Opinião
Marques Mendes: Eduardo Cabrita continua a ser o grande “abcesso” político do Governo
No seu espaço de opinião habitual na SIC, o comentador Marques Mendes fala sobre uma remodelação governamental à vista e o aumento do preço dos combustíveis, entre outros temas.
REMODELAÇÃO À VISTA?
- O Governo está à espera de ser remodelado. Tudo está suspenso da remodelação. Este é o grande problema de António Costa. Os portugueses, de forma esmagadora, querem uma remodelação, como se vê de uma sondagem hoje divulgada (Aximage/ DN, JN, TSF). A popularidade do PM está em queda, por força do desgaste do Governo e do adiamento da remodelação; Eduardo Cabrita continua a ser o grande "abcesso" político do Governo. Agora agravado.
- O inquérito da IGAI sobre os festejos do Sporting é um arraso para o MAI. Primeiro, prova-se que deu cobertura a tudo. Depois, com excepção da CM de Lisboa, são todos contra Cabrita: a PSP queixa-se; a DGS foi contra; o Sporting critica; a própria IGAI dá a entender que o MAI não teve "autoridade para definir uma trajectória".
- O PM fará uma remodelação quando não se falar do tema. Mas quanto mais tarde fizer pior. Se deixar para depois das autárquicas, vários autarcas do PS podem pagar uma factura pesada.
- O PSD decidiu apresentar um projecto de revisão da Constituição. É uma escolha legítima. Mas as prioridades parecem invertidas. Será que a prioridade do PSD deve ser rever a Constituição? Eu acho que a prioridade do PSD devia ser explicar aos portugueses o que faria de diferente do PS se estivesse no Governo: na economia, nos impostos, na saúde, na educação, na segurança. Sem mostrar estas diferenças dificilmente o PSD será visto como alternativa.
- Finalmente o CDS: nas jornadas parlamentares emergiu Nuno Melo. A defender a história do partido; a mostrar como se faz oposição; a pedir combate e não resignação. Conclusão: vamos ter Nuno Melo como candidato a líder do CDS em próximo Congresso. O pré-anúncio está feito.
APOIOS SOCIAIS E ORÇAMENTO
- Apoios sociais: o TC decidiu como se esperava – pela inconstitucionalidade. O Governo ganhou juridicamente; o PR declarou-se politicamente feliz; o país ficou indiferente. O problema é que situações semelhantes vão repetir-se no futuro. Porque o Governo é minoritário. E qual é a solução? Passar a vida a recorrer ao TC? Não. Isso transformaria o TC no centro da governação, o que é mau para todos. O Governo tem de mudar de vida. O que implica um de dois caminhos:
- Um caminho é o Governo deixar de ser minoritário, negociando uma coligação estável na AR. Um governo minoritário é uma solução legítima. Mas é uma aberração política.
- Outro caminho é o Governo dialogar mais no Parlamento. Quem não tem maioria tem de dialogar, de ceder, de negociar. O PM não pode ter um governo minoritário e comportar-se como um governo de maioria.
- O OE para 2022: não vai haver qualquer crise política. O OE será aprovado. O PCP, o PEV e o PAN vão viabilizá-lo de novo. O BE votará novamente contra.
- Até às autárquicas ninguém confirmará este cenário. Em particular o PCP, que precisa de mostrar que está tudo em aberto. Por causa da Festa do Avante e das autárquicas. Mas é tudo encenação e retórica. O entendimento genérico está feito. Os detalhes ficam para mais tarde.
- A viabilização do OE pelo PCP não depende do resultado autárquico. Depende da vontade do PCP. E o PCP não quer derrubar o Governo. Primeiro, porque tem medo de eleições antecipadas; depois, porque gosta desse estatuto de estar próximo do poder e conseguir alguns ganhos pontuais. Pode ser uma solução cara. Mas é o que há.
PANDEMIA/VACINAÇÃO
- Pandemia: estamos a ir na direcção certa mas ainda não é tempo de retirar todas as restrições. Assim:
- Ainda não atingimos o pico desta quarta vaga mas estamos perto;
- O RT em LVT está a descer. Vários concelhos estão em curva descendente;
- O RT no norte está alto e ainda em fase ascendente;
- Temos variáveis a favor – a vacinação, o fim das aulas e o período de férias;
- Maior risco: doentes em UCI. Estão a subir. Próximo da linha vermelha (275).
