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05 de Março de 2007 às 13:59

À volta de uma "city e short break"

De regresso a Lisboa, vindo de Madrid – cada vez mais a capital económica e cultural da Ibéria –, onde, como muitos outros portugueses, aproveitando o fim-de-semana prolongado do Carnaval, fui dar uma "saltada" à ARCO, dou comigo para efeitos desta crónic

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Começando pelo turismo, releio o PENT – Plano Estratégico Nacional do Turismo, 2006/2015, apresentado na última Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), pelo Secretário de Estado do Turismo.

Assim, recordo os eixos de estratégia constantes do documento distribuído:

– Eixo I, Território, Destinos e Produtos;
– Eixo II, Marcas e Mercados;
– Eixo III, Qualificações de Recursos;
– Eixo IV, Distribuição e Comercialização;
– Eixo V, Inovação e Conhecimento.

Tendo por base as grandes tendências mundiais de consumo e face às respectivas atractividades e interesses estratégicos foram definidos, em torno do território, dez produtos: gastronomia e vinho, "touring" cultural e paisagístico, saúde e bem-estar, turismo e natureza, MICE, turismo residencial, "city e short breaks", golfe, turismo náutico e sol & mar.

Verifica-se a existência de produtos inovadores, nomeadamente a saúde e bem-estar e a gastronomia e o vinho que todos acompanhamos no seu elevado potencial de crescimento e baixa sazonalidade inerentes.

E, quanto aos produtos mais tradicionais a concordância no seu interesse é tanta que aqui e agora nos inspira a presente escrita: city e short breaks e turismo cultural.

Afirmar a "marca Portugal Turismo" e realizar iniciativas culturais de grande nível é indissociável.

O exemplo da ARCO 07 proporciona reflexão adequada.

Em números, sobre visitantes (e os portugueses vão cada vez mais), em galerias presentes (e também aqui tem sentido realçar a aposta dos galeristas nacionais) e claro, em volume de negócios que este ano terá batido recorde.

A ARCO realizou-se em Madrid de 15 a 19 de Fevereiro e este ano contou com a Coreia como convidada de honra. Em 2008, naquela que os organizadores pretendem que seja uma ARCO renovada, capaz de responder, antes de mais, ao desafio da crescente competitividade do mercado internacional de arte, será a vez do Brasil.

Concretizar-se-ão, assim, as aberturas aos mercados asiático e latino-americano.

Reconhecendo-me como simples curioso nestas "andanças" da arte contemporânea, com ambição de compreender, mas sem abdicar das minhas "preocupações estéticas", levei cábula de Lisboa e apressei-me a visitar, lá bem ao fundo, junto ao Café e Self-Service do Pavilhão 7, o "stand" da Galeria de Hilário Galguera e o colossal modelo anatómico, com quase sete metros de altura, do "enfant terrible" da arte britânica Damien Hirst (Bristol, 1965). E, também as cabeças de vaca em formol e os esqueletos de outros animais: galhinhas, cabras e ratos.

Espanto e alguma perplexidade, tanto mais que os preços altos (entre seis e sete milhões de euros para a escultura anatómica) assim ajudam.

Ainda de cábula na mão, visitei a Marlborough Gallery e confrontei-me com "um Francis Bacon" – "a study from the human body-figure in movement", também ele, o pintor e o quadro muito bem cotados.

Depois, deambulando por este "hipermercado" das artes (que a área, em Portugal, dos Pavilhões 7 e 9 onde está instalada a Feira a isso obrigaria), fui, aqui e acolá, coleccionando preferências e surpresas.

Pelas galerias portuguesas, passei pela Presença do Porto e "estive" com a instalação do Pedro Cabrita Reis e a fotografia da Helena Almeida.

Dos coreanos, convidados, retive da representação oficial Yooyoung Park, com Pinckton Lake, biombo verde água, de 2005, da Arario Gallery e Myoung Jo Jeong, com o Paradox of Beauty, mulher de costas, de 2004, da Gana Art Gallery, esta já integrada no Programa Geral.

No formato Black Box, dedicado aos audiovisuais e às novas tecnologias, recordo os vídeos apresentados e que incorporam a instalação de Mireya Masó, designada A22Y Upsouth Down, da Galeria Tomas March, de Valência.

É uma aproximação ao tempo na (e da) Antárctida, durante a navegação a bordo do navio quebra-gelos, Irizor, da Armada Argentina, com tarefas de investigação e logística naquelas paragens.

