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A política económica para enfrentar o coronavírus

O risco que se enfrenta não é apenas de saúde pública. O coronavírus parece estar a ser a faísca que incendeia a pólvora que a política económica andou a acumular na última década sob o pretexto do combate à grande crise financeira de 2008.

A necessidade de conter o alarmismo que a presente situação de alastramento da infecção pelo coronavírus pode suscitar não nos pode impedir de enfrentar com seriedade a realidade que temos pela frente.

A formulação de políticas para enfrentar a pandemia deveria prever o cenário pior. A possibilidade do pior cenário é real, como bem sabem os epidemiologistas: o vírus pode ultrapassar os cientistas, deixando-os impotentes na tentativa de contenção do vírus. A confiança na ciência não pode iludir esta realidade que comporta o perigo de uma grande pandemia, semelhante à gripe espanhola de 1918. As grandes pandemias são raras, são autênticos cisnes-negros, mas podem ocorrer, levando ao colapso dos sistemas de saúde, com escassez de médicos e aumento dos preços dos bens e serviços de saúde.

O risco que se enfrenta não é apenas de saúde pública. O coronavírus parece estar a ser a faísca que incendeia a pólvora que a política económica andou a acumular na última década sob o pretexto do combate à grande crise financeira de 2008. As políticas laxistas dos bancos centrais criaram a ilusão de eficácia com sucessivas fugas em frente, levando a aumentos inusitados dos preços das acções e de redução do desemprego para níveis de sonho – tudo demasiado bom para ser sustentável. Um incidente poderia desencadear o que estava inscrito como consequência inevitável daquela política. Isto, infelizmente já está a ocorrer. Os primeiros movimentos significativos não enganam: quebra brutal dos preços nos mercados de acções e das “commodities” e refúgio dos investidores nos títulos do Tesouro americano e consequente queda dos seus juros para níveis nunca vistos.

O coronavírus está a provocar choques de procura e de oferta. Mas os choques de oferta dominam, com enormes perturbações nas cadeias globais de produção. As medidas de política económica para enfrentar a situação não podem ignorar este facto. Por outro lado, deverá pensar-se no pior cenário (pandemia grave de longo alcance) – que não é improvável – e não apenas no curto prazo e em situação ligeira e passageira.

 

A formulação de políticas para enfrentar a pandemia deveria prever o cenário pior.



É fundamental resistir à tentação de acentuar o laxismo na política monetária e de regresso aos deficits na política orçamental. Tal será ineficaz e mesmo perverso, considerando as tensões acumuladas nos volumes da massa monetária e das dívidas públicas e privadas.

O foco tem de ser a oferta, sustentando e estimulando a produção em todos os sectores, com especial ênfase nos ramos farmacêutico e da saúde em geral. Os movimentos requeridos são:

1) Facilitar o aparecimento de cadeias de produção alternativas às que já estão agora em ruptura;

2) Aliviar e adiar os impostos;

3) Reduzir a regulação e burocracia que penalizam a produção;

4) Baixar as barreiras (alfandegárias e outras) à circulação dos produtos.

Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico


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