- A solução não é confinar mais. É, sim, vacinar, vacinar, vacinar.
- Em matéria de vacinação, há 5 destaques essenciais:
- Primeiro: ritmo de vacinação alto. Na última semana foram administradas cerca de 700 mil doses. 64% da população já tem, pelo menos, uma dose. 47% da população tem a vacinação completa. Estamos próximos do objectivo: 70% da população com pelo menos uma dose entre 8 e 15 de Agosto.
- Segundo: ritmo de vacinação na UE – Portugal é o 2º país da UE que mais vacina, logo a seguir à Irlanda e muito acima da média europeia.
- Terceiro: as faixas etárias mais idosas já estão protegidas. A aposta nos mais jovens vai em bom ritmo.
- Quarto: as previsões de vacinação para a próxima quinzena de Julho são ambiciosas: mais 1,132 milhões de doses nas duas próximas semanas (mais 400 mil primeiras dosas; mais 732 mil segundas doses).
- A vacinação dos jovens entre os 12 e os 18 anos vai ocorrer entre a segunda e a terceira semana de Agosto. Segundas doses entre a segunda e a terceira semana de Setembro. Antes da abertura das aulas.
- Notas finais
- Matriz de risco. Excelente proposta da OM.
- Vacinação de jovens – Útil campanha de sensibilização nas redes sociais.
- Vacina da Janssen – Especialistas dizem não haver razão para apreensão.
- Idosos nos lares – Continuam as queixas.
AUMENTO DO PREÇO DOS COMBUSTÍVEIS
- Tem havido nas últimas semanas uma subida do preço dos combustíveis que muitos consideram injustificada e exagerada. A partir daí temos a polémica habitual: uns dizem que a culpa é dos operadores e das suas margens de lucro; outros dizem que a culpa é dos impostos sobre os combustíveis.
- Eu diria que há aqui um problema conjuntural e um problema estrutural.
- Problema conjuntural. Pode haver uma falha no mercado dos combustíveis. A concorrência pode não estar a funcionar como deve ser; pode haver suspeitas de abusos; pode haver exageros nas margens de comercialização. Nessa altura, devemos exigir esclarecimentos ao regulador. Neste caso, à Autoridade da Concorrência. O Governo querer legislar, sem que o regulador se pronuncie, só pode dar asneira. Como já várias vezes deu no passado.
- Problema estrutural. Impostos a mais sobre os combustíveis. Vejamos:
- Preço de um litro de gasolina antes de impostos – 0,686€. Preço de venda ao público – 1,665€. Carga fiscal – 0,979€ (58,8%). A maior parte do que pagamos por 1 litro de gasolina vai para impostos (quase 1€ em cada litro).
- Preço da gasolina na UE – Somos o terceiro país da UE com o preço da gasolina mais alto, a seguir aos Países Baixos e à Dinamarca, um valor muito mais alto que a vizinha Espanha (1,391€) e que a média da UE (1,434€).
- Assim, é difícil ser-se competitivo.
REVOLUÇÃO CLIMÁTICA
- A Comissão Europeia apresentou esta semana uma espécie de Revolução Climática. São 13 propostas que vão mudar as nossas vidas de alto a baixo. Como alguém disse, é um terramoto político, legislativo, económico e social.
- São mudanças necessárias, brutais, mas que vão gerar tensões politicas:
b) Mudanças brutais. Basta pensar em três exemplos:
- Carros eléctricos: a partir de 2035 não se fabricarão mais carros a diesel ou gasolina. É uma mudança necessária mas com um custo sério: vai gerar a perda de milhões de postos de trabalho.
- Transporte aéreo: os aviões que partem de aeroportos da UE vão ter de usar biocombustíveis e electrocombustíveis. É outra mudança necessária. Mas com um custo: as viagens ficarão mais caras.
- Indústria: o sector mais afectado (indústria de papel, cimento e energia). Vai ter de mudar equipamentos, fornos e combustível. Se não for apoiada, perde competitividade.
3. Neste quadro, uma palavra de saudação ao Ministro Pedro Nuno Santos: primeiro, pelo anúncio da compra de novos 117 comboios para a CP; depois, pela intenção de em 2030 fazer a ligação ferroviária Lisboa/Porto em 1h15m. Esperemos que, desta vez, seja mesmo para cumprir.