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07 de Maio de 2018 às 19:19

Mutualismo - (I)

O Grupo CGD controla cerca de um quarto do mercado - encontra-se "a braços" com um programa de retracção da sua operação global, tanto a nível doméstico como internacional.

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1. Em artigos anteriores procurei discutir o contributo que duas das nossas mais importantes instituições cooperativas e mutualistas - Crédito Agrícola e Montepio - podem dar no âmbito do esforço de modernização e desenvolvimento económico e social.

 

Volto a este tema por dois tipos de razões: por um lado, informações recentes sobre a maior destas instituições - o Grupo Montepio; por outro, a situação do mercado bancário e os seus reflexos sobre o financiamento da actividade económica.

 

O nosso mais importante mecanismo de intermediação financeira - o mercado bancário, à luz do peso marginal de fontes alternativas de financiamento - passa por um processo de redimensionamento e de consolidação, com reflexos claramente negativos sobre o financiamento do tecido produtivo. Evolução que tenderá a acentuar-se à medida que crescer o controle dos principais bancos por investidores externos.

 

A análise dos fluxos líquidos de crédito mostra como a generalidade dos bancos se tem "virado" para os segmentos de mercado que sempre preferiu - consumo e habitação/imobiliário. O movimento de consolidação bancária que está a ser favorecido pelos supervisores europeus vai acentuar este processo, na medida em que contribui para concentrar o crédito às empresas num número cada vez mais reduzido de bancos.

 

É neste contexto que ganham importância dois tipos de questões: uma reorganização do nosso sistema financeiro que induza o aparecimento de fontes e de instrumentos alternativos de financiamento do tecido produtivo; o papel que podem e devem desempenhar as instituições que se mantêm protegidas do controle externo - Grupos Caixa Geral de Depósitos (CGD), Montepio e Crédito Agrícola.

 

Proponho-me abordar a primeira questão em próximos artigos, no âmbito de uma avaliação da evolução recente da nossa economia. Quanto à segunda, há que ter em conta que os três Grupos enfrentam desafios distintos, em função da sua dimensão, segmentos tradicionais de mercado e níveis de capitalização. O mais importante dos três - o Grupo CGD controla cerca de um quarto do mercado - encontra-se "a braços" com um programa de retracção da sua operação global, tanto a nível doméstico como internacional. Não são públicas as linhas que orientam este programa, para além de referências à necessidade de assegurar a remuneração dos capitais. Desconhece-se por isso o papel e o peso que esta instituição - seguramente uma das mais importantes da República - se propõe ter como instrumento das políticas públicas de modernização e de desenvolvimento económico e social.

 

2. As organizações mutualistas - Crédito Agrícola e Montepio - podem, neste contexto, tirar partido do "recuo" da banca comercial, desde que mantenham a sua ligação aos grupos sociais que integram os seus nichos de mercado. O que depende sobretudo da preservação dos seus princípios fundadores e da resposta que encontrarem para as profundas alterações que se estão a verificar na intermediação financeira. Não vou neste artigo acrescentar nada ao que já escrevi nesta coluna sobre os desafios e as oportunidades do Crédito Agrícola. Permaneço convencido que estes passam por um redesenho do seu modelo de governo, no âmbito de um processo de simplificação das funções da Caixa Central e de recentragem do seu modelo de negócio(*).

 

Já no que refere ao Grupo Montepio, tinha tomado a decisão de aguardar informações sobre a evolução recente da sua situação financeira e patrimonial, antes de avaliar o contributo que esta importante instituição pode dar no contexto actual. As que foram entretanto conhecidas deixam mais dúvidas que certezas. (A continuar). 

 

(*) - A banca cooperativa e mutualista

 

Economista

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