Opinião
O sonho de Trump
Trump sabe que pela dinâmica atual a China se aproxima cada vez mais dos EUA em todos os domínios e que para inverter esta tendência é preciso capital: económico, financeiro e geopolítico.
A FRASE...
"Make America great again."
Donald J. Trump, Twitter, (quase) todos os dias
A ANÁLISE...
O sonho de Trump é travar o declínio da posição hegemónica dos EUA no mundo ou, pelo menos, impedir que esse estatuto seja conquistado pela China.
Trump sabe que pela dinâmica atual a China se aproxima cada vez mais dos EUA em todos os domínios e que para inverter esta tendência é preciso capital: económico, financeiro e geopolítico. À luz deste desafio - e não da justeza dos seus objetivos - a estratégia de Trump, apesar do seu estilo peculiar, parece consistente e, quiçá, acertada.
Na vertente económica a ideia é simples: reindustrializar a economia, tornando-a mais competitiva através do corte de impostos, da desregulação da atividade e de uma política comercial mais agressiva.
No plano financeiro, a ideia é tragar recursos do resto do mundo para financiar a perenidade da Pax Americana, o que está a ocorrer via influxo de capital gerado pela combinação de estímulos orçamentais com subidas das taxas de juro da Fed. A concomitante apreciação do dólar traz como bónus reduzir o custo de financiamento da dívida pública dos EUA e limitar a capacidade da China em adquirir ativos estratégicos no estrangeiro.
Na dimensão geopolítica Trump sabe que o poderio militar ímpar dos EUA lhe confere uma substancial vantagem negocial. Para a manter, Trump tem de garantir superioridade militar, mas também prevenir a constituição de uma aliança euro-asiática Europa-Rússia-China antagónica à América. Daí a relação ambígua (plena de avanços e recuos) de Trump com Putin e os líderes europeus, a sua maior proximidade ao Japão e o inesperado abraço a Pyongyang.
Mas tudo isto são variações ao tema principal: a disputa pela hegemonia mundial vai-se decidir na arena tecnológica - na era dos robôs e da IA o trunfo populacional vale pouco. Nesse sentido, a ação política de Trump, incluindo as gincanas "twíticas", mais parece uma cortina de fumo dedicada a ofuscar a sua intenção em lutar com a China pela supremacia científica e tecnológica exclusiva dos EUA. Será assim? E sendo, terá sucesso?
Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
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