Opinião
Rumo a África, obviamente
A realidade é o que é, e a dimensão, o potencial e o ritmo de evolução de África tornaram-se incontornáveis: 54 países, 900 milhões de habitantes, taxas de crescimento que fazem inveja à velha Europa e EUA, reservas de matérias-primas alucinantes, populações jovens e classes médias por construir, projectos brutais de infra-estruturas e geração de energia, melhorias na qualidade das instituições em muitos países, e uma saudável ambição que fervilha nos centros políticos e de negócios.
Das empresas brasileiras de construção aos industriais europeus; das firmas americanas de engenharia aos potentados chineses e indianos em busca de matérias-primas; das instituições multilaterais aos bancos de investimento e "private equities" que preparam veículos dedicados - os olhos de todo o mundo pairam sobre África, que se tornou no "the new new". Depois da Ásia, da América Latina, das "dotcoms", da indústria do luxo, do imobiliário e de todas as modas que fizeram o carrossel das subidas e descidas da última década, os decisores globais apontam as agulhas para este continente, tão antigo como vibrante, tão apaixonante como adiado. Assim como o Brasil conheceu um extraordinário desenvolvimento nas últimas décadas, desfazendo o anátema de "país eternamente do futuro", as estrelas parecem agora alinhadas para África.
Entre vários casos de êxito, Moçambique é claramente uma das estrelas do momento. Tal resulta de uma constelação de características felizes: capacidade provada para ser um grande "player" mundial no sector da mineração e gás natural, bom nível dos recursos humanos e funcionamento eficiente e previsível dos organismos públicos, receptividade a investimento estrangeiro, estabilidade política e clara visão de futuro sobre os projectos estruturantes para o país, e por fim uma curiosa cultura misturando elementos da tradição lusófona com a influência anglo-saxónica.
Tudo isto são óptimas notícias para as empresas portuguesas. Numa primeira fase haverá espaço para as áreas de engenharia/projectos e para os prestadores de serviços nas áreas críticas da logística, abastecimentos e manutenção de infra-estruturas. As empresas nacionais que desenvolveram competências nestas áreas e se depararam com a contracção do mercado interno têm aqui oportunidades de ouro. E bastantes já mudaram o "chip", reinventando-se na frente externa, o que permitirá não apenas a sobrevivência, mas mesmo a prosperidade para os melhores e mais velozes. Quando sopram ventos fortes há quem se abrigue e há quem por outro lado construa moinhos.
Mas é preciso perceber que a agenda empresarial em África é radicalmente distinta da realidade europeia, onde o que se exige é reestruturar, vender activos, reduzir dívida. Do lado de lá o jogo é outro: vencerá quem apostar em estratégias de crescimento acelerado, construindo empresas robustas, investindo fortemente em tecnologia, desenvolvendo ofertas de serviços inovadores e credíveis, colocando excelentes equipas de gestão no terreno (que potenciem os quadros locais), fazendo as parcerias adequadas, afirmando marcas de forte reputação e ambicionando presenças regionais alargadas. Lembremo-nos sobretudo que África é um terreno de elevado risco/elevado retorno, de possibilidades abertas e falhanços frequentes, de tiros de partida entusiasmantes e caminhos difíceis - onde só os combativos, os perseverantes e os destemidos triunfam; mas estes triunfam de forma exponencial.
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