Opinião
Relançamento e reforma da economia - (VII)
No contexto actual é assim crucial dotar o nosso mercado financeiro com instituições especializadas, com o objectivo de diversificar as fontes e os instrumentos de dívida, de modo a financiar o investimento e a inovação tecnológica, indispensáveis à modernização do tecido produtivo.
Na verdade, as operações de "Quantitative Easing" (QE) estão a provocar uma acumulação de volumes crescentes de liquidez, sem que tal conduza a aumentos dos fluxos de financiamento às economias. Situação em que os Estados são os principais beneficiários das acções do BCE, ao financiar os seus déficits e o serviço dos stocks de dívida a taxas historicamente baixas.
Como, em contrapartida, a Europa do euro tem mantido políticas orçamentais restritivas - pelo menos até ao eclodir da pandemia - a abundância de liquidez não tem sido transmitida como financiamento aos agentes económicos - empresas e famílias - o que, por sua vez, se reflecte num baixo nível da procura, com particular prejuízo do investimento e da inovação.
É neste quadro que assumem uma importância crítica dois tipos de questões: a primeira, refere-se á reorientação dos princípios que têm condicionado as políticas fiscais/orçamentais na Zona Euro, de modo a activar a liquidez acumulada nos mercados pela política monetária, encaminhando-a para a "economia real" e relançando a procura no pós-pandemia. Questão que abordei no artigo anterior, quando referi o peso das posições tradicionais alemãs no futuro da Europa do euro; a segunda questão prende-se, por outro lado, com a reorganização dos mercados financeiros do euro através do desenvolvimento de mercados integrados de capitais na Europa do euro, com objectivos múltiplos: melhorar o financiamento do investimento e da inovação, em particular das PME; induzir um processo de robustecimento da estrutura financeira das empresas - questão central para muitas PME, como veremos ao abordar o financiamento na nossa economia; robustecer os mercados financeiros do euro, aumentando a sua capacidade para absorver choques. Questão crítica dada a particular vulnerabilidade a choques sistémicos dos mercados bancários, formados por intermediários - bancos - que acumulam "risco próprio" nos seus balanços; aumentar a eficácia dos mecanismos de transmissão dos impulsos da política monetária que actualmente se propagam essencialmente através dos mercados interbancários que, desde a crise financeira, permanecem com um elevado nível de fragmentação; por último, criar condições - institucionais, jurídico/regulamentares/prudenciais e operacionais - para que a integração dos mercados financeiros do euro nos mercados financeiros mundiais deixe de se fazer sobretudo através dos mercados bancários e das mega-instituições financeiras norte-americanas - grandes bancos de investimento e super-fundos. O que depende do desenvolvimento de mercados de capitais integrados na área do euro.
No contexto actual é assim crucial dotar o nosso mercado financeiro com instituições especializadas, com o objectivo de diversificar as fontes e os instrumentos de dívida, de modo a financiar o investimento e a inovação tecnológica, indispensáveis à modernização do tecido produtivo. Em particular, instituições especializadas no financiamento de operações como: capitalização e redimensionamento de PME, energias "limpas", sectores exportadores mais dinâmicos, inovação tecnológica, "start-ups", exploração florestal e desenvolvimento do "interior", etc. (a continuar).