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22 de Outubro de 2018 às 22:35

O TARGET italiano a não abater  

Para domar a rebeldia orçamental de Itália bastaria aos líderes europeus nada fazer. A pressão exercida pelos mercados sobre as finanças italianas levaria o governo a hastear a bandeira branca sob pena de ter de se ejetar do euro.

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A FRASE...

 

"(…) Contágio por via da debilidade das ações dos bancos [italianos] pode espalhar-se pela [área do] euro fora."

 

Bloomberg, 9 setembro de 2018

 A ANÁLISE...

 

Na sequência da crise das dívidas soberanas, a Europa endureceu as regras de disciplina orçamental, mas os mecanismos sancionatórios mantiveram-se intrincados e delongados. Na prática, a disciplina é aplicada pelos investidores que, ao desertar o mercado de dívida pública dos países desviantes da ortodoxia orçamental, causam a explosão dos custos de financiamento dos respetivos Estados. Este círculo só se quebra com uma intervenção política, especialmente se provinda do BCE, dada a sua capacidade inesgotável para rechaçar ataques especulativos.

 

Daqui resulta que para domar a rebeldia orçamental de Itália bastaria aos líderes europeus nada fazer. A pressão exercida pelos mercados sobre as finanças italianas levaria o governo a hastear a bandeira branca sob pena de ter de se ejetar do euro. Essa foi a estratégia seguida com a Grécia em 2015 quando o então governo grego quis desafiar a Europa de Schaüble. Acontece que esta estratégia dificilmente será aplicada a Itália.

 

Primeiro, o Sr. Schaüble já não está. Segundo, os dois partidos que sustentam o governo italiano não temem a insolvência do Estado porque não temem a saída do euro. Terceiro, a falência do soberano italiano e consequente colapso da banca transalpina causaria estragos em toda a Europa. Quarto, metade das colossais poupanças externas alemãs em euros está, na prática, aplicada em ativos italianos, por via do TARGET 2, que funciona como a câmara de compensação dos bancos centrais dos países do euro. Como o saldo credor do Bundesbank no TARGET 2 é de cerca de um bilião de euros (30% do PIB alemão) e o saldo devedor da Banca d'Italia está perto de meio bilião de euros, a saída de Itália do euro implicaria uma perda potencialmente irreversível de parte importante do aforro das poupanças das famílias e empresas alemãs. Estas são razões bastantes para não abater o alvo italiano, ainda que não o fazer seja atirar para a frente um enorme problema. Mas, como sabemos, a procrastinação é uma arte que a Europa tem vindo a sublimar nos últimos anos.

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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