Opinião
Advento, vento e invento
Hoje deixo a economia e a política em pousio. Falo do Advento, de vento e de invento. Tudo junto, falo do tempo de notícias sobre o tempo.
Não há dia que passe que não haja um distrito sob a ameaça de um qualquer alerta de cores que vão desde o amarelo ao laranja e ao encarnado. É a versão tecnocrática do que, antes, se chamava, tão sábia e simplesmente, Inverno e Verão.
Chove durante umas horas seguidas e aí está um alerta com garantia de abrir um telejornal. Há umas rajadas de vento, cai um aguaceiro forte, as temperaturas descem a uns "insuportáveis" 10º graus positivos e logo se acendem as luzes de um meteorológico semáforo. Técnicos são entrevistados como se o apocalipse estivesse iminente!
Trata-se estes assuntos com tal ridículo dramatismo que não faltam os avisos de que temos de usar agasalhos para o frio, guarda-chuva para a chuva, beber água para o calor, etc.... não vá o povo esquecer tão sábios conselhos.
Recordo-me de, no Verão, um noticiário televisivo ter aberto com uma reportagem (em directo, imagine-se!) sobre uns pingos de chuva que, em Agosto, caíam numa praia do Algarve!
Onde é que está a novidade, a diferença, a notícia, o alarme? A banalização dos alertas acaba por estiolar o sentimento de prevenção individual e colectivo face a situações graves que, infelizmente, acontecem.
P.S.: Li, com espanto, o título de 1.ª página do JdN de ontem: "Pensões ainda pagam menos taxas que salários". Ao ler o desenvolvimento percebi que a comparação toma em conta, do lado do trabalhador activo, os 11% que desconta de TSU! Como se esta fosse um imposto e não uma contribuição destinada a reverter mais tarde sob a forma de prestações sociais e de reforma. Assim se juntaram "alhos com bugalhos".
Economista e ex-ministro das Finanças em governo PSD/CDS
Assina esta coluna semanalmente à quarta-feira
Nota da Direcção: O objectivo do trabalho do Negócios a que Bagão Félix se refere foi verificar a partir de que patamares é que um pensionista levará para casa uma reforma líquida inferior ao salário líquido de um trabalhador. Para aferir o salário líquido de um trabalhador será necessário retirar-lhe também a taxa social única. A opção por esta metodologia sai reforçada pelo facto de a contribuição especial de solidariedade (CES) ser equiparada, para efeitos de IRS, a uma contribuição para a Segurança Social (embora se possa questionar se o é efectivamente). Também o relatório do Orçamento do Estado para 2013 justifica a diferença entre os patamares da CES com os cortes aplicados desde 2011 aos funcionários públicos com a taxa social única suportada pelos trabalhadores, pelo que ela deve ser levada em linha de conta. Por fim, a metodologia foi validada pela FSO Consultores, que fez as simulações para o Negócios.