Opinião
[678.] Visionamento diferido de intervalos publicitários
Podem os operadores generalistas e os anunciantes dormir descansados: no visionamento diferido, através das gravações automáticas ou manuais, os espectadores não deixam de ver os anúncios. Pelo contrário.
Os últimos dados de audiência incluindo o visionamento diferido no próprio dia e nos sete dias seguintes são os 11 de Setembro, à data em que escrevo, terça-feira.
Dos 20 intervalos publicitários mais vistos, 14 ganharam espectadores com o visionamento diferido e apenas seis mantiveram a mesma audiência média. Os ganhos podem ser interessantes. O intervalo com maior audiência consolidada ganhou 1,3% de audiência média em relação ao visionamento "em directo" do programa. O segundo chegou a mais 0,9% espectadores. Foram ambos intervalos de "Casa dos Segredos 6", que estreava nessa noite.
A medição da audiência diferida, no próprio dia e na semana seguinte, começou oficialmente em Janeiro na audimetria da GfK para a CAEM. Dados agregados a meu pedido pela MediaMonitor mostram um aumento da audiência dos quatro generalistas (bastante mais da SIC e da TVI), mas especialmente dos canais de cabo, em especial os de filmes, infantis, séries e os noticiosos portugueses. No geral, mais de 40 canais ganham audiência com a facilidade técnica do visionamento diferido. O "rating" dos intervalos é, porém, menor do que os conteúdos. Por exemplo, o programa mais visto em 11 de Setembro, "Casa dos Segredos 6", teve uma audiência média de 12,9% sendo a dos seus oito intervalos (oito!) entre 12,6% e 8,0%. Mas são perdas pequenas e que correspondem à audiência que via o programa cerca da hora a que ocorreram os intervalos.
Já no segundo programa mais visto do dia, "The Voice Portugal" (RTP1), apesar da excelente audiência do conteúdo (11,8%), os intervalos ficaram muito atrás, com 6,6% e, 6,1% e 5,0%. Este último às 21h00, quando os dos canais comerciais cerca desse horário atingem quase ou ultrapassam o dobro dessa audiência. Justifica-se com a pouca audiência que o Telejornal "entregou" ao começo de "The Voice Portugal", que foi acumulando audiência dos primeiros minutos (cerca de 6%) até ao final (quando chegou a atingir 14% de "rating"). Este diferencial resultou, assim, do horário escolhido pela RTP1 para a colocação dos intervalos no programa.
O aumento da audiência da publicidade com o visionamento diferido, embora menor do que o da audiência dos próprios programas, é um alívio para os operadores, pois garante mais receitas e ganha plena justificação dos espectadores para a sua existência: podendo evitá-los quando usam as boxes no visionamento diferido, poucos espectadores passam à frente. Por que motivos? Só perguntando-lhes poderíamos saber. Mas pode deduzir-se que, para a maioria deles, a publicidade dos intervalos faz parte do visionamento normal de TV ou, no mínimo, que querem ver ou apenas vêem os conteúdos tal como são apresentados "em directo": com anúncios pelo meio. Foi minoritária a audiência que passou à frente os anúncios no dia em análise. Isto significa que pelo menos os canais privados sabem programar os intervalos e que os espectadores acham que vale a pena ver a publicidade.
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