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[756.] "Uma princesa não fuma", da Direcção-Geral da Saúde

O poder político nunca está satisfeito com a publicidade a si mesmo, pelo que Ministério e Direcção-Geral fizeram, digamos assim, um anúncio sobre o anúncio, para poderem brilhar.

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O vídeo, de nome "Opte por Amar Mais", é uma encomenda do Ministério e da Direcção-Geral da Saúde. O argumento, de duas alunas de 18 anos da Escola Profissional de Artes, Tecnologia e Desporto, foi realizado por um dos sócios da empresa de realizadores, Original Features.

 

O poder político nunca está satisfeito com a publicidade a si mesmo, pelo que Ministério e Direcção-Geral fizeram, digamos assim, um anúncio sobre o anúncio, para poderem brilhar. Antes de o vídeo "estrear" numa sala de cinema em concreto (!), fizeram uma apresentação e anunciaram que a Organização Mundial de Saúde tinha gostado muito dele. O anúncio foi divulgado pela internet e em salas de cinema. É suposto passar em canais de TV em Novembro.

 

Há um filme de 16 minutos, mas o anúncio resume em 1'08 a narrativa. A filha imita a mãe: penteia-se como ela, enfarinha-se como ela a cozinhar, dança como ela, finge fumar um cigarro enquanto a mãe fuma; o pai fotografa-as. Aos 20', está a mulher com cancro; ainda fuma; a filha imita-a com um cigarro por acender. A mãe cambaleia no jardim, onde a filha brinca sozinha às princesas, no que parece ser o dia de anos; a mãe tira um cigarro aceso que está espetado num bolo, mas parece haver um problema de "raccord", porque no plano seguinte ela destrói esse (?) cigarro apagado. A narrativa termina com a menina ali, ao colo da mãe. O filme economiza nas palavras. Em off, a voz da mãe vai dizendo "promete-me (…)… que vais ser sempre a minha princesa… e lembra-te… uma princesa… não fuma…" Só neste "não fuma" a voz coincide com a imagem; a mulher olha amorosamente para a filha como pela última vez.

 

O filme pretende chocar, com a imagem da mulher cancerosa e a próxima orfandade da menina, e emocionar, uma vez que se baseia no amor maternal. O péssimo título "Opte por Amar Mais" indica que se pretende criar sentimento de culpa nas fumadoras: estás-te nas tintas para a tua saúde, mas não estejas para a das crianças, sendo mãe ou quando fores. Não sendo perfeito, o filme passa a mensagem de que fumar pode matar. Dirige-se a um público-alvo, as mulheres, seguindo estatísticas indicando que elas são mais renitentes a deixar de fumar.

 

Nesse sentido, é exagerada a crítica do publicitário João Gomes Almeida (i online) ao vídeo, considerando-o "um grande saco de nada", com "uma trampa" de slogan, com uma ideia "tudo menos criativa" concretizada num "amontoado de clichés". Almeida esquece que a publicidade não é feita para publicitários. Tem, entretanto, razão na crítica ao Ministério por não ter aberto concurso público para a campanha.

 

Andava ainda o Ministério nas acções de propaganda (a si mesmo) e já a deputada Isabel Moreira lhe estragava a festa. Com o seu habitual fascismo de esquerda, Moreira acusou o anúncio de machismo e misoginia. A deputada não tolerou uma ficção (!) centrada numa mulher que, vejam só, é mãe e tem uma filha. A ficção, para ela, "é inadmissível" e "deve ser retirada", isto é, proibida. O Bloco de Esquerda, habitual no fascistamente correcto, veio logo atrás. A Comissão da Igualdade (CIG), na qual também impera o fascismo fracturante, acrescentou "esfola!". A directora-geral de Saúde, Graça Freitas, especialista em pôr-se de acordo com o poder político, já mostrou abertura para "alterar" a campanha. O realizador e as estudantes argumentistas disseram-se perplexos com as reacções. Pudera! Para eles, como para milhões de portugueses, haver famílias com pai, mãe e filhos é comum e tratar a filha por princesa é uma expressão de amor, não é uma forma de reaccionarismo aristo-machista-misógino.

 

A histriónica deputada, o excitado Bloco e o efervescente publicitário Almeida, que concordou com eles, têm todo o direito à opinião, que se baseia naquilo que viram à luz dos seus princípios ideológicos. O que é alarmante é essa opinião enquadrar-se neste novo fascismo, que quer censurar, proibir e impor-se como pensamento único em democracia.

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