Indústria Futebol

Esta não é a primeira vez que analisamos um livro acerca de futebol no "Puramente". Mas, se há seis anos o tema era José Mourinho e, mais concretamente, os seus exemplos de liderança, agora o desafio é mais tangível e circunscrito.

Em "Indústria Futebol" não se fala de comportamentos, treino ou confiança, mas sim de modelos de viabilidade e desenvolvimento para o futebol e, em particular, para o futebol português.

O autor deste livro é Henrique Pais, ex-diretor da Porto Comercial e ligado ao "Grupo FC Porto" durante 12 anos, Depois, como descreve na nota introdutória, manteve-se ligado ao futebol português, nomeadamente na Liga de Clubes. Os objetivos do livro, segundo o autor, são "acrescentar algo para o crescimento e desenvolvimento da indústria do futebol em Portugal" e, mais em concreto, "encontrar o melhor modelo de exploração dos direitos televisivos para os clubes profissionais".

O prefácio é escrito por António Oliveira, que defende a inevitabilidade da centralização dos direitos televisivos no futebol. Depois, Henrique Pais divide as suas ideias em duas partes. Na primeira, apresenta o que me parece ser a sua principal mensagem: a forma como os conteúdos do futebol português são distribuídos é ineficaz e ineficiente. A centralização da negociação dos direitos, a ser feita pela Liga, e a criação de um novo canal de televisão apenas com futebol português permitiria obter até o dobro das receitas atuais e alargaria o mercado potencial. Na segunda parte, o autor idealiza alterações aos modelos competitivos, mas apenas numa perspetiva da entidade organizadora e com o objetivo de maximizar receitas.

É verdade que o autor nos diz várias vezes no livro que não pretende assumir um papel no futuro desta "indústria" em Portugal, encarando este texto como um mero contributo. Mas, naturalmente, o Henrique Pais conhece perfeitamente este "mundo" para compreender que o livro, as ideias que defende e o autor do seu prefácio serão certamente interpretados como uma mensagem e um posicionamento para o futuro.

Mas, reforço, o mais importante em "Indústria Futebol" é ser um olhar técnico. Pode, ou não, concordar-se com as proposta apresentadas, mas a simples leitura deste livro ajuda a conhecer o "negócio" com razoável detalhe. Estou certo de que o público em geral não tem noção dos números, suportes e possibilidades que envolvem o futebol português e, nesse sentido, "Indústria Futebol" é um contributo raro.

Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros

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