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23 de Março de 2021 às 09:40

Relançamento e reforma da economia - (VII)

No contexto actual é assim crucial dotar o nosso mercado financeiro com instituições especializadas, com o objectivo de diversificar as fontes e os instrumentos de dívida, de modo a financiar o investimento e a inovação tecnológica, indispensáveis à modernização do tecido produtivo.

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1. Entre os problemas com que a Europa do euro se debate, os mecanismos de intermediação financeira assumem uma importância central: por um lado, o financiamento das economias do euro depende dos mercados bancários que atravessam um período de retracção e de recentragem dos seus modelos de negócio tradicionais; por outro, a política monetária do BCE - que permanece como o garante da estabilização dos mercados financeiros do euro - está a esgotar a sua capacidade para influenciar a procura, ao mesmo tempo que distorce a avaliação do risco nos mercados.

Na verdade, as operações de "Quantitative Easing" (QE) estão a provocar uma acumulação de volumes crescentes de liquidez, sem que tal conduza a aumentos dos fluxos de financiamento às economias. Situação em que os Estados são os principais beneficiários das acções do BCE, ao financiar os seus déficits e o serviço dos stocks de dívida a taxas historicamente baixas.               
                                                                                                 

Como, em contrapartida, a Europa do euro tem mantido políticas orçamentais restritivas - pelo menos até ao eclodir da pandemia - a abundância de liquidez não tem sido transmitida como financiamento aos agentes económicos - empresas e famílias - o que, por sua vez, se reflecte num baixo nível da procura, com particular prejuízo do investimento e da inovação.

É neste quadro que assumem uma importância crítica dois tipos de questões: a primeira, refere-se á reorientação dos princípios que têm condicionado as políticas fiscais/orçamentais na Zona Euro, de modo a activar a liquidez acumulada nos mercados pela política monetária, encaminhando-a para a "economia real" e relançando a procura no pós-pandemia. Questão que abordei no artigo anterior, quando referi o peso das posições tradicionais alemãs no futuro da Europa do euro; a segunda questão prende-se, por outro lado, com a reorganização dos mercados financeiros do euro através do desenvolvimento de mercados integrados de capitais na Europa do euro, com objectivos múltiplos: melhorar o financiamento do investimento e da inovação, em particular das PME; induzir um processo de robustecimento da estrutura financeira das empresas - questão central para muitas PME, como veremos ao abordar o financiamento na nossa economia; robustecer os mercados financeiros do euro, aumentando a sua capacidade para absorver choques. Questão crítica dada a particular vulnerabilidade a choques sistémicos dos mercados bancários, formados por intermediários - bancos - que acumulam "risco próprio" nos seus balanços; aumentar a eficácia dos mecanismos de transmissão dos impulsos da política monetária que actualmente se propagam essencialmente através dos mercados interbancários que, desde a crise financeira, permanecem com um elevado nível de fragmentação; por último, criar condições - institucionais, jurídico/regulamentares/prudenciais e operacionais - para que a integração dos mercados financeiros do euro nos mercados financeiros mundiais deixe de se fazer sobretudo através dos mercados bancários e das mega-instituições financeiras norte-americanas - grandes bancos de investimento e super-fundos. O que depende do desenvolvimento de mercados de capitais integrados na área do euro.

2. É à luz deste quadro que deve ser avaliada a situação da intermediação financeira entre nós. Questão que assume uma importância crítica quando nos propomos lançar programas dirigidos ao relançamento e à reforma da nossa economia. Importância que compreendemos se tivermos presentes as limitações do modelo de negócio tradicional dos nossos principais bancos comerciais, quando se trata de financiar o tecido produtivo. Em artigos anteriores chamei já a atenção para a forma como a banca comercial tradicional tende a contribuir para a reprodução de um tecido produtivo atomizado e pouco eficiente.

No contexto actual é assim crucial dotar o nosso mercado financeiro com instituições especializadas, com o objectivo de diversificar as fontes e os instrumentos de dívida, de modo a financiar o investimento e a inovação tecnológica, indispensáveis à modernização do tecido produtivo. Em particular, instituições especializadas no financiamento de operações como: capitalização e redimensionamento de PME, energias "limpas", sectores exportadores mais dinâmicos, inovação tecnológica, "start-ups", exploração florestal e desenvolvimento do "interior", etc. (a continuar).

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