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03 de Maio de 2007 às 13:59

As contas do CCB

Como assíduos e passionatos da saudosa Festa da Música, sentimos um arrepio na espinha ao ouvirmos o Presidente do CCB, em jeito de balanço aos recentes Dias da Música, anunciar, todo contente, que quase todos os bilhetes tinham sido vendidos e que o orça

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Como assíduos e passionatos da saudosa Festa da Música, sentimos um arrepio na espinha ao ouvirmos o Presidente do CCB, em jeito de balanço aos recentes Dias da Música, anunciar, todo contente, que quase todos os bilhetes tinham sido vendidos e que o orçamento total do evento, impostos incluídos, não ultrapassara os €600 mil, afinal metade do que custara a Festa em 2006. Mais: Mega Ferreira assegurava que nunca mais responderia a perguntas sobre a Festa da Música, dando-a assim por morta e enterrada.

O Presidente do CCB está no seu pleno direito e até merecerá o nosso aplauso por ter conseguido promover um evento de qualidade num espaço mínimo de tempo e com meios mais reduzidos. Agora o que não é lícito é compararmos o incomparável. O que não entendo nem aceito, como empresário e melómano, é assistirmos ao despesismo e desperdício de um Estado gastador em causas menores ou perdidas, e depois rendermo-nos, capitularmos, perante a indisponibilidade oficial de avançar com a verba necessária para manter a Festa da Música e tudo o que ela representa em termos de promoção cultural num País tão carecido de alimento para o espírito. Afinal, soubemos agora, o ajuste entre os "Dias" e a "Festa" queda-se pelos €600 mil?

Convirá não esquecer que entre um e outro eventos se assistiu a uma redução do número de concertos de 155 para 66, e, seguramente, para quem esteve presente nos últimos anos, não fazem qualquer sentido afirmações mais descabeladas, tais como haver "barrigadas de concertos" e "atropelos de pessoas" em correrias de umas salas para as outras!

Inesquecíveis concertos e uma alegria transbordante foram sempre marcas que testemunhámos no repertório da competente equipa de René Martin, a mesma que em Nantes continua a deliciar os franceses (ver http://www.nantes.fr/detente/culture/art488.asp). E nem estaríamos para aqui a prosar sobre o tema se fossem claramente perceptíveis as razões da mudança de estratégia a que assistimos no CCB.

Desde logo importará saber por que motivo se reduziu o preço dos bilhetes? Isto porque quem gosta de um bom espectáculo paga para o ver. Seja no futebol ou na música, o que importa é que o espectáculo seja de qualidade assegurada.

No fim-de-semana dos Dias da Música ficámos pelo Grande Auditório, onde assistimos a nove excelentes concertos. Tudo bem, mas ninguém conseguiu esquecer os dias da Festa da Música. Por mais que o Presidente do CCB não queira ouvir falar do assunto, por mais que se tente iludir as pessoas com afirmações a despropósito, a verdade é que a afluência de público caiu a pique, os parques de estacionamento não tinham filas para pagar, as livrarias estavam vazias e não havia CD´s dos intervenientes (incrível ou os artistas não têm gravações?). Até os restaurantes estavam às moscas, porque no sábado, para poupar na contabilidade, o programa só se iniciava pelas 14 horas!

E é também aqui que bate o ponto. Na concepção e gestão de um espectáculo com as dimensões dos Dias da Música ou da Festa da Música, para além da programação importa cuidar do sucesso de aspectos envolventes como o turismo, a hotelaria, a restauração, o merchandising, etc.

A verdade é que os interesses dos espectadores oriundos de fora de Lisboa foram completamente ignorados. Parece que passámos de uma Festa internacional para uns Dias locais, tudo isto num País onde a música clássica e a cultura em geral continuam, infelizmente, a ser tratadas com gritante incompetência, talvez porque a vertente da Ética e dos Valores é quase sempre derrotada pelos clientelismos de toda a ordem.

Morreu a Festa da Música, vivam os Dias da Música. Mas fica o amargo de boca de quem está cansado de ver sempre os nivelamentos por baixo. De quem pressente que, com mais bom senso e sentido de Estado na aplicação dos dinheiros públicos, seria possível manter a Festa e garantir o mais precioso retorno de qualquer investimento: a promoção cultural de um Povo.

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