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Os mísseis e o destino da Síria

O ataque dos EUA ao exército sírio pode marcar uma alteração nos contornos do conflito e acabar com a aparente aliança de Trump com Putin. Ou as encenações servem para esconder a realidade?

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Aparentemente tudo é muito claro: a aviação síria atacou com armas químicas, os EUA atacaram pela primeira vez, de forma directa, as tropas de Bashar al-Assad e as relações russo-americanas ficaram periclitantes. Mas no labirinto do Médio Oriente há várias leituras que têm segundos sentidos. A primeira é a razão por que os sírios atacariam com armas químicas, sabendo que isso levaria a uma retaliação. E há quem considere que Bashar al-Assad, confrontado com as negociações nos bastidores entre americanos e russos para uma "divisão" de poderes (e limites geográficos) na Síria, quis colocar Moscovo e Washington em confronto. É uma hipótese. Por outro lado argumenta-se que para Donald Trump era importante mostrar uma atitude rude face à Rússia devido às pressões internas que o têm colocado com linha directa ao Kremlin. Em Moscovo a ideia é que esta foi uma distracção táctica utilizada por Trump. Sabe-se que americanos e russos apoiam a autonomia curda na Síria e isso não é bem visto por Assad.

 

Mas é claro que internamente na Casa Branca o poder está a deslocar-se, com um crescente poder do "establishment" no sector da defesa e da política externa. A saída de Steve Bannon do Conselho Nacional de Segurança e o poder dos generais na administração evidenciam isso. É claro que para Vladimir Putin este ataque às forças sírias é mau para a crescente reputação de Vladimir Putin no Médio Oriente, onde a Rússia estava a estabelecer-se nas cinzas da política de Barack Obama na região. Assim todos querem manter a face. Mas para os maiores inimigos de Assad este pode ser um "volte-face". Posição diferente tem o Irão. Para Teerão, Assad é um aliado fulcral na região, já que lhe permite expandir a sua influência para lá das fronteiras do Iraque xiita. Ao mesmo tempo garante-lhe acesso ao Mediterrâneo, ao Líbano e, claro, a Israel. Até agora a acção do Daesh tem permitido virar as opiniões públicas ocidentais contra a opção dos seus governos por condenarem Assad, mas a situação agora parece estar mais complicada. A Turquia voltou também a elevar a voz contra Assad e pediu "zonas de exclusão aérea". Só que estas serão quase impossíveis de implementar se não existir um consenso com a Rússia, que ali tem bases aéreas e navais. Por outro lado estão no terreno milhares de Guardas da Revolução iranianos, outro entrave a uma lógica de desarmamento na Síria. As sombras adensam-se sobre o futuro do conflito sírio.

 

China/EUA: um jantar sem todos os condimentos

 

O jantar de Donald Trump com Xi Jinping em Mar-a-Lago decorreu no meio da ofensiva americana contra o regime sírio. Algo que não serviu para causar nenhuma indigestão, porque se a China tem apoiado discretamente Assad, não faz da sua defesa um princípio irredutível. O Presidente chinês, nesta sua visita aos EUA, tinha outros assuntos mais importantes para tratar com Trump, depois de um período muito frio após a eleição do Presidente americano. É claro que duas culturas diferentes estavam à mesa: os chineses sempre foram defensores de uma diplomacia clássica, enquanto Trump não faz segredo das suas opiniões e opções. Algo que choca com o mundo secreto onde se move a elite chinesa.

 

 

Mas não era isso que estava em causa. O encontro entre os dois Presidentes foi o culminar de semanas de intensas negociações entre os dois países, e havia (e continua a haver) importantes divergências, sobretudo sobre as relações comerciais e a Coreia do Norte. O resultado foi, por isso, vago. Xi Jinping terá acordo no início de negociações sobre comércio que permitam o aumento das exportações americanas e a redução do défice comercial dos EUA com a China. Jinping também terá acordado aumentar a cooperação para limitar o programa nuclear norte-coreano, embora não tendo apresentado qualquer fórmula concreta para o fazer.

 

Não deixa de ser curioso como, passados alguns dias, uma esquadra dos EUA (com um porta-aviões) se tenha deslocado para perto das águas da Coreia do Norte, com o objectivo claro de pressionar o regime de Kim Jong-un, num jogo de consequências imprevisíveis devido ao carácter nuclear da Coreia do Norte. Ou seja, Trump e Jinping jantaram. Mas nem todos os condimentos eram comuns.  Resta saber como será a digestão.

 

Turquia: referendo aproxima-se

 

Dia 16 de Abril realiza-se na Turquia o referendo nacional que poderá permitir ao Presidente Recep Tayyip Erdogan reforçar os seus poderes, algo que é defendido pelos seus seguidores e criticado pelos opositores. A campanha foi marcada pela violência verbal com alguns países da União Europeia, onde ministros apoiantes de Erdogan desejavam fazer comícios de apoio ao líder turco e à sua proposta de reforma constitucional. O Presidente turco tem criticado a oposição, nomeadamente a liderança dos republicanos do CHP, por estes terem comentado que a tentativa de golpe de Estado era do conhecimento do Governo. Erdogan já afirmou que depois do referendo "não hesitará" em restaurar a pena de morte.

 

Timor-Leste: apoio da UE

 

A União Europeia vai apoiar Timor-Leste com um orçamento de 57 milhões de euros nos próximos cinco anos, no quadro de um acordo de cooperação assinado na última semana em Díli entre as duas partes. Os fundos destinam-se sobretudo a financiar o treino de quadros e a diversificação da economia, muito dependente das receitas de petróleo. Entre as iniciativas estão um programa agro-florestal e um outro feito com o Instituto Camões, de apoio às instituições do Estado e privadas.

 

China: investimento no Brasil

 

O investimento das empresas chinesas no Brasil totalizou os 51,7 mil milhões de dólares no período entre 2005 e 2016. Por outro lado, a evolução das relações comerciais entre os dois países fez com que a China se tenha tornado o principal destino das exportações, competindo com a União Europeia, a América Latina e as Caraíbas. Nesse aspecto ganha visibilidade o comércio com o Rio Grande do Sul, devido às suas produções de arroz, tabaco e cereais. 27,5% das exportações do Rio Grande do Sul destinaram-se à China. 

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