Opinião
A[c]ta ou desata?
Entre as brumas noticiosas sobre (in)convenientes comparações na União (?) Europeia surgiu uma notícia que passou quase despercebida.
Refiro-me à intenção do Brasil de adiar para 2016 a entrada em vigor do Acordo Ortográfico [AO] prevista para 1/1/2013, por iniciativa dos ministros das Relações Exteriores e da Educação (com, neste contexto, os apropriados nomes António Patriota e Aloízio Mercadante). O adiamento surgiu depois das críticas de destacados professores de Português e de um abaixo-assinado, com 20 mil subscritores. "O acordo é uma colcha de retalhos e está muito confuso. Acredito que tanto Portugal como o Brasil vão pedir para que ele seja revisto", desabafou um senador brasileiro.
Cá, o Governo na altura da ratificação (2008) quis ser mais "acordês" do que o acordo, tendo determinado a sua aplicação apressada no sistema educativo e em todos as entidades públicas. Fora do Estado, muitas não quiseram ficar atrás.
Agora, está instalada a confusão. Angola continua sem aprovar o AO e está mais preocupada com negócios em Portugal. O Brasil adia a sua efectividade. E um elemento crucial do AO - o Vocabulário Ortográfico Comum - continua por ver a luz do dia.
Em vez de nos preocuparmos em combater a indigência gramatical que se vai tornando a norma, acelerámos a entrada em vigor de um Acordo que empobrece a língua portuguesa optando pela unicidade da estúpida prevalência do critério fonético (a propósito, por que razão o h não foi às malvas?) em detrimento da raiz etimológica.
Ainda estamos a tempo de impedir este equívoco e não sermos meros espe[c]tadores. Pergunto: o nosso Governo - mesmo sem a[c]ta da decisão brasileira - ata ou desata? E será que na versão AO "ninguém para o Governo" ou que na versão não AO "ninguém pára o Governo"?
Economista e ex-ministro das Finanças em governo PSD/CDS
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