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[204.] Millennium, Super Bock

E por falar em conhecidos: não é só George Clooney que aparece em duas campanhas em simultâneo. Também o comediante Bruno Nogueira protagoniza ao mesmo tempo a campanha do banco Millennium bcp e a da cerveja Super Bock sem álcool.

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Esta simultaneidade a todos prejudica, tanto mais que Nogueira representa o mesmo papel nas duas campanhas. De cada vez que surge alguém com valor ou notoriedade logo se queima por excesso de protagonismo sem um nível de qualidade a condizer com tal grau de exposição.

Ambas as campanhas se destinam ao público jovem. Na do banco, Nogueira acompanha o nascimento e a aprendizagem de uns jovens "pintainhos" a quem diz para usarem as asas quando "saem da casca". A metáfora é tão literal que pode assustar os próprios "passarinhos" a quem se destina. Os jovens são apresentados como uns totós totais, uns passarinhos que, para se libertarem da tutela dos pais, precisam de levantar asas para as primeiras compras, ou melhor, para os primeiros empréstimos bancários.

Nogueira desenvolveu desde o início da carreira uma persona cómica de jovem malandro, uma espécie de "menino Joãozinho" com dois metros de altura. A personagem carrega consigo uma eficácia de monta: torna a sua irreverência imediatamente aceitável, como a do bobo da corte medieval. Os "miúdos" têm sempre uma liberdade acrescida para dizerem certas coisas. A cena que o tornou famoso, já depois de evidenciar qualidades cómicas no programa Levanta-te e Ri, enquadrou-se nesta personagem, quando falou numa festa da SIC a respeito do "senhor do bolo" dos anos, Francisco Pinto Balsemão, que se encontrava presente na plateia.

Como todos os outros cómicos que têm ganho rápida notoriedade, Nogueira facilitou e, na minha opinião, se ganhou segurança, a qualidade do seu humor é hoje mais baixa do que quando apareceu. As duas campanhas em que aparece têm pouca piada, ou antes, não chegam a ter a piada que poderiam ter. Acontece-lhes algo que considero frequente no humor português: as situações, os textos, a encenação, a preparação, a representação – ou uma destas coisas ou várias não têm o devido desenvolvimento ou qualidade, assim comprometendo o conjunto.

No caso da campanha do Millennium, o erro poder estar na concepção geral e não nos dotes humorísticos do comediante. De facto, pressupõe-se que os totós com asas que saem do ninho... não deixam de ser totós ao saírem da sala onde "nasceram" com a ajuda do representante do banco (Nogueira). A campanha trata os jovens como totós em geral, o que significa que, por extensão, os que recorrem ao Millennium são totós, mesmo tendo levantado voo. No conjunto dos videos em http://www.jovenscomasas.com, o mais engraçado é precisamente o "capítulo 9", em que Nogueira assume a persona referida em vez de ser o jovem que engana jovens (a campanha publicitária está bem articulada com o site do banco).

Quanto à campanha da Super Bock sem álcool, seria perfeita, perfeita se tivesse mais piada. Feitos a partir do nonsense, os anúncios pretendem ancorar o êxito na repetição ad infinitum da frase "perfeita, perfeita" dita com voz estridente pelo comediante em situações rodeadas de absurdo. Os anúncios vivem da notoriedade de Nogueira, da capacidade de impor a sua presença com comicidade e da imposição massiva da mensagem por repetição dos anúncios na TV e outros meios. Aqui, a utilização do "malandro" Nogueira funciona, porque compatibiliza o jovem socialmente vencedor com o consumo de uma bebida sem álcool. Esse aspecto é fundamental para que a campanha resulte junto do público alvo, mas é pena os anúncios não chegarem a fazer rir.

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