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10 de Maio de 2020 às 21:43

Marques Mendes: "Centeno desautorizou Costa" no Novo Banco

As habituais notas da semana de Luís Marques Mendes, no seu comentário semanal na SIC. O comentador fala sobre o regresso à atividade, a aplicação covid-19 para telemóveis e o regresso da política, entre outros temas

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O REGRESSO À ACTIVIDADE (Balanço)

 

  1. Bons sinais no domínio da Saúde Pública. Nos transportes públicos não houve o caos que se temia. Nas ruas nota-se que a generalidade das pessoas passou a usar máscaras. O número de infetados, de internados e de vítimas mortais está sob controlo. Mesmo assim nada de facilitar nem embandeirar em arco. É muito cedo para conclusões seguras.
  2. Más notícias no plano económico e social:
  3. Primeiro: a apresentação do Fundo Europeu para a Recuperação Económica foi adiada. Já vai ser muito difícil dinheiro mobilizável até ao Verão.
  4. Segundo: as previsões da Comissão Europeia. São menos más que as do FMI mas são más à mesma. A diferença é entre o péssimo e o muito mau. A recessão de 2012 à beira da deste ano é uma brincadeira.
  5. Terceiro: a recessão pode ser ainda mais profunda e a recuperação ainda mais lenta do que o previsto. Há muita incerteza no ar: a recuperação demorada do turismo; as exportações dependentes dos outros países; o risco de uma segunda vaga; o drama do desemprego, da fome e da exclusão social.

 

  1. Uma omissão grave – a parte dos idosos. Passou mais uma semana e ainda não houve uma reunião entre o Governo, as Misericórdias e as IPSS para definirem um plano para o fim do isolamento dos idosos.

Isto é uma violência. Há dois meses que os idosos, que estão em lares, não podem contactar sequer com familiares. Se não houver uma mudança, os idosos não morrem da doença mas morrem da cura.

 

  1. Finalmente: medidas para controlar as praias. A ideia que vem no Expresso (cercas, drones e militares a controlar as praias) é um completo exagero. Parece um estado policial. Nem 8 nem 80. Criem medidas de protecção, definam regras, informem e esclareçam. Mas deixem as pessoas respirar, relaxar, usufruir da praia, gozar um pouco de liberdade, serem felizes. Não podemos ter só notícias negativas e só restrições. É preciso gerar esperança.

APLICAÇÃO COVID 19 PARA TELEMÓVEIS

 

  1. Dar esperança às pessoas é também dar-lhes mais meios de protecção contra o vírus. Desde logo colocando a tecnologia ao serviço da saúde pública. Por isso, está aí à porta o que pode ser uma boa notícia – uma APP portuguesa para telemóveis, desenvolvida pelo INESCTEC, a solicitação do Estado e parcialmente paga por dinheiro público (Stayaway Covid).

 

  1. Aspectos principais a ter em atenção:
  2. O objectivo é: qualquer pessoa que tenha tido contacto próximo com um infetado passa a ser avisada através de uma mensagem que recebe no telemóvel, através da tecnologia Bluetooth e não GPS;
  3. A mensagem será algo do género: "Esteve em contacto com alguém a quem foi diagnosticada a Covid 19. Não significa que esteja infetado, mas, por precaução, mantenha-se em isolamento e contacte a Saúde 24".
  4. Requisitos desta aplicação:
  • É gratuita.
  • É voluntária. Só tem aplicação quem a quiser. Só disponibiliza a sua informação de saúde quem o entender.
  • Garante o total anonimato e privacidade do doente.
  • Todos os dados de cada infetado são destruídos ao fim de 14 dias.
  • Está a ser feita a interacção desta aplicação com as APP dos diferentes países europeus.
  1. Estado da arteA APP está praticamente pronta.
  • Falta parecer da CN Protecção de Dados.
  • Falta auditoria do CN de Cibersegurança.
  • Falta articulação final com autoridades de saúde.
  • Até ao final do mês pode estar a funcionar.

 

  1. Esta nova aplicação é essencial para reforçar a protecção de pessoas. Para alertar rapidamente os cidadãos para uma exposição de risco a alguém infetado com Covid 19. E é tanto mais eficaz quanto mais pessoas a utilizarem.

O REGRESSO DA POLÍTICA

 

Também a política está de regresso. Como se viu esta semana, na AR e fora dela.

 

  1. O caso mais sério é o da desautorização do PM sobre o Novo Banco. Só não cai o Carmo e a Trindade porque estamos num tempo anormal. O PM anda a dizer há semanas que não haverá mais dinheiro para o NB sem uma prévia auditoria. Repetiu isso na AR. Logo a seguir veio a saber-se que Centeno já tinha transferido a dotação para o NB, mesmo sem auditoria.
  • Isto parece uma mera falha de comunicação entre PM e MF. O que já de si seria grave. Então não falam um com o outro quando em causa estão 850 milhões? O problema é outro – Centeno desautorizou António Costa. O MF conhecia a exigência do PM. Mesmo assim decidiu contra ele. Há muito tempo que Centeno corre em pista própria!!

