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[738.] CascaiShopping, Alfa Romeo, Volvo, Teka, Super Bock

Os franceses, há 30 anos, tentaram parar a invasão de anglicismos por decreto. Não serviu de nada, porque, a falar, o povo é quem mais ordena. Não espanta por isso que o slogan - lá está: o slogan, em inglês - do CascaiShopping seja "the next". 

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Um centro comercial português, de um empresa portuguesa, anuncia para portugueses todas as novidades da sua renovação com palavras em inglês: Imax, kitchen, playground e lounge. Para o CascaiShopping, o natural é o inglês. Não se pode levar a mal. Esta tendência global toca a todos e, não havendo queixas, agrada a todos.

 

Os franceses, há 30 anos, tentaram parar a invasão de anglicismos por decreto. Não serviu de nada, porque, a falar, o povo é quem mais ordena. Não espanta por isso que o slogan - lá está: o slogan, em inglês - do CascaiShopping seja "the next". 

 

Next anúncio! Os publicitários de automóveis continuam sem conseguir sair do binómio razão-emoção. Têm de dar um título ao anúncio e, pumba!, lá vem  paixão ou emoção. Houve um recente de BMW que repetia paixão, mas foi a única coisa que reparei no reclame. O modelo Giulia Quadrifoglio de Alfa Romeo diz-nos que o seu "componente mais importante é a emoção". Não é o motor, o design, o interior, nada disso. É a emoção.

 

Também há poesia. Noutro anúncio de Alfa Romeo, ao modelo Stelvio, o título parece dum daqueles romances que chegam aos topos de vendas: "Pergunte ao vento se os motores rugem."

 

Há solução para estas banalidades e patetices? Há, pois. Um anúncio de Volvo S90 e V90 apresenta-se sem título, sem essas frases gastas ou pirosas. Não precisou de palavras para chamar a atenção. Bastou uma fotografia adequada dum dos modelos, visto de trás, numa rua, em imagem aparentemente captada de longe com uma lente de aproximação: ao mostrar o carro assim, chama o olhar para o detalhe da paisagem urbana, e esse detalhe é um dos modelos da marca.

 

Os electrodomésticos Teka anunciam-se com amor e carinho. Num dos reclames, a jovem mulher cozinha com alegria para o jovem de barba que, agradecido por ela cumprir o papel de fada do lar, a beija enquanto ela corta uma cenoura. No canto interior esquerdo, dois tomates aguardam a faca. A linha de electrodomésticos da marca, incluindo esta chaminé de fogão, chama-se Wish, e por isso a narrativa da mulher-objecto-do-macho pode terminar com felicidade, meio em inglês: "O meu desejo é wish."

 

O texto é um pequeno conto. Fez-me lembrar o mito urbano da história escrita em seis palavras por Hemingway: "Vendem-se sapatos de bebé. Por usar." Os publicitários de Teka aplicaram-se bem na escrita rápida de minicontos e, claro, não escreveram uma tragédia como a falsamente atribuída a Hemingway. É, para voltar ao inglês, uma "romantic comedy". Tal como numa receita culinária, a história é uma lista: "1. Fazer-lhe o prato favorito. 2. Deixar a casa sem cheiros. 3. Ele dizer sim." Casaram-se e foram felizes para sempre com a sua chaminé Wish de motor Ecopower, "mais eficiente e silenciosa".

 

Entretanto, na sua tradicional veia humorística, a marca cervejeira Super Bock brindou-nos com "a cheia de Natal", em que a ceia é representada pelo topo de um copo de cerveja com a espuma transbordando em forma de borda do barrete do Pai Natal. Outras duas graças têm menos graça, mas o anúncio que me chamou a atenção foi o que diz "Acabar bem é começar de novo. Feliz 2018!" Pensei que era gralha e que o "é" estaria em vez da conjunção "e". Eis a frase que eu esperaria: "Acabar bem e começar de novo." Mas não, não se enganaram. Os publicitários são todos, agora, uns moralistas de pacotilha e dão-nos lições em pastilhas, como se escrevessem mandamentos nos seus murais no Facebook. A frase passa a dizer que começar é acabar e fica sem lógica. Que interessa isso aos Gustavos Santos da publicidade? Os publicitários de Super Bock optaram pela versão tipo mandamento da lei de Facebook para não ficarem de fora da onda moralista que está na moda deles - e que está a dar cabo da publicidade. 

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