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12 de Fevereiro de 2003 às 12:13

Bébés wireless

Acabou-se a entrega de bébés pelas cegonhas. Motivo: contenção de custos de transporte e aumento da eficácia. Os bébés passaram a chegar por SMS!!!

Marta Lopes, e-Chiron

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No último ano, soube do nascimento dos filhos dos meus amigos por SMS («Short Message Service»). Passou a fazer parte da «To Do List» de qualquer mulher grávida, antes de ir para a maternidade, a relação dos telemóveis dos amigos e familiares que o pai deve avisar quando a criança nascer.

Acabou-se a entrega de bébés pelas cegonhas. Motivo: contenção de custos de transporte e aumento da eficácia. Os bébés passaram a chegar por SMS!!!

Os números que a Anacom – Autoridade Nacional de Comunicações transmite periodicamente sobre telemóveis em Portugal são impressionantes: 8,347 milhões de assinantes no terceiro trimestre de 2002.

Qualquer dia Portugal será conhecido por ter mais telemóveis do que pessoas...

As vantagens deste pequeno aparelho são inúmeras e inquestionáveis. Fazem parte da nossa vida e já se transformaram num objecto de culto. Quando nos esquecemos dele em algum lugar, passamos o dia inteiro desorientados.

As desvantagens também são evidentes mas a diminuição do tempo de utilização das baterias (?) e a falta de rede em alguns lugares estratégicos, ainda nos permitem alguma privacidade. No entanto, a bem dizer, esta história do «roaming» faz com que os locais incontactáveis passem a ser uma raridade e este benefício começará a assumir lugar de destaque nas novas campanhas publicitárias de turismo: Burkina Faso – um Paraíso sem Telemóveis!

Confesso que há locais onde os toques, sejam eles polifónicos (palavra que ainda não consta dos dicionários...) ou não, irritam qualquer criatura viva neste planeta. Só para rematar, mais em jeito de desabafo, aqui ficam alguns exemplos: no ginásio, no cinema (já assistiu a uma conversa do seu vizinho do lado enquanto estava a ver um filme, não é verdade?), num recital ou num teatro, na missa, numa conferência de imprensa onde a Ministra das Finanças anuncia o perdão fiscal dos juros, numa prova de matemática para acesso à universidade, entre outros.

O mais espantoso de tudo é o recente fenómeno das mensagens escritas por telemóveis, denominado SMS, com as mesmas qualidades do totoloto: é fácil, é barato e dá milhões (aos operadores)! Chegou sem avisar... ao contrário do WAP – Wireless Application Protocol – que conseguiu mover milhões em investigação e em publicidade, prometendo o acesso à Internet através do telemóvel mas que teima em tornar-se uma realidade...

O SMS é um serviço de troca de mensagens de texto até 160 caracteres e que está disponível na maior parte dos telemóveis. Não implica uma ligação permanente à rede (como é o caso do WAP enquanto navega num «site») e a um custo extremamente atractivo. É a estrela do momento! No Natal, entre o dia 24 e 25 de Dezembro, foram enviadas 50 milhões de mensagens: 26 pelos clientes da TMN, 16 pelos da Vodafone e nove pelos da Optimus. As primeiras duas empresas registaram aumentos de 50% face ao ano anterior enquanto a terceira obteve um crescimento de 30%.

Na noite da consoada, confesso que o meu telemóvel não parou de tocar... o aviso de recepção de mensagens foi de tal modo irritante que decidi manter a caixa postal cheia até dois dias depois... Recebi um monte de asteriscos a imitar árvores de Natal, algumas piadinhas alusivas à quadra natalícia e um monte de mensagens iguais, tipificadas, repetidas para mim e para outros tantos que tinham o número na memória do telemóvel do emissor...

Fiz boicote: não mandei mensagens a ninguém e limitei-me a alguns telefonemas breves, aproveitando para desabafar sobre a quantidade interminável de mensagens, resvalando entre-dentes: «Por que é que não me ligaste?» A resposta do outro lado foi sempre a mesma e inequívoca: «As mensagens dão imeeeeeenso jeito e despachamos as Boas Festas num instante!»

Como se desejar um Feliz Natal fosse sempre a «aviar»... A versão mais surreal do SMS são os nascimentos. Certamente já recebeu uma mensagem do tipo: «Nasceu o Afonso Tomás, 3,2 quilos, lindo como a mãe, inteligente como o pai. Estamos todos bem de saúde.» E assim ficamos sensíveis ao desemprego das cegonhas, ultrapassadas pelas novas tecnologias. Claro que, ao receber uma mensagem assim, esperamos sempre que o número não seja privado... para podermos retribuir aos babosos pais, também por SMS, «Felicidades!».

Como não poderia deixar de ser, os «marketeiros» andam por aí e já começaram a utilizar esta nova ferramenta. A maior parte dos bancos já disponibiliza o serviço SMS para a consulta de saldos, pagamento de serviços, transferências para outros bancos, entre outros. Por exemplo, o BCP anunciava no Jornal de Negócios, em Novembro de 2002, que o portal da internet do BCP – www.cidadebcp.pt –, tinha registado mais de 100 mil clientes no serviço de SMS.

O BES, através do Besnet, já tem o SMS associado a transferências superiores a um determinado valor, transformando o envio de mensagem num segundo nível de segurança, em que o código final da transferência chega ao utilizador por telemóvel.

As televisões encontraram uma mina nas mensagens. Ao colocar nos rodapés de serviços noticiosos ou em determinados programas, votações sobre temas polémicos, na ordem do dia ou só por «dá cá alguns euros» (como é o caso de perguntas do tipo «Quem vai ganhar o próximo derby?» Sporting – 9080 Benfica – 8090). Uma espécie de televisão interactiva em versão «soft».

Uma notícia impressionante divulgada no site www.telemoveis.com sobre a utilização do SMS pelo Marketing, diz respeito a um concurso lançado pela Coca-Cola na China que consistia em tentar adivinhar a temperatura máxima em Pequim, todos os dias, durante 34 dias. Para motivar os participantes, estes recebiam, diariamente, também por SMS, as temperaturas máximas registadas nos dias anteriores. A única publicidade do concurso surgiu, em rodapé, durante os anúncios televisivos da marca. A adesão, segundo a empresa, ultrapassou todas as expectativas: foram trocadas mais de quatro milhões de SMS e descarregados mais de 50 mil toques com o «jingle» da campanha!!!!

Os mais jovens já adoptaram o SMS, inventaram uma linguagem própria e trocam mensagens diariamente. Subscrevem serviços de anedotas, recebem as notas dos colégios e as últimas novidades da PlayStation 2. São o público-alvo mais receptivo a campanhas de publicidade através de SMS e o grupo que está disposto a «validar» este novo meio de comunicação entre as empresas e os seus potenciais clientes.

Na verdade, o SMS é um excelente meio para o emissor mas pode ser terrível para o receptor. Tal como no e-mail, quando utilizado abusivamente, pode ter um efeito contrário ao desejado. Recomenda-se moderação e imaginação.

Marta Lopes

Directora de marketing da e-Chiron

Artigo publicado no Jornal de Negócios

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