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José M. Brandão de Brito 24 de Setembro de 2018 às 20:56

Só o que arde cura

A Fed só deixará de subir as taxas e drenar liquidez se os EUA entrarem em recessão ou se houver um dominó de bancarrotas nos mercados emergentes ou uma quebra nos mercados financeiros ou… tudo junto.

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A FRASE...

 

"Desde 1950 houve 13 ciclos de subida das taxas de juro [da Reserva Federal], 10 deles acabaram em recessão [nos EUA]."

 

David Rosenberg, Business Insider, 25 de maio de 2017

 

A ANÁLISE...

 

O efeito centrípeto da reversão à média tão prevalecente em economia é uma garantia de que muitos dos problemas se resolvem com o tempo. Não se sabe é quando, sendo que em alguns casos o processo de normalização pode ser tortuoso. 

 

A economia mundial encontra-se muito desequilibrada, com os EUA a crescer a um ritmo alucinante, mas a Europa a abrandar, a China em persistente perda de vigor e os mercados emergentes, em geral, a debaterem-se com as consequências do triplo choque decorrente da apreciação do dólar, da subida das taxas de juro americanas e do abrandamento da economia chinesa.

 

A singular robustez dos EUA no contexto global resulta de um enorme impulso orçamental, previsto durar até meados de 2019, e que está a gerar um sobreaquecimento da economia, sob a forma de desemprego muito baixo, aceleração salarial e pressões inflacionistas. Perante este quadro, a Reserva Federal (Fed) não tem alternativa à intensificação da subida das taxas de juro, o que tende a fortalecer o dólar, com efeitos adversos para as economias emergentes devido aos seus elevados níveis de endividamento em dólares. Acresce que a depreciação das moedas emergentes faz aumentar os défices comerciais dos EUA, instigando o belicismo comercial da Administração Trump, o que acaba por penalizar ainda mais os mercados emergentes, as suas moedas e a sua dificuldade em servir a dívida em dólares, num ciclo que só termina quando a Fed parar de normalizar a sua política monetária, uma vez que todos os ciclos de endurecimento de política monetária da Fed acabaram em recessão nos EUA ou no colapso sistémico das economias emergentes. Por isso a Fed só deixará de subir as taxas e drenar liquidez se os EUA entrarem em recessão ou se houver um dominó de bancarrotas nos mercados emergentes ou uma quebra nos mercados financeiros ou… tudo junto.

 

No meio disto, a Europa sofre com a fragilidade dos mercados emergentes - destino crucial para as suas exportações - e com a crescente multiplicidade de dúvidas existenciais.  

 

Artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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