Esclarece-nos a nota informativa distribuída que se "trata em definitivo de ajustar a escala temporal dos vídeos à de um continente, apenas, construído pelo homem, onde o decorrer do tempo conserva um ritmo incessante de mudanças subtis que nos situam no limite do que podemos compreender habitualmente e nos obrigam a observar atentamente as coisas para lhes outorgar um significado".

E, para gestão do tempo, pensei, não está nada mal? estivesse eu sentado na "The Robotic Chair", cadeira apresentada, na secção de projectos, pela Nicholas Metivier Gallery, do Canadá resultado da colaboração entre Raffaello D’Andrea, especialista em sistemas modernos de controlo e os artistas Matt Donovan e Max Dean.

Esta cadeira "robot", de madeira cai ao chão, e fica "desfeita".

Mas, com determinação encontra as suas componentes e se reconstrói, numa alegoria à sociedade e a todos nós, com as nossas quedas e levantamentos, mas também com esperanças e energias mobilizadoras capazes de ultrapassar crises e vencer desafios pessoais e empresariais.

Mas Madrid, em oferta cultural, tinha este fim de semana e até 13 de Maio uma imperdível Exposição Tintoretto. (Aconselha-se a reservar com antecedência os ingressos, telef.: 0034 902 107 077, de terça a sexta-feira, 9h00 às 18h00 horas espanholas, pois as filas de acesso são extensas e desesperantes.)

Tintoretto, de seu nome Jacopo Robusti (Veneza c. 1518 – 31 de Maio de 1549), assim conhecido pela profissão do pai – tintore de tingir –, está muito bem representado no Museu do Prado que organiza esta exposição antológica do pintor e reúne entre pinturas, desenhos e esculturas, lado a lado, pela primeira vez, desde há 400 anos, a "Última Ceia", 1547 – Igreja de São Marcos, Veneza e o "Lavatório", 1548 – Museu do Prado em que é evocada a passagem do Evangelho de S. João em que Jesus lava os pés ao seu discípulo Simão Pedro.

A propósito destas duas importantes realizações culturais que atraem milhares de turistas a Madrid, tive curiosidade em saber mais sobre o estado do ensino da gestão das artes em Portugal.
Obtive a informação disponível no sítio da Cultdigest de que me sirvo.

Se tivermos em conta cursos respeitantes a Gestão Cultural, Gestão das Artes, Indústrias Culturais, e também Marketing e Comunicação identificamos 86 (?) estabelecimentos de ensino superior universitário e politécnico que, por intermédio das suas faculdades, departamentos ou outras estruturas organizacionais, leccionam a matéria.

Mais relevante é a circunstância do baixo ou mesmo nulo impacto sócio-empresarial que têm todas estas referidas formações. E, talvez por isso (mas não só), faltam no nosso país este tipo de exposição internacional.

Voltando ao PENT.

O Eixo III trata da Qualificação de Recursos Humanos e promete (outra vez) planos de formação específica para gestores, empresários e quadros da administração central e local, com o entendimento (agora é que é) e que a formação e qualificação para o turismo é mesmo uma prioridade.

E tanto assim se quer que é introduzida uma nova fileira do Programa Inov Contacto, especialmente vocacionada para o turismo e dirigida aos recém-licenciados do sector.

Neste quadro de qualificação de recursos, tem importância crescente o trabalho que é desenvolvido nas Escolas que ministram Licenciaturas em Turismo onde se potenciam as vantagens de abertura ao exterior e se reforçam os níveis de internacionalização.

E são ainda as universidades a ser chamadas ao tema quando refere o Eixo V – "Gerar Conhecimento para a Decisão".

Importa, pois, atribuir-lhes responsabilidades na construção de ferramentas que monitorizem barómetros de "estados de arte" ou contribuam para uma melhor execução do Plano Tecnológico aplicada ao turismo.

A título de nota final, que o assunto justifica a ele voltar.

Vale a pena planear as viagens de avião e muito mais se viajar em companhia "low cost". Estamos a falar (e não nos pagam a publicidade) do preço desta viagem a Madrid e constamos que o mesmo custa tanto, sem taxas e encargos de emissão de bilhete, como o ingresso na Exposição de Tintoretto – seis euros.

Sinal destes tempos e esperança também em que muitos turistas espanhóis nos continuarão a visitar e com isso a contribuir para o desenvolvimento do nosso turismo.

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