Opinião
Marques Mendes: "Com Passos Coelho à frente do PSD, o Chega começava a esvaziar"
As notas da semana de Marques Mendes no seu comentário habitual na SIC. O comentador fala sobre as medidas para o Natal e Ano Novo, o processo de vacinação e a remodelação do governo, entre outros temas.
BALANÇO DO ANO
- Todos os anos fazemos um balanço do ano e escolhemos: a figura nacional do Ano; a figura internacional do ano; o acontecimento nacional do ano; a figura do desporto do ano.
Assim faremos este ano. Com uma inovação já anteriormente experimentada: a decisão final será dos telespectadores que votarão online, durante uma semana, nas propostas que agora apresentamos.
- FIGURA NACIONAL DO ANO
- Profissionais de saúde
- Graça Freitas
- Marta Temido
- FIGURA INTERNACIONAL DO ANO
- Joe Biden
- Ursula von der Leyen
- Boris Johnson
- ACONTECIMENTO NACIONAL DO ANO
- Pandemia da Covid 19
- Luanda Leaks
- Geringonça de direita nos Açores
- FIGURA DO DESPORTO DO ANO
- Miguel Oliveira
- Jorge Jesus
- João Almeida
NATAL E ANO NOVO
- Combater uma pandemia é tarefa difícil para qualquer Governo. É preciso tolerância e compreensão. Só que, às vezes, é o próprio Governo que não ajuda. É o caso das medidas sobre o Natal e o Ano Novo.
- Primeiro, o Natal. O Governo tem razão numa coisa: não faz sentido dar orientações sobre quantas pessoas podem estar num almoço ou jantar de Natal. Primeiro, porque isso é matéria de cada família; depois, porque é impossível controlar e fiscalizar.
Mas o Governo já não tem razão ao permitir uma ampla liberdade de circulação entre os dias 23 e 26. Aí o Governo é incoerente e mostra medo. Diz o Governo que o Natal é um risco, que o número de mortos está muito elevado, que é preciso muito cuidado nos ajuntamentos. A seguir, em vez de aprovar limitações à circulação para dificultar ajuntamentos, faz o contrário – relaxa, facilita, incentiva os contactos.
Isto não é defender a saúde ou a economia. Isto é política e revela medo. Medo de ser impopular. Medo de perder votos.
- Segundo, o Ano Novo. Os avanços e recuos nunca são boa ideia. Foi o que sucedeu com o fim do ano. Há 15 dias, o Governo abriu uma grande esperança para o fim do ano. Agora, fez marcha atrás. Devia ter sido exactamente ao contrário. Para não criar falsas expectativas, para não estar a criar mais prejuízos à restauração e ao turismo, com marcações e desmarcações. O Governo voltou a falhar no planeamento e na gestão das expectativas.
- A comunicação é essencial. Mas há comunicações que não esclarecem nada. Só confundem. São patéticas e ridículas. Foi o caso da conferência de Rui Portugal, Sub-Director-Geral da Saúde. Há muito boa gente que é competente mas não sabe comunicar. Isso não é grave. O grave é quando as pessoas insistem em fazer o que não sabem fazer. Isso, sim, é falta de competência.
O PROCESSO DE VACINAÇÃO
- Amanhã teremos a primeira vacina aprovada na UE. Quatro conclusões:
- É um momento histórico. Nunca antes se tinha conseguido uma vacina em menos de um ano. Exemplo notável da ciência e da investigação.
- É a prova que a globalização é essencial. Estas vacinas só são possíveis porque houve cooperação à escala global. Resolver à escala nacional era impossível. Só os grandes se "safavam".
- É notável o exemplo da União Europeia. Passamos o tempo a criticá-la: porque é burocrática e afastada dos cidadãos. No caso da vacinação, a UE deu um notável exemplo. Fez política para as pessoas. Garantiu que não há europeus de primeira e de segunda. Saiu mais unida e solidária.
- Finalmente: a esperança. São muitos os que acham que este processo vai correr mal. E pode correr. Mas também pode correr bem. Veja-se o exemplo das escolas: quase toda a gente dizia que seria um pandemónio. O funcionamento das escolas tem sido muito positivo.
- Quanto a Portugal, vejamos os factos essenciais:
- Só há duas vacinas em processo de decisão. Quatro estão mais atrasadas.
- No 1º trimestre chegará 1 milhão e 200 mil doses.
- No 2º trimestre chegarão cerca de 7,5 milhões doses.
- No 3º trimestre chegarão cerca de 8,5 milhões doses.
- Até Setembro pode estar vacinada 70% a 80% da população.
- Tudo começa nos hospitais e lares.
- Podemos ter em breve outra boa novidade: segundo o que apurei, a Comissão Europeia comprou mais 80 milhões de doses de vacinas à farmacêutica Moderna. Se assim for, Portugal vai receber mais 1 milhão e 800 mil doses. Com a vantagem de ser de uma das vacinas que está prestes a ser autorizada.
