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Campanha covarde

Não aprendem. Uma campanha inteira, pré-campanha longuíssima, e os milhares de candidatos a presidentes de câmara e da junta, a vereadores, a deputados municipais, todos passaram ao lado da crise. É como se o poder local pairasse sobre a desgraça nacional

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Não aprendem. Uma campanha inteira, pré-campanha longuíssima, e os milhares de candidatos a presidentes de câmara e da junta, a vereadores, a deputados municipais, todos passaram ao lado da crise. É como se o poder local pairasse sobre a desgraça nacional. Da esquerda à direita, nada de desagradável para o eleitor foi sequer aflorado.

Nenhum dos temas difíceis, mas absolutamente incontornáveis nos próximos quatro anos, foi verdadeiramente debatido. Nada!

Não faltaram, essas nunca faltam, promessas populistas: do jardim por bairro ao taxi gratuito. Promessas e críticas. Sempre muitas. Nem é isto que revolta. Faz parte... O que a sociedade portuguesa não devia tolerar é esta fuga contínua aos problemas.

Estas campanhas covardes, onde a nossa política insiste em refugiar-se na mentira. Na táctica do encobrimento, como Marques Mendes não parou de denunciar.

É algo que acabámos de ver, escassos meses antes, nas últimas legislativas – e deu no que deu. A maratona de banalidades que encobriam as medidas inevitáveis. Depois o choque com a realidade, um Governo a dar o dito por não dito, cheio de vergonha, enfim, precocemente fragilizado.

Em tempos de crise, a mentira tem perna curta. E não aprendem que ela é contraproducente. Uma classe inteira cava a sua própria sepultura quando, repetidamente, a cada acto eleitoral, anuncia algo, sabendo que irá fazer o contrário.

O líder do PSD exigia, por isso, que Sócrates não escondesse o "pacotão" orçamental. O primeiro-ministro disse que Mendes estava enganado nas eleições. Eram locais. Correcto!

Estavam, portanto, em cumplicidade, ambos a esconder um outro "pacotão", o autárquico. Aquele que, depois destas eleições, irá novamente surpreender os eleitores com as "más novidades".

Durante toda esta semana, sem pretensiosismo, o Jornal de Negócios quis dar o seu contributo. Dezenas de trabalhos de campo, estudos e de relatórios foram relidos. Dezenas de especialistas foram ouvidos. Centenas de artigos foram recuperados.

Centrados nos grandes problemas das grandes cidades, os nossos jornalistas foram confrontados com diversas inevitabilidades.

A mobilidade. Mexe com os transportes e com o custo de acesso. A crise energética é sobretudo uma crise de combustíveis. Os transportes são a maior fonte de consumo de petróleo e uma das principais origens da nossa ineficiência energética. O transporte privado vai ser fiscalmente ainda mais penalizado. Quem falou nisso?

O financiamento e a fonte de recursos. Mexe com as finanças públicas. Mas também com o ordenamento do território. A construção e o turismo são a maior fonte de receitas próprias municipais. O que tem de acabar, sob pena de destruir o turismo e acabar com a economia do concelho. As taxas municipais vão, obviamente, aumentar. Alguém tocou no assunto? Nem no fim de freguesias, na fusão de concelhos, que são demasiados, alguns ridículos. A base da competitividade do país está na competitividade das cidades.

Os autarcas fingem que isso não depende deles. E os eleitores ainda não perceberam que o problema é nosso.

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