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05 de Abril de 2010 às 11:52

Benditos mercados

O PEC trouxe o melhor estímulo para a economia portuguesa de que há registo nos últimos anos: um ambicioso programa de privatizações. Esta nova vaga de alienações terá um profundo impacto na liberalização da nossa economia, estimulará a produtividade e uma...

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O PEC trouxe o melhor estímulo para a economia portuguesa de que há registo nos últimos anos: um ambicioso programa de privatizações. Esta nova vaga de alienações terá um profundo impacto na liberalização da nossa economia, estimulará a produtividade e uma saudável alocação dos recursos e reduzirá a margem para a discricionariedade das acções políticas.

Ao ciclo das "grandes estratégias" e das opções dirigistas seguir-se-á a fase das apostas racionais e da busca de valor. Às orientações veladas através de "golden shares" seguir-se-ão mandatos claros no sentido da competitividade e dos resultados. A qualidade das equipas de gestão tenderá a melhorar, pois os executivos profissionais serão a regra, cada vez com menos excepções. Viver-se-á um ambiente mais puro, mais exigente, mais entusiasmante.

Se a primeira onda de privatizações, iniciada nos governos de Cavaco Silva, gerou enormes ganhos ao trazer os dinossauros públicos para a senda da concorrência, os resultados desta segunda edição poderão ser ainda mais duradouros. Porque a verdade é que muitas das grandes companhias estatais foram apenas semi-privatizadas, mantendo-se o Estado com uma posição accionista minoritária, com "golden shares" ou com participações via CGD. Em consequência, as antigas empresas públicas melhoraram muito, mas não tanto como podiam. A partir de agora sim, as amarras hão de soltar-se de forma irreversível.

A dimensão do programa - no fundo a necessidade de elevado encaixe - é a melhor garantia de que o tempo da iniciativa privada está mesmo para chegar. Obter seis mil milhões de euros implica vender muitos activos, em diversos sectores. O que resultará numa miríade de oportunidades. E como a actual gestão prudencial dos bancos desaconselha o financiamento de capitalistas sem capital, todo o xadrez da economia nacional entrará em processo de renovação. Grupos de accionistas emergentes terão o seu momento, novos "players" empresariais surgirão, atrair-se-á capital e "know-how" estrangeiro, operadores de "private equity" farão o seu trabalho, uma distinta estirpe de gestores vingará - os que forem capazes de navegar num mar mais aberto. Tudo isto é libertador, tudo isto é movimento, tudo isto é positivo.

Este novo caminho vem demonstrar o inescapável carácter pendular das políticas económicas. No mundo "pós-sub-prime" e pós- -Lehman, os mercados passaram a ser vilipendiados e emergiu como óbvia a resposta baseada em programas de emergência e estímulos via procura.
Mas não há almoços grátis, nem que sejam refeições bem intencionadas e Keynesianas, pelo que os défices públicos excessivos lá apareceram, à sobremesa. Pouco tempo depois, os mercados (afinal não tão irracionais como se apregoava) sugerem de bandeja a solução para o monstro da dívida: a venda de activos. Portugal, como outros países, chega lá por pragmatismo e não por convicção. O resultado será o mesmo: um valente choque, com elevado potencial transformador. Pode ser que o motor para a saída do nosso Estado de letargia esteja precisamente aqui, nesta transferência maciça de recursos da esfera pública para a dinâmica privada. Apesar das dificuldades de partida - aliás, por causa dos remédios que estas impõem - a nova década promete ser interessante.





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