Opinião
As "preocupações" do Bloco
A conjugação da semana das 35 horas, apenas para a função pública, com a obsessão com o défice, dum Governo que foi além da troika nas metas a que se propôs, estão a destruir o SNS e a enriquecer os privados.
A FRASE...
A situação do Rovisco Pais é "verdadeiramente escandalosa e que precisa de ser resolvida rapidamente."
Catarina Martins, Esquerda.net, 10 de julho de 2018
A ANÁLISE...
É impressionante o silêncio ensurdecedor do Bloco de Esquerda sobre as falhas dum Serviço Nacional de Saúde a rebentar pelas costuras. Ainda não há muito tempo estavam ativos e tonitruantes em manifestações contra maternidades que fechavam, por racionalismo económico, ou de indignação contra a quimioterapia pediátrica funcionar num contentor no Hospital de São João no Porto. Hoje encerram-se salas de bloco de cirurgia por falta de anestesistas e enfermeiros, chefes de equipa demitem-se em bloco, como no hospital S. José, as urgências estão caóticas, mais pacientes por enfermeiros e estes, esgotados e desesperados, optam por desistir. A Ordem dos Enfermeiros fala em 4 suicídios já este ano, no hospital de S. José, atribuindo-os à falta de profissionais suficientes.
No dia 7 de julho foi noticiado pelo Público que o encerramento de salas de parto, na Maternidade Alfredo da Costa, tem levado a que grávidas em trabalho de parto sejam transferidas para outros hospitais. O Bloco das manifestações contra o fecho de maternidades não apareceu. Só deu prova de vida, preocupado com as questões da saúde, 3 dias depois em Cantanhede, no Hospital Rovisco Pais, numa manifestação contra… os precários.
Ou seja, podemos aferir que essa esquerda existe para a defesa do emprego público, mas pouco lhe interessa as condições de trabalho dos seus funcionários, ou a qualidade do serviço prestado aos utentes. A conjugação da semana das 35 horas, apenas para a função pública, com a obsessão com o défice, dum Governo que foi além da troika nas metas a que se propôs, estão a destruir o SNS e a enriquecer os privados. O volume de negócios dos hospitais privados atingiram um valor recorde em 2017, pudera. O SNS é público e gratuito, mas tem listas de espera para lá do recomendável e situações críticas de funcionamento, a que só a valentia e dedicação dos seus profissionais tem valido. Defender a saúde pública é estar preocupado com estas situações, não é defender o emprego público por si.
E a quimioterapia pediátrica continua a funcionar num contentor no Hospital de São João. Não usem essas "preocupações" apenas para a luta política. É feio…
Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
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