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Filipe Garcia - Economista 25 de Março de 2014 às 21:20

"Portugal - A Economia de Uma Nação Rebelde"

A situação económica e financeira do país tem sido terreno fértil para a publicação de obras sobre Portugal, talvez a um ritmo nunca antes visto no panorama literário nacional.

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A diversidade é grande: há livros mais históricos e descritivos e os que são mais voltados para os números. Uns com pretensões políticas, opinativos e de comentário, outros mais populistas. Nem sequer faltam os romances. Acabado de publicar e de ser apresentado, "Portugal - A Economia de Uma Nação Rebelde" traz alguma coisa de novo?

 

Félix Ribeiro apresenta-nos um livro sério, propondo um desafio arrojado e complexo: definir o papel de Portugal no espaço global e as escolhas que o país deverá fazer para, nas palavras do autor, evitar ser um "protectorado germânico" ou uma "feitoria chinesa". Na capa do livro lê-se: "Como mudar, como ganhar. Agora!" - é uma fasquia alta.

 

Grande parte da obra apoia-se em artigos já publicados pelo Departamento de Prospectiva e Planeamento (DPP) e de outros organismos da esfera pública orientados para a produção de ideias sobre conjuntura e geopolítica. Não espere perspectivas de carácter empresarial ou privadas - elas estão ausentes.

 

O livro começa, e bem, por apresentar de forma lúcida as sete escolhas que Portugal fez desde a década de 80 e que influenciaram a História recente. O autor passa a apresentar quatro secções em que descreve ao pormenor o percurso de económico de Portugal, contextualizando-o. Neste domínio o livro é muito rico, faltando apenas a referência a alguns dados em concreto. Aludir aos números raramente constitui a preocupação central do autor, o que decorre de se tratar de um livro de carácter analítico.

 

É na 5.ª e última secção que finalmente se aborda o futuro. Mas, infelizmente, é apenas no último dos onze capítulos de "Portugal - A Economia de Uma Nação Rebelde" que o autor apresenta a sua opinião sobre as escolhas que o país deve fazer. Nesse sentido, desilude a promessa feita na capa porque o livro é 85% de passado e apenas 15% de ideias para o futuro.

 

Sobre as propostas, cabe ao leitor apreciar a sua bondade e exequibilidade. Félix Ribeiro aponta para reformas em quatro áreas: sistema financeiro, sistemas de apoio e protecção social, gestão da terra e fiscalidade. Aborda, resumidamente, temas como a presença de Portugal na EU, a necessidade de um viés atlântico, a eventual reestruturação da dívida e o papel das exportações.

 

Não tenho dúvidas em colocar este "Portugal - A Economia de Uma Nação Rebelde" no meu Top 3 de obras descritivas da economia Portuguesa do pós-Guerra a par de "Economia portuguesa, as últimas décadas" de Luciano Amaral e de "As contas Politicamente Incorrectas da economia portuguesa" de Ricardo Arroja. Mas não consigo deixar de confessar alguma desilusão por não se ter demonstrado a rebeldia da nação portuguesa e por notar que o desafio populista que se enuncia na capa é incoerente com o livro.

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