução de um conjunto de actividades e à sua divulgação nacional e internacional – visa passar a imagem de que a região turística do Algarve vai além do mar e sol, associando-a ainda à cultura e à organização de eventos e congressos. Trata-se de “ampliar” a tradicional imagem desta região turística e, procurando olhá-la de forma transversal, salientar que a cultura, os negócios e os congressos são também formas de atrair portugueses e estrangeiros para o Algarve.

Daí que a “agenda cultural” para o Algarve este Verão esteja enriquecida. Além dos seus habituais acontecimentos desportivos e populares, uma outra agenda de exposições de arte contemporânea (por exemplo, a “Serralves no Allgarve”, com uma série de exposições e serviço de visitas guiadas, nas quais apresentará obras da sua Colecção nos espaços da antiga Fábrica da Cerveja, em Faro, do antigo Convento de Santo António, em Loulé e do Centro Cultural de Lagos) e de concertos de música jazz, pop e clássica animam, até ao final de Setembro, o Algarve. A ideia de se afectarem praças e auditórios – mas também outros espaços como o green de alguns campos de golfe da região – em eventos em horário pós-praia, incluindo as exposições (algumas abertas até à meia-noite) é, sem dúvida, uma forma de estimular uma nova imagem para o turismo em Portugal e, em particular, para o mais procurado destino de Verão do país.

E, uma vez que possibilita benefícios recíprocos para o meio artístico português (contribuindo para a divulgação e reconhecimento internacional da arte portuguesa), assim como para um contexto económico (valorizando a multiplicidade de opções que o Algarve pode oferecer, enquanto destino turístico) este investimento é já verdadeiramente bem sucedido.

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