Opinião
O cenário macro da área do euro
Uma das justificações de alguns países para a não adesão da sua moeda ao euro, pelo menos para já, assentava no entendimento de que com a sua própria moeda autónoma cresceriam mais depressa e sem agravamento da inflação. Tal entendimento pressupunha que a
Tal entendimento pressupunha que as escolhas macroeconómicas e nomeadamente as das relações comerciais externas e da taxa de câmbio poderiam ser optimizadas com vantagem para as respectivas economias.
Mais se entendia que, desta forma, o não alinhamento na taxa de câmbio do euro e sua evolução, permitiria a esses países fugir às orientações que procuravam o benefício mesmo das economias mais lentas, o que obrigava a uma certa "espera" ou menor velocidade no lançamento do crescimento próprio.
Na verdade muita gente entendia, antes, que tal não passava de um falso argumento que escondia a verdade, isto é, o desejo de manter certas praças financeiras ainda por mais algum tempo acima e fora dos interesses do conjunto do Eurosistema e proporcionar uma experimentação dos benefícios da "moeda única" sem lhe sofrer os inconvenientes, permitindo depois retirar conclusões "au fur et à mesure". Dessa forma também evitariam uma observância tão disciplinada dos critérios de convergência, o que sempre tem os seus custos no que toca ao momento ideal de se tomarem as medidas necessárias.
É um facto que desses países nem todos ainda fizeram a sua entrada no Sistema e alguns têm argumentado que tinham razão, pois, aparentemente, a economia global da dita área monetária não deu mostras de crescer com o dinamismo que se esperava.
O Boletim de Dezembro de 2006 do Banco Central Europeu, mostra um cenário macro, e projecções trabalhadas por vários observadores que vale a pena comparar (quadro 1).
Desde logo uma observação importante é que a própria Comissão Europeia prevê um abrandamento do crescimento, e/mas, também, um moderado abrandamento da inflação medida pelo IHPC. O FMI parece ser ainda menos optimista, quer no que toca ao crescimento, quer no que respeita à inflação. Exceptuada a OCDE, os outros observadores são pessimistas como o FMI, pelo menos no que toca ao crescimento.
Por estes, e por todos os dados observados até agora, deve dizer-se no entanto que não há suficiente evidência e portanto não parece haver suficiente razão para confirmar a tese dos países que estão em "espera consentida", se bem que também não se possa concluir que a permanência no Eurosistema tenha permitido, até aqui, um passo macroeconómico mais rápido.
Estima-se que o crescimento mundial fora da área do euro tenha atingido os 5,3%, ou próximo, em 2006, e que chegue aos 4,7% nos dois anos seguintes, o que no entanto resulta apenas do crescimento rápido de algumas economias emergentes, nomeadamente na Ásia. Isto tanto mais que se espera um crescimento moderado nas economias americana e japonesa.
No nosso país, como na generalidade da área euro parece poder deduzir-se que o modelo de crescimento desejado assenta muito mais num crescimento das exportações do que no do consumo privado e que há uma contenção no consumo público.
O mesmo Boletim chama a atenção para a lista dos países cujo risco de não sustentabilidade, e portanto da necessidade de novos esforços de consolidação orçamental, se apresenta baixo (Finlândia, Áustria e Países Baixos), média ou alto. Entre estes últimos figuram Portugal e a Grécia. É curioso, mas talvez não só curioso, que a Alemanha e a França figurem no grupo dos de sustentabilidade média, assim como a Espanha, esta com piores indicadores do que aquelas.
Algo que se não falou tanto foi o período em que algumas grandes economias divergiram neste aspecto e pouco mais ocorreu do que a reprimenda discreta.
No que toca a esta análise da sustentabilidade é muito interessante sublinhar que são analisadas as consequências previstas da manutenção ou criação de dívida, a eficácia das reformas estruturais lançadas e os riscos decorrentes de um nível de pensões não suficiente. Os efeitos sobre a sustentabilidade, decorrentes do envelhecimento da população são muito fortes no caso de Portugal, Espanha e Luxemburgo. E constituem um dos factores a pesar na má classificação de "alto risco" atribuída a Portugal.
O Banco chama a atenção por fim para a necessidade de nos países com maior risco de quebra de sustentabilidade, se prosseguir uma estratégia de redução da dívida, aumento do emprego, e da produtividade, e de reforma dos sistemas de pensões e de saúde, e regista "tal como promovido pela agenda de Lisboa".
Na verdade, um cenário doméstico nada animador e expectativas menos optimistas, constituem, juntamente com o que se contem na análise anterior, um indicador das tarefas, nada fáceis, que esperam os governantes.