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17 de Fevereiro de 2011 às 11:58

[397.] Três mupis: Remax, Proton, Optivisão

A publicidade exterior da Remax mostra um homem olhando para o lado em direcção ao slogan.

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A frase é realmente excelente e merece que o jovem da foto olhe para ela: "Se o problema está na crise, a solução está na Remax".

O anúncio de rua convida à consulta das "soluções anti-crise" da imobiliária. É preciso ter coragem, ou desesperar no negócio, para repetir a palavra crise num reclame, mas o anúncio resulta ao chamar a atenção e sugerir aos observadores de que há na Remax uma dinâmica de não ficar parado perante a crise. O jovem de camisa e cabelo descuidados não olha para o observador, faz de anónimo, de alguém, esse sim, desesperado por precisar de casa ou, sei lá, de trabalho na Remax. O que sei é que o anúncio está organizado para que o slogan fique em grande destaque, por estar do lado esquerdo, em cima, convidando à leitura imediata; e porque o homem à direita o olha fixamente, convidando à releitura.

A frase cumpre a função poética, pela repetição da frase "está na" e pelo ritmo. Se dissermos "se o" como duas sílabas separadas, o slogan apresenta-se como dois versos octossílabos. Usa a oposição binária problema/solução, a que corresponderá outra, criada no "poema", opondo crise e Remax. O slogan está próximo de ser ilógico, como tantos slogans e poemas, mas a força poética impõe o referido sentido que opõe a Remax à crise.

A função poética da comunicação sobressai de modo fortíssimo noutro anúncio em mupis: um produto auxiliar da digestão, o Proton, apresenta-se em letras garrafas com o slogan "Razia à azia". O grafismo das letras coloca as quatro letras de "azia" exactamente por baixo das mesmas letras da palavra "razia". Com o "à" azul e em menor dimensão, o aspecto visual chama a atenção de quem passa. Além dessa rima, da repetição e do grafismo, surge abaixo outra presença da rima em "-ia", numa simulação de um autocolante com o texto "1xdia alivia a azia". A terminação em "-ia" aparece assim cinco vezes em nove palavras, sem contar com outra "azia" na caixa do produto.

O mupi da Optivisão também chama a atenção, mas não pelas boas razões. Mostra uma mulher sem roupa, apenas com óculos. Em baixo identifica a modelo pelo nome e graceja com a sua nudez: "modelo: Helena Coelho / guarda-roupa: Moss". A ideia é dizer que os óculos são importantes para o "look", ao mesmo tempo que se simula uma nudez (pela posição corporal e pela posição da câmara o modelo podia ter vestido um soutien e uns calções que não se daria por isso). Esta nudez incompletíssima é já em si mesmo um bocadinho irritante. Mas acresce uma faceta artificial na comunicação, pois a imagem parece construída para se poder usar a palavra "guarda-roupa" associada aos óculos. E dá-se ainda o caso de milhões de transeuntes, olhando para o modelo, não fazerem a mínima ideia de que se trata de Helena Coelho. E quem é Helena Coelho?

Num reclame para quem passa na rua há informação a mais. Em cima, a Optivisão anuncia uma "nova colecção de óculos", em letras demasiado pequenas, e em baixo refere "um exclusivo das 270 lojas Optivisão", sendo necessário um esforço mental para associar a informação à marca Moss, que deve ter partilhado os custos da publicidade. A Moss, entretanto, tinha sido apresentada como "guarda-roupa" e não como marca de óculos. Claro que a maioria dos observadores capazes de ler as letras pequenas perceberia a sequência de raciocínio, mas entretanto já o sinal ficou verde ou o autocarro chegou.


ect@netcabo.pt
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