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29 de Fevereiro de 2016 às 21:25

"Brexit" temperada

O "Brexit" seria, também, o princípio do fim do projeto de integração europeia, uma vez que desencadearia uma vertigem nacionalista que obliteraria a chamada solidariedade europeia e mergulharia o Velho Continente nas trevas.

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A FRASE...

 

"Se sair, o Reino Unido terá ainda menos peso. Perde poder de veto na UE, o acesso direto ao mercado e talvez a Escócia."

 

Rui Tavares, Jornal Público, 22 de fevereiro, de 2016

A ANÁLISE...

 

À medida que se aproxima o referendo sobre a permanência do Reino Unido na UE multiplicam-se as análises que equivalem "Brexit" a desgraça. Segundo esta linha, o cenário de saída seria terrível para as ilhas britânicas por eliminar a influência de Londres em Bruxelas, além de condenar a "city" de Londres a um certo e inexorável declínio. Será necessariamente assim? Quanto ao primeiro risco, é bom ter presente que, numa Europa centrada nos problemas do euro, a influência britânica já é muito ténue. Quanto à segunda, basta relembrar que quando a Grã-Bretanha decidiu ficar à margem do euro jorraram vaticínios apocalípticos quanto ao futuro da praça londrina, os quais não se concretizaram: a grandeza da City assenta no capital acumulado, ao longo de séculos, de estabilidade e confiança - predicados, refira-se, que o euro ainda não conseguiu granjear.

 

Mas o "Brexit" seria, também, o princípio do fim do projeto de integração europeia, uma vez que desencadearia uma vertigem nacionalista que obliteraria a chamada solidariedade europeia e mergulharia o Velho Continente nas trevas. Pese embora a evolução política recente não permita descartar uma deriva nacionalista na Europa, parece-me que o "Brexit" pode até ter um efeito positivo. Como Westminster tem, desde os primórdios, sido um fator de bloqueio ao aprofundamento da integração europeia, a sua saída de cena esbateria a heterogeneidade da União, potenciando a convergência do projeto europeu em torno do euro. Finalmente, o afastamento da Grã-Bretanha pode ter um importante valor de reserva estratégica, pois como sabemos, ela foi uma peça crucial na contenção dos imperialismos expansionistas que por várias vezes varreram a Europa continental, como foi o caso da França napoleónica e da Alemanha nazi.

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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