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22 de Dezembro de 2016 às 07:00

2016: O antissistema e os mercados no ano dos cisnes negros

A vitória do Brexit no Reino Unido, a eleição de Donald Trump nos EUA, o "impeachment" de Dilma Rousseff no Brasil, o golpe de Estado falhado na Turquia e a situação na Síria foram particularmente importantes, sobretudo pelo impacto que deverão ter nos próximos anos.

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Estes acontecimentos têm como ponto de união, de uma ou outra forma, serem manifestações ou tentativas de atuação contra o poder instituído e os media. Aliás, o "status quo" e a imprensa convencional são os grandes derrotados de 2016, um ano de aceleração de mudança.

Nos mercados, destacaram-se os máximos históricos consecutivos nas ações em Nova Iorque. O "bull market" já vai com sete anos e meio e são várias as métricas que indicam um mercado "caro", o que se agravará à medida que as taxas de juro continuarem a subir. Um indicador de alerta é a alavancagem do mercado, medido pela "margin debt", que já ultrapassou os níveis de 2000 e 2007.

Avisos não faltam, mas ainda não há sinais de inversão de tendência no imediato, com o mercado a antecipar algumas medidas de estímulo eventualmente a implementar por Trump. Pode considerar-se que a subida das ações é também um refúgio face à progressiva perda de confiança no sistema monetário, nos governos e na dívida soberana, numa passagem da exposição de ativos públicos para privados.

Um segundo destaque foi, precisamente, o mercado obrigacionista. O "bull market" das obrigações começou na década de 80 nos EUA e nos anos 90 na Alemanha. Obrigações a subir em tendência constituiu a normalidade desde que os mercados financeiros se democratizaram e a esmagadora maioria dos gestores de ativos nunca esteve perante outro cenário. Pois bem, em 6 de julho os 10 anos norte-americanos atingiram 1,32%, para iniciar uma subida rápida (cotaram já acima de 2,6%) e que se está a propagar a quase todas as geografias. O "bull market" das obrigações pode ter chegado ao fim nesse dia, anunciando um "admirável mundo novo" para os mercados, economias, empresas, gestores de fundos e governos. Poderá ser a fonte de grande instabilidade financeira em 2017 e 2018.

O terceiro destaque foi o dólar forte. Face ao euro, o dólar esteve dentro de um intervalo - $1,05 a $1,17 - desde março de 2015, saindo dessa "baliza" em dezembro após a FED subir taxas e dar a entender que o fará mais três vezes em 2017. O dólar atingiu rapidamente máximos de mais de 13 anos face ao euro e ao cabaz de moedas Dollar Index. A tendência de fortalecimento do dólar permanece em desenvolvimento, o que constitui por si só uma ameaça a alguns dos objetivos de Donald Trump.

O quarto destaque de 2016 foi a execução de testes de transações de vários tipos, por parte de instituições de referência, sob o sistema "blockchain" - que permite o registo de transações permanente e à prova de violação. Ainda não é claro como a "blockchain" se vai desenvolver e aplicar, mas provavelmente será um tema central nos próximos anos até pelo seu potencial de desafiar um conjunto de poderes instalados, nomeadamente os Estados.
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