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A Europa miniatura

Foi na presidência britânica que a União abriu negociações formais para a adesão da Turquia e Croácia. Não será, contudo, este marco que projectará Tony Blair como um dos grandes líderes europeus da História.

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Foi na presidência britânica que a União abriu negociações formais para a adesão da Turquia e Croácia. Não será, contudo, este marco que projectará Tony Blair como um dos grandes líderes europeus da História.

Pelo contrário, se falhar o acordo sobre o orçamento para os próximos sete anos, como tudo indica, o primeiro-ministro inglês pode ficar recordado como aquele que, pura e simplesmente, inviabilizou a adesão de qualquer outro país.

Como é óbvio a negociação das Perspectivas Financeiras para os próximos sete anos está ligada ao último Alargamento da União. Não porque a permanência dos dez novos Estados-membros fique em aberto -- isso é um dado irreversível.

Mas porque a incapacidade política dos outros Quinze que fica novamente exposta. Desta vez, e pela primeira vez, a construção europeia fracassa no financiamento de um processo de Alargamento -- e fracassa logo naquele com alcance histórico de maior significado.

A proposta britânica para o Orçamento da União é má. Não tanto pelos motivos que parecem mais inquestionáveis. Acima de tudo, porque é frouxa na defesa da competitividade económica, é insensível aos impactos sociais da globalização e é conservadora no pior da política orçamental europeia.

Os cortes anunciados para as dez economias ex-socialistas podem ser um assunto politicamente inflamável, mas não uma catástrofe para aquelas economias.

A proposta da presidência luxemburguesa representava um fabuloso gasoduto financeiro para os Dez, transferindo fundos comunitários equivalentes a 4% do PIB anual daquelas economias.

Em termos "per capita", esta ajuda ao desenvolvimento dos "novos países de mercado" fica menos expressiva. Mas sabemos que, em 20 anos de fundos, Portugal recebeu apoios comunitários que nos anos de "pico" chegaram aos 2% do PIB. E conhecemos sobretudo os níveis de desperdício e as dificuldades na boa execução dos programas.

É bastante duvidoso, portanto, que a Polónia, a República Checa ou a Hungria tenham a capacidade de absorver o dobro da "fartura" de dinheiros que foram despejados nas empresas e no Estado português.

Por isso, ao contrário do politicamente correcto que vamos continuar a ouvir, o Reino Unido assume com ousadia aquilo que, de resto, até os próprios governos dos Dez novos membros admitem "ceder": os níveis de ajuda são razoáveis.

Assim, deste ponto de vista, o pecado capital da proposta britânica não está tanto naquilo que se corta, mas sobretudo naquilo em que praticamente não se toca.

Não se toca na agricultura e na França. Não se toca quase nada no "cheque britânico". Satisfaz-se a Alemanha e outros contribuintes ricos, porque se está a dar um golpe profundo numa despesa que já tem um peso ridículo no PIB europeu.

Logo, queira ou não, Blair não escapa da evidência: os novos Estados-membros iriam "pagar" um acordo com morte anunciada. Nem que seja pela oposição do Presidente da Comissão. Barroso tem a oportunidade de ser a voz que os "descamisados" perderam desde que Delors se calou.

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