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17 de Julho de 2007 às 13:59

Ainda a globalização: Portugal foi pioneiro

Nas aulas que abordam a questão da União Económica e Monetária procura-se abordar a relação entre a denominada "Globalização" e o fenómeno, geograficamente mais circunscrito, que se tem traduzido no movimento de constituição de Blocos Económicos, concorre

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Todos temos acompanhado essa evolução que começa, ou pelo menos contém muito de "frente a frente", entre uma Europa economicamente menos dinâmica e algo envelhecida, e uma economia americana, que é (com base na análise histórica recente) supostamente mais nova e seguramente mais dinâmica.

Este processo conduziu a um certo "ressentimento construtivo", ou, parcialmente plagiando uma conhecida expressão de Miguel Cadilhe, uma "tensão virtuosa", que tem feito os norte-americanos recearem a constituição de uma "fortaleza Europa" e tem feito a Europa ir buscar modelos que se julga terem tido sucesso naquele País e que (nem sempre bem importados) se procura aplicar na "velha senhora" rejuvenescida – a economia europeia unida. O chamado Processo de Bolonha, por exemplo, não deixa de conter algo desta motivação, por detrás de uma afirmada preocupação de "uniformizar", na consagrada e prestigiada cultura europeia, o modelo pedagógico de ensino superior, internacionalizado, procurando assim contribuir para a "livre circulação de factores" de produção, neste caso a mão de obra qualificada.

Uma das conclusões que retirámos de tanta literatura abordada é a verificação de que, além do velho princípio das vantagens comparativas que estudamos na Economia Internacional, a Globalização é suposto estimular todos os factores de competitividade, os quais, subentende-se e crê-se, irão contribuir para reduzir os custos de produção e promover a melhor afectação (ou "alocação") possível das actividades produtivas. Desse modo, também, contribuirá para a melhoria do bem estar e dos valores sociais em presença.

Essa perspectiva vem provocar que a Globalização seja associada com o trabalho de construção europeia, sendo aliás uma "onda mais longa", não planificada, como é a construção europeia. Esta vem afinal a inserir-se ou a cavalgar a "onda larga" da Globalização e a aproveitar dela.

Muito recentemente, dois autores de língua portuguesa, Jorge Nascimento Rodrigues e Tessaleno Devezas, lançaram um interessante livro denominado "Portugal, Pioneiro da Globalização" (Edição Centro Atlântico), onde se procura mostrar precisamente aquilo que o título apresenta.

Independentemente da análise que o mercado e os meios apropriados farão do trabalho, é meu intuito salientar aqui, apenas, a interessante ressurreição que os autores fazem dos Ciclos Longos de Kondratieff, o economista russo, cujas teorias parece terem desaparecido da atenção dos modernos economistas, sempre muito preocupados com "o equilíbrio", o "caminho para o equilíbrio" e as "condições para se atingir o equilíbrio". Este é um efeito que os próprios autores sublinham.

As ideias de Kondratieff, que dele fizeram "persona non grata" no seu País, foram objecto de estudo de economistas mais "antigos". Lembro-me das aulas em que o saudoso Francisco Pereira de Moura explicou as mesmas "ondas longas" e o significado complexo e de rotura, que caracterizavam as mesmas.

O interessante é a descrição que naquela obra se faz da natureza complexa dessas ondas longas e das interpretações que vários investigadores dão às mesmas. Em todos os casos, porém, se conclui que se trata de "clusters" de factores que conduzem a uma rotura, (com marcha para cima e para baixo da actividade económica e social), na evolução dos sistemas em funcionamento, dando lugar a sistemas novos, e em qualquer caso introduzindo bem a noção de que a vontade humana de alterar o ciclo não é coroada de sucesso. O desenvolver da rotura escapa ao controle e à vontade dos decisores e dos gestores sociais e políticos.

Mas, em qualquer caso, tais ciclos conduzem a alterações de tipo social, económico e, claro, político, nada ficando igual após o desenvolvimento da rotura.

Aceite-se ou não, que, como se diz naquele trabalho, Portugal conduziu (e foi conduzido) por um 5ª ciclo longo, que se sucedeu a outro da República de Veneza e antecedeu outro que coube à Holanda, a verdade é que, e por isso trazemos o caso à colação, parece ser entendido que a Globalização não é um fenómeno novo, nem se devem subestimar os seus efeitos e muito menos lutar contra o processo.

E por isso mesmo, causa perplexidade os movimentos que procuram "manifestar" o seu "desapoio" e descontentamento com a Globalização, procurando para todos os efeitos atribuir a culpa, intencionalidade e gestão da globalização, aos países de economias fortes e dinâmicas.

A Globalização contém várias vias de desenvolvimento, de que se sublinham, em especial, a deslocalização, o "outsourcing", as "mergers & acquisitions", a subcontratação, a diversificação dos mercados fornecedores de "inputs", a liberalização generalizada e a informação acessível no mais curto prazo e com o maior rigor.

A Globalização é em certo sentido inelutável. Assim como, também, a Globalização não se planifica. Mas pode e deve actuar-se para que o ajustamento dos mercados se não faça com dor ou desfavoráveis efeitos para as economias mais desfavorecidas, o que é uma das maiores críticas dos movimentos "anti globalização".

E isso exige políticas próprias dos Governos e, por vezes, emparceiramento ou mesmo integração de economias, tal como a Europa está fazendo(*).

Segundo boas opiniões, a Globalização coincidiu com uma redução do chamado estado de "extreme poverty" no Mundo. Não se lhe pode atribuir, portanto, a natureza de praga, culpada dessa pobreza. E quanto a economias que não têm sentido efeitos benéficos, da liberalização mundial do comércio, como por exemplo certas economias africanas, a revista Scientific American refere que "tal situação tem pouco que ver com a natureza da Globalização e seus efeitos, e tem tudo a ver com a natureza dos regimes políticos e a instabilidade constante daquelas economias" (sic).

Pioneiro ou não, Globalização ou Internacionalização, o que é indiscutível é que Portugal reúne neste momento todas as condições para aproveitar de um processo que tem todas as características de uma "onda Longa" à Kondratieff, mas também e sobretudo de um emparceiramento e integração económica e monetária com um espaço ao nível dos grandes blocos.

O que o nosso país não pode esquecer, nem nós, é que nada acontece se não soubermos jogar o jogo, isto é se ficarmos apenas "a ver" ... e a "receber". É preciso reestruturar, apanhar os corredores de fundo da equipa, e convergir a todo o custo com eles.

(*) Vide "Scientific American", Abril de 2006. FMI.
10 de Julho de 2007

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