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02 de Janeiro de 2019 às 20:55

Trinta anos sem muro

Pelo mundo fora, manifestamente, os ventos não sopram para o lado do socialismo ou da esquerda. Têm sido muito falados os casos dos Estados Unidos da América e agora do Brasil, mas também se pode falar, e tem-se falado pouco em Portugal, das eleições na Andaluzia.

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Em Espanha, como se sabe, temos um governo assente numa coligação entre tudo aquilo que não é PP ou Ciudadanos, sejam de direita, nos partidos regionais, ou de esquerda, incluindo o Podemos. Na prática, trata-se de uma geringonça alargada, que também serviu, fundamentalmente, para tirar Mariano Rajoy do poder e permitir que o PSOE lá voltasse. Como em Portugal, o governo é só do Partido Socialista e é viabilizado por uma maioria de deputados de diferentes forças políticas. Só que, em Espanha, de quando em vez, há eleições autonómicas dado que, por várias razões, não são na mesma data em todas as regiões. Ora, a Andaluzia é um feudo tradicional do PSOE e, por muitas mudanças que se verifiquem na política em Espanha, a orientação da Andaluzia é normalmente essa. Só que, desta vez as coisas foram diferentes. O governo Andaluz era chefiado por uma mulher voluntariosa e enérgica, Susana Diaz, e por entrevistas que ouvi, na TVE e em televisões regionais, aos porta-vozes do seu partido, os socialistas transbordavam de confiança, dias antes das eleições. Acresce que, os institutos de sondagens, como acontece frequentemente, enganaram-se e começaram a prever nova vitoria dos socialistas andaluzes, nomeadamente o Centro de Investigações Sociológicas, entidade pública, que ia assegurando esses resultados.

 

Deve-se sublinhar que esta derrota na Andaluzia e a previsível subida ao governo da região por parte do PP e dos Ciudadanos - com o consentimento previsível do VOX - representa a perda pelo PSOE do último bastião que detinham. Não é só, pois, nas distantes Américas que sopram estes ventos que afastam as esquerdas. Eles já andam por perto. Resta saber se há em Portugal condições para que eles também façam sentir cá os seus efeitos.

 

As últimas noticias, entretanto, dão conta de dificuldades na formação do governo Andaluz, mas estou em crer que serão ultrapassadas. Aquilo que representa para esses partidos chegarem ao poder na Andaluzia, a pouco tempo das eleições gerais em Espanha, tem um valor que não pode ser negligenciado. De qualquer modo, estamos, sem dúvida, num tempo de reorganização dos sistemas partidários. No ano em que se celebram 30 anos da queda do muro de Berlim, parece que se reforça o ocaso das esquerdas mas também o processo de reorganização dos centros e das direitas. Assim é na Alemanha, assim tem sido em França, assim acontece muito em Itália, assim se está a passar em Espanha e, como disse, vamos ver em Portugal. Três eleições num ano são circunstancias bem adequadas para se saber em que medida o fenómeno será também lusitano.

 

Advogado

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