- Nova estirpe do vírus, detectada no RU:
- Aparentemente, não aumenta a gravidade do vírus;
- Mas transmite-se com mais facilidade – o que faz aumentar o número de infetados e a pressão sobre o SNS;
- UE devia ter uma posição conjunta;
- Na ausência dessa posição, manda a prudência suspender voos do RU ou exigir testes nas 48 horas antes dos embarques.
A REMODELAÇÃO DO GOVERNO
O PM fez mais uma mini-remodelação de dois Secretários de Estado. Isso não tem novidade. A novidade é que o PM não fará tão cedo uma ampla remodelação ministerial. E, todavia, já a devia ter feito.
- Este Governo precisa de ser refrescado e renovado. Está gasto, cansado e dividido. Porque tem um pecado original: nasceu esgotado. Há um ano, a seguir às eleições, António Costa resolveu seguir a estratégia de Cavaco Silva em 1991. Porque estava a um ano da Presidência da UE, optou por, no essencial, não fazer um Governo novo. Manteve o que vinha de trás. Conclusão: um governo que já então estava cansado mais cansado ficou. Um erro desnecessário.
- Além de sangue novo – novas caras e figuras – o Governo precisa de ter um Vice-Primeiro-Ministro. Um verdadeiro número dois – com estatuto e peso político. O PM sozinho não dá para as encomendas. E a situação vai agravar-se nos próximos seis meses com a Presidência Portuguesa da UE. Vai ser uma grande presidência lá fora. Mas corre o risco de correr mal cá dentro. O PM não pode ir a todas as situações e estar em todo o lado. E este, como se tem visto, é um Governo unipessoal. Ou há PM ou não há Governo.
- O PM vai acabar por remodelar só depois da Presidência da UE. Lá para o próximo Verão. É um clássico. Como desvantagem vai ter o risco de se acentuar a degradação politica e a dificuldade de figuras de primeiro plano aceitarem entrar no governo. Como vantagem vai ter o efeito de a vacinação e a recuperação económica poderem ajudar a gerar um ambiente renovado.
O REGRESSO DE PASSOS COELHO?
- Esta semana falou-se muito de Passos Coelho. Por causa das suas declarações críticas sobe o SEF e a TAP. E por causa das palavras de André Ventura, alegando que gostava de o ver de regresso.
Começando por este último: o que fez André Ventura foi um exercício de cinismo. Elogia PPC e formula votos do seu regresso só mesmo para provocar Rui Rio. Lá no fundo, Ventura sabe que não beneficiaria nada com o regresso de Passos Coelho. Pelo contrário. Com Pedro Passos Coelho de novo à frente do PSD, o Chega não subiria nas sondagens: começava a esvaziar.
- Segunda questão: as palavras de PPC são um sinal de regresso? A minha convicção é que um dia Passos Coelho há-de regressar à vida política activa – ou para voltar a ser PM ou para ser candidato presidencial. Mas não será tão cedo. Para já, ele gere bem os silêncios e ainda melhor as aparições públicas. E causa nervosismo, dentro e fora do PSD.
- Agora, a questão política de fundo: por que é que sempre que Passos Coelho fala o PSD se agita e se fala do seu regresso? Por duas razões:
- Primeiro: porque Passos Coelho saiu da política activa com um grande capital político. Com grande prestígio e credibilidade. E não tem delapidado esse capital. Pelo contrário: tem sabido geri-lo com inteligência.
- Segundo: porque militantes e eleitores do PSD, lá no fundo, não estão felizes com o estado do PSD, com a forma como se faz oposição, com a posição fraca que o PSD tem nas sondagens. Se estivesse tudo bem, ninguém suspirava por Passos Coelho. Esta é a verdade.
PRESIDÊNCIA PORTUGUESA DA UE
- Portugal vai fazer uma boa presidência. Por mérito próprio e pela ajuda alheia.
- Por mérito próprio – Porque o programa da presidência é bem estruturado, ambicioso e realista. Porque o Governo está bem visto e prestigiado em Bruxelas. Porque a diplomacia portuguesa tem muita qualidade.
- Por mérito de conjuntura – António Costa bem pode agradecer a Merkel e Biden. Um e outro desanuviaram o ambiente político europeu e internacional. A Chanceler desbloqueou a bazuca europeia. A eleição de Biden permite relançar a relação transatlântica.
- O sucesso de uma presidência mede-se pelos resultados que alcança. E Portugal pode ter aqui, como sucessos, seis boas novidades:
- Cimeira UE/Índia – Abertura ao mundo.
- Cimeira Social – Aposta no pilar social.
- Novo programa Horizonte, em Fevereiro – Boa expectativa.
- Novo programa Erasmus, em Junho – Novidade desafiante.
- A primeira Lei do Clima na UE – Um grande desafio.
- 27 Planos de Recuperação aprovados – Colocar a bazuca no terreno.
- Só de 13 em 13 anos é que temos a oportunidade de presidir à UE. Mais uma razão para não desaproveitar esta oportunidade. Os grandes estados até podem facilitar –porque são grandes. Os pequenos países, esses, não têm uma segunda oportunidade para causar boa impressão.