 

  1. O PSD esteve feliz e infeliz. Feliz na questão da TAP. Abordou o tema de forma responsável. Mas infeliz quando Rui Rio comparou uma empresa de comunicação social a uma fábrica de sapatos. Com todo o respeito pela indústria do calçado, o que separa os media dos sapatos é a democracia. Uma crise nos media é também uma crise da democracia. Se por absurdo fechasse toda a nossa indústria do calçado, não ficávamos descalços. Comprávamos sapatos importados de outros países. Ao contrário, se fecharem os nossos jornais não os podemos substituir por jornais estrangeiros. Isso seria uma crise da democracia.

 

 

  1. O CDS também esteve no seu melhor e no seu pior. Esteve bem ao propor uma Comissão para fiscalizar os ajustes directos do Governo em tempo de pandemia. A democracia é isto mesmo – o Governo decide e a oposição fiscaliza. Esteve mal ao lançar suspeitas de que Rui Tavares era professor na nova Telescola e de que, através de uma alegada aula de história, fazia política. Isto não só é mentira. É uma forma pouco decente de fazer política.

 

 

  1. Finalmente, a demagogia do Chega com os ciganos. André Ventura não quer resolver qualquer problema dos ciganos. O que ele quer é arranjar uma bandeira, uma questão fracturante, para dar nas vistas e "sacar" votos. Não lhe correu bem. Ricardo Quaresma, primeiro, e António Costa, depois, derrotaram-no sem apelo nem agravo. Goleada!!

 

 

O QUE MUDOU NA POLÍTICA PORTUGUESA?

 

Politicamente falando, nestes dois meses de pandemia mudou muita coisa. Mais do que se pensa. Sobretudo na governação e na oposição.

 

  1. António Costa – Antes da pandemia estava em dificuldades. Agora mudou de estatuto. Tem uma popularidade tão forte que é como se tivesse maioria absoluta. Isto resolve-lhe três problemas:
  2. Primeiro, os orçamentos. Ninguém se atreve a chumbá-los. Se não for a geringonça a viabilizá-los, será o PSD. Ninguém ousa abrir uma crise política.
  3. Segundo, os seus ministros. O Governo tem alguns ministros fracos. Como se tem visto. Em circunstâncias normais, eram um problema sério. Nesta fase, disfarça-se. A popularidade do PM resolve e encobre tudo. Ele é o seguro de vida do Governo. Logo, pode aguentar uma remodelação até meados ou final de 2021.
  4. Terceiro, o Congresso do PS. Devia estar a ocorrer. Foi adiado com a pandemia. E não é impossível que seja novamente adiado para 2021. O que lhe dá muito jeito – assim, a questão da sua sucessão fica adiada para 2023.

 

  1. Um problema novo para a oposição. Tem menos visibilidade, tem mais dificuldades para preparar eleições autárquicas e, sobretudo, não pode ter tentações de derrubar o Governo. Será penalizada. Em tempo de dificuldades ninguém quer uma crise política. Quando começar a recuperação muito menos. Logo, está atada de pés e mãos.

 

 

MISTURA POLÍTICA/FUTEBOL

 

  1. A AR, com a excepção do PAN, autorizou que uma sua deputada acumulasse com a presidência do CD da FPF. Um erro enorme. Mas há pior:
  2. Primeiro, a hipocrisia. Ninguém teve a coragem de dizer que a deputada faz bem em ir para a FPF. Uns disseram: isto de facto é um problema ético. A seguir, votaram contra a ética e a favor da acumulação.
  3. Depois, as desculpas de mau pagador. Outros disseram: a lei está errada mas permite esta acumulação. Fingindo que não sabem que são eles, os deputados, que fazem as leis e as podem mudar.
  4. No final, levaram um bofetada de luva branca por parte dos juízes. É que nesta mesma semana o CS da Magistratura vetou a ida de um juiz para outro órgão da mesma FPF, com a alegação de que o futebol desprestigia os magistrados. Pior bofetada nos deputados era difícil.

 

  1. Alguns deputados responderam ao meu desafio da semana passada com esta ideia: ele até pode ter razão mas não tem autoridade. Enganaram-se. O PSD, tal como o PS, tem telhados de vidro nesta matéria. Eu tenho um histórico diferente de separação política/futebol.
  • No princípio dos anos 90, sendo ministro, demiti uma Administração da RTP por ter feito um contrato promíscuo com o Benfica.
  • No fim dos anos 90, denunciei e liderei na AR a contestação e a revogação do Totonegócio. O maior caso de promiscuidade entre futebol e política.
  • Não fui eu que coloquei Madail na AR. Mas fui eu que ajudei à sua saída. Instaurando um processo disciplinar que o levou, pouco depois, à renúncia ao cargo. Também com Hermínio Loureiro. Não fui eu nem a escolhê-lo para a Liga nem a autorizá-lo.
  • Não fui eu que coloquei Valentim Loureiro como candidato do PSD em Gondomar. Mas, quando tive poder de decisão, fui eu que o excluí das listas, para evitar mais confusão entre política e futebol.
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