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Mercados receiam que Oi seja obrigada a dizer “adeus” aos credores

O fim das conversações com a TIM aumentou os receios de que a Oi tenha de reestruturar a dívida. A empresa contratou assessores para encontrar um plano B, numa altura em que as obrigações dão sinais de elevado stress.

Bloomberg
03 de Março de 2016 às 07:30
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São 20,3 mil milhões de reais (4,8 mil milhões de euros) que a Oi tem de pagar até ao final de 2017. A empresa tem uma dívida líquida total de 37,2 mil milhões de reais (8,8 mil milhões de euros) e a recusa da TIM em prolongar as negociações tendo em vista uma fusão, bem como a expectativa de que as operações da Oi continuem a "queimar" dinheiro, levam os analistas a temerem perdas para os obrigacionistas da empresa brasileira.

A resposta da Oi aos receios e aos problemas de financiamento passou pela contratação de assessores financeiros, entre os quais a norte-americana PJT Partners, segundo a imprensa brasileira.

Mas as perspectivas não são as melhores, com algumas entidades a considerarem que o mais provável é que a Oi seja forçada a infligir perdas aos credores. "Vemos uma reestruturação da dívida como o cenário base para a Oi", defendem os analistas da entidade especializada na análise de crédito, CreditSights, numa nota a investidores.

Explicam que "apesar de a Oi ter tomado alguns passos positivos, os desenvolvimentos regulatórios, financeiros e macroeconómicos não melhoraram de forma suficientemente rápida para mudarmos o nosso cenário base de reestruturação".

Os cortes de "rating"

O plano A da Oi para resolver os problemas com que se depara passava pela fusão com a TIM, que tinha inerente uma injecção de capital de quatro mil milhões de dólares (3,7 mil milhões de euros) por parte do fundo russo Letter One que estava a promover essa operação. Mas este veículo de investimento informou, a 25 de Fevereiro, que a TIM não pretendia aprofundar as conversações para a fusão com a Oi.

O falhanço do plano A levou a uma sucessão de cortes de "rating". A Standard & Poor’s, a Fitch e a Moody’s foram rápidas a baixar a notação. "Acreditamos que a empresa agora enfrenta maiores desafios para reduzir o seu alto endividamento", referiram os analistas da S&P, que baixaram o "rating" de BB+ para B-. E avisaram que têm a Oi sob "vigilância de crédito com implicações negativas, indicando que poderemos baixá-los em mais de um grau nos próximos três meses, dependendo da estratégia da Oi para reduzir a sua dívida".

A Fitch também cortou o "rating", de BB para B, e mantém a empresa em vigilância negativa. Após a fusão com a TIM ter caído por terra, os analistas da agência consideraram que "é improvável uma recuperação significativa do perfil de crédito da empresa, no curto a médio prazo, baseada nos fundamentos operacionais".

A Moody’s foi ainda mais violenta. Cortou o "rating" em quatro níveis. Explicou que "já que não há visibilidade para outra fusão ou injecção de capital que possa levar a uma descida da alavancagem, a um perfil de maturidades de dívida mais confortável, a uma flexibilidade financeira mais forte, vemos um risco elevado de iniciativa de reestruturação de dívida nos próximos 12 a 18 meses que envolverão, provavelmente, perdas para os credores".

As reservas financeiras a esfumarem-se

A venda da PT Portugal à Altice permitiu que a Oi aumentasse as reservas de que dispõe. No final do terceiro trimestre de 2015, data das últimas contas da operadora brasileira, o valor em caixa e equivalentes era de 16,4 mil milhões de reais (3,9 mil milhões de euros). "O nível substancial de dinheiro no balanço da Oi dá algum potencial de contrapeso, mas estamos muito cautelosos quanto à perspectiva de que isso será um meio para compensar os credores", referem os analistas da CreditSights.

O problema é a velocidade com que a Oi está a "queimar" o dinheiro em caixa. "Com o passar do tempo, a empresa continuará a apresentar fluxo de caixa operacional livre negativo, reduzindo a sua ainda significativa posição de caixa", referiu a S&P. E, dada a situação financeira delicada, isso levará a uma desvantagem competitiva, alimentando ainda mais o problema.

"Apesar de estar a descer devido aos esforços de corte de custos da empresa, a "queima" de dinheiro ainda é elevada e acreditamos que isso possa influenciar a decisão da Oi de reduzir os investimentos na rede, o que teria impacto negativo na sua posição competitiva", consideram os analistas da Moody’s.

Já os analistas da CreditSights acreditam que "apesar de em teoria o dinheiro no balanço da Oi fornecer liquidez suficiente até 2017, se tivermos em conta a 'queima' de dinheiro, é provável que fique sem liquidez ainda durante 2016". Acrescentam que factores relacionados com "a regulação, a economia e a dinâmica competitiva implicam, provavelmente, que a Oi continue a queimar dinheiro antes de juros e é muito incerto o quão severa será esta 'queima' e quanto tempo irá durar".

De referir, no entanto, que além da liquidez no balanço, a empresa brasileira garantiu uma linha de crédito de 1,2 mil milhões de dólares (1,1 mil milhões de euros) com o China Development Bank, no final de 2015.

Obrigações da Oi sob pressão

As indicações dadas pelo mercado também mostram sinais de alerta. Uma das séries de obrigações da empresa, denominada em dólares, viu a taxa exigida pelo mercado mais do que duplicar desde o anúncio de que não havia acordo para uma fusão com a TIM. A "yield" passou de 22% para 46%, segundo dados da Bloomberg. Os títulos transaccionam a valer apenas 20% do seu valor nominal.

Ainda assim, os receios dos analistas são de tal ordem que aconselham os clientes a resistirem à sedução destes aparentes saldos. "Dada a visibilidade limitada nesta altura, permanecemos cautelosos com as obrigações da Oi, mesmo a estes níveis deprimidos", refere o CreditSights.

Na bolsa, os títulos da empresa também têm sido castigados. Perderam 25% nas cinco sessões após a TIM ter optado por ficar fora de jogo. Este desempenho reflecte-se também nas acções da Pharol, que detém directa e indirectamente 27,5% da Oi. As acções da antiga PT SGPS desvalorizam 27% nas últimas cinco sessões. 

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