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08 de Agosto de 2002 às 16:15

Comunicações móveis: a próxima etapa

Uma lição clara que retiramos da Internet por rede fixa é que não existe negócio até ser recebido o valor relativo aos produtos e serviços vendidos. Paula Adrião

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Antevê-se que num futuro próximo as comunicações móveis permitam criar novos modelos de negócio orientados, sobretudo, a «life services» – serviços de suporte às actividades pessoais (e profissionais).

Contudo, existe ainda um longo caminho a percorrer para atingir esta nova etapa. Assim, ao analisarmos a utilização de Internet (e aplicações móveis) a nível mundial, podemos observar, através de uma pesquisa realizada em 2001 pela Accenture a um vasto conjunto de utilizadores de vários mercados (ver tabela). Esta mesma pesquisa permite-nos também concluir que existe actualmente, muito pouco do que queremos chamar “comércio móvel”. Do universo inquirido, uma grande percentagem dos indivíduos percepciona o telemóvel como elemento de apoio à sua actividade profissional, e não como meio de suporte a actividades pessoais, à excepção de comunicações.

Os utilizadores inquiridos afirmam também que a mobilidade veio para ficar e que se disponível, utilizariam uma maior capacidade de transmissão de dados, mas provavelmente não correspondente ao formato actual. Em sua opinião, o futuro das comunicações móveis de dados residirá provavelmente em algumas aplicações – relevantes, de elevada conveniência e que acrescentarão valor real à sua vida quotidiana.

Com o objectivo de desenvolver as aplicações para o mercado móvel, cujos contornos nos permitem adivinhar para um futuro próximo uma «harmonia» entre dados e voz, os principais intervenientes dos mercados internacionais estão a concentrar-se em três estratégias principais. Em primeiro lugar, criar «familiaridade» com o cliente (para fomentar a utilização). Na generalidade, as pessoas não adquirem equipamentos que não utilizam com frequência. E necessitam de uma razão pessoal ou profissional forte para o fazer. A primeira «killer application» que surgiu foi um simples programa para comunicação – o «e-mail».

Para identificar esta «razão de utilização» é necessário que a experiência de contacto com o cliente seja mais próxima e transparente, o que pode acontecer de várias formas. Uma delas é relacionar os novos serviços com a definição de quem são os utilizadores em vez do que fazem. Estes mercados são criados (à semelhança de outros) por serviços que traduzem uma forma de expressão própria dos indivíduos. Outra forma é nivelar as capacidades oferecidas na nova tecnologia. Anteriormente, verificámos que a simples transmissão de texto era e é uma forma muito apetecida de comunicação. Associar entretenimento à conveniência pode também ser uma alternativa. Especialmente quando passamos para o campo de utilização pessoal. Ou facilitar o relacionamento. Quando um cliente aderir aos novos serviços, vai necessitar de mais do que um equipamento e um tarifário. Os serviços de apoio ao cliente vão adquirir uma relevância acrescida.

Utilizar os serviços de localização e o momento como factores chave

Numa sociedade consumo moderna muito poucas aquisições são efectuadas exclusivamente por necessidade. Se o conhecimento dos clientes (ou potenciais clientes) que as tecnologias permitem, nos possibilitarem determinar o momento em que existe receptividade à aquisição – e a abordagem efectuada incluir a mensagem apropriada, a probabilidade de venda será bastante mais elevada.

Também é preciso garantir a transacção, e uma lição clara que retiramos da Internet por rede fixa é que não existe negócio até ser recebido o valor relativo aos produtos e serviços vendidos. Tornar a transacção praticável através de aplicações como «wireless credit cards» ou outras, será vital para este tipo de equipamentos, em que a atenção dada a estas operações é reduzida mas necessita, tal como anteriormente, de grandes níveis de segurança.

Estas estratégias visam estabelecer a mobilidade como palavra chave para abrir um mundo diferente, um futuro a que chamamos «uCommerce» e onde irá residir o verdadeiro poder da tecnologia «wireless». As empresas que abraçarem uma visão em que a interacção social e económica é ubíqua, vão mudar a sua maneira de operar, não para melhorar os actuais constrangimentos mas para alcançar oportunidades futuras extraordinárias.

As aplicações que se seguem, «life services» ou outras de âmbito profissional que permitam alavancar receitas no segmento de «mass-market» e de uma forma geral o «uCommerce», não prometem uma caminhada sem sobressaltos. Iremos a breve trecho enfrentar mudanças cruciais, de riscos superiores aos conhecidos, mas de uma recompensa proporcional aos riscos. As oportunidades que nos aguardam no futuro «uCommerce» serão enormes. Um só mercado, muitos meios de acesso, desde qualquer localização, em qualquer momento.

O que é que é necessário para ganharmos a nossa parte? - A coragem de enfrentar grandes riscos, as pessoas que criem o melhor interface, e a visão para definir o mundo tal como ele será.

Tabela: Utilização de Internet (e aplicações móveis) a nível mundial.  

·        Apenas 15% de todos os inquiridos afirmam aceder à Internet através de um equipamento «wireless»;

·        Na Alemanha, apenas 16% dos inquiridos já utilizaram estes equipamentos para acesso à Internet;

·        No Reino Unido apenas 10%;

·        Nos EUA e na Finlândia apenas 6%;

·        O número correspondente no Japão é de 72% (e os japoneses representam cerca de 75% dos cerca de 40 milhões de utilizadores de Internet móvel/aplicações móveis em todo o mundo).

Paula Adrião

Partner da Accenture

Comentários para autor e editor para negocios&estrategia@mediafin.pt

Artigo publicado no Jornal de Negócios – suplemento Negócios & Estratégia

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