Opinião
A desunião europeia
Pela enésima vez a União Europeia … desuniu-se. Uma rotina que só não o é totalmente porque, de vez em quando, muda o assunto.
Agora foi por causa do Orçamento comunitário para 2014-2020. Com egoísmos de toda a espécie, desde a "PAC de la France" ao "british rebate" e outras malfeitorias entre contribuintes líquidos e beneficiários brutos. E nas habituais versões: Comissão versus Conselho, países mais ricos versus países mais pobres, Norte versus Sul, e Reino Unido à parte. Nada de novo, portanto. Nem a leste nem a oeste.
Uma UE dividida entre a Europa do poder cada vez mais restrito, a Europa do cheque cada vez mais reclamado e a Europa regulamentar dos eurocratas preocupada com a dimensão da gaiola dos galináceos ou o perímetro das maçãs…
Na UE decidir começa sempre por um outro verbo: adiar. Uma Europa que mastiga os problemas entre proclamações, declarações e considerações. Quando passa à acção, oscila entre andar a passo de caracol ou de tartaruga e é incapaz de pôr em pé um projecto de desenvolvimento solidário que, não beneficiando o infractor, tenha a capacidade de partilhar riscos próprios de uma construção unida.
Líderes incapazes ou até ignorantes, estrategicamente impreparados e que apenas governam em função do curto-prazo e das eleições seguintes soluçam a cada questão que se lhes coloque tornando o projecto europeu cada vez mais baço, inconsistente, incoerente e distante das pessoas.
O tempo que na União se despende a avançar (?) com reformas institucionais, financeiras ou regulatórias são a infeliz prova de que enquanto os adiamentos as fazem esquecer, o resto do mundo avança inexoravelmente. A Europa é cada vez menos relevante na economia global onde já representou 40% da produção e hoje desce para níveis inferiores a 20%.
Economista e ex-ministro das Finanças em governo PSD/CDS
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