Opinião
Chuva de milhões para a indústria cinematográfica
A guerra das audiências entre produções americanas e europeias continua, apesar de todo o apoio que tem sido dado ao longo destes dezasseis anos no sentido de esta se tornar mais competitiva.
Com efeito, metade dos filmes europeus que são vistos nas salas de cinema são apoiados pela Comissão Europeia, a qual todos os anos financia cerca de 300 novos projectos de filmes europeus.
Só no período entre 2001 a 2006, foram dados 500 milhões de euros para 8000 projectos, tudo através do programa Media que esta semana apresentou nova edição, com um envelope de 755 milhões de euros, na tentativa de estimular a indústria cinematográfica europeia.
Esta chuva de milhões não tem apenas por objectivo reforçar a competitividade e aumentar a quota de mercado, mas visa também promover os valores europeus, designadamente em matéria de respeito da dignidade humana, de igualdade entre homens e mulheres e de combate a todas as formas de discriminação e exclusão, incluindo o racismo e a xenofobia. Foi, igualmente, reconhecido que as indústrias de conteúdos são geradoras de valor acrescentado até porque exploram e colocam em rede a diversidade europeia.
Porém, para aqueles que são candidatos ao programa Media 2007, fica desde já o alerta de que as principais prioridades a serem apoiadas vão ser, a montante, a aquisição e aperfeiçoamento de competências no domínio audiovisual e, a jusante, a distribuição, a exibição em salas de cinema e a promoção dos audiovisuais europeus.
Igualmente, a utilização da tecnologia e dos serviços digitais será apoiada, no sentido de tentar resolver a fragmentação do mercado europeu, que não se caracteriza exactamente por ter qualquer semelhança com a máquina imparável e imbatível da indústria de Hollywood, que consegue proezas não só devido aos fluxos financeiros, mas, igualmente às economias de escala. De resto, aqui a Europa ainda não aprendeu a lição de que precisa de se unir, neste domínio, como única forma de resolver a falta de dimensão, mas também de interesse por parte do seu público-alvo.
Por outro lado, o grosso do bolo financeiro no valor de 55% vai para a distribuição, seguida de 20% para o desenvolvimento de projectos individuais, catálogos, novos talentos e co-produções, 9%, nomeadamente, para o acesso ao mercado, festivais, e eventos comuns, 7% para a formação em técnicas de escrita, de argumentos, gestão económica e financeira e tecnologias digitais. Finalmente, 5% são destinados a acções horizontais que visam facilitar o acesso das PME ao financiamento e os 4% restantes são atribuídos a projectos-piloto.
Aliás, as questões financeiras são não só importantes como definitivas, a ponto de se ter detectado que um dos principais obstáculos em termos concorrenciais é a falta quase total de empresas especializadas no financiamento de empréstimos ao sector audiovisual em toda a União.
Apesar de tudo, este apoio financeiro à indústria cinematográfica tem tido um forte efeito multiplicador no sector tendo, até agora, cada euro gerado cerca de seis de investimento por parte dos privados.
Falta, igualmente, algo que nenhum fundo comunitário, linha de crédito ou financiamento pode resolver que é o aspecto comercial desta indústria. Se queremos ser competitivos com o outro lado do Atlântico temos que ter produções vendáveis, o que não significa, antes pelo contrário, necessariamente falta de qualidade.
É preciso, sobretudo, que não se assista como em Portugal, há alguns anos, a situações tristemente célebres como a do filme Branca de Neve que, no mínimo, deu um panorama bem negro de um certo cinema português.