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Dívida de Portugal apanhada no turbilhão Trump

As taxas das obrigações dispararam um pouco por todo o mundo após a eleição de Trump. Portugal não foi excepção, com os juros a chegarem ao valor mais elevado desde o Brexit. É um alerta de que o período de taxas baixas não irá durar para sempre.

Jonathan Ernst/Reuters
15 de Novembro de 2016 às 00:01
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As obrigações são uma das maiores vítimas nos mercados da vitória de Donald Trump nas eleições da semana passada. Um pouco por todo o mundo, o valor das obrigações afunda e as taxas de rentabilidade disparam. E já se questiona se a era Trump marcará o princípio do fim dos juros baixos.

A dívida portuguesa não passa ao lado desta tendência. A taxa a dez anos chegou a atingir esta segunda-feira os 3,682%, o valor mais alto desde o Brexit. A subida seria refreada para 3,541% no final da sessão. Antes das eleições nos EUA, a taxa era de 3,222%. Para já, o aumento aparenta não levantar grandes alarmes, segundo alguns analistas contactados pelo Negócios.

"Portugal é seguramente um dos mais expostos a choques. Mas antes de se carregar no alarme esperaríamos que este período de volatilidade termine", refere Jean-Christophe Machado, analista do Natixis. Mas se a tendência permanecer, o Tesouro corre o risco de ver a tarefa de financiamento complicar-se.

Financiamento difícil?

A escalada dos juros ocorre numa altura em que falta a Portugal um leilão de obrigações do Tesouro (OT) para completar o financiamento de médio e longo prazo  do ano. Na passada quinta-feira, Cristina Casalinho havia referido ao Negócios que "ainda existe a possibilidade de realização de um leilão de OT até final do ano, assegurando regularidade de presença de mercado".  Para o Commerzbank essa operação poderá avançar na próxima semana.  Entretanto, esta quarta-feira há uma espécie de ensaio com uma operação de financiamento de curto prazo de até 1.500 milhões em bilhetes do Tesouro. 

Mas se o plano de financiamento de 2016 está praticamente completo, o banco alemão levanta algumas preocupações sobre como se fará a gestão da dívida no próximo ano. "A reapreciação das obrigações dos governos da Zona Euro torna os 16 mil milhões de euros de obrigações previstos pelo IGCP a emitir no próximo ano uma tarefa mais difícil", refere David Schnautz, estratego do Commerzbank.

Já Paula Carvalho refere que ainda é cedo para tirar conclusões. "Por enquanto estamos longe de níveis preocupantes, ainda que o prémio de risco de Portugal esteja elevado comparativamente a outros periféricos", diz a economista-chefe do BPI.

No entanto, caso a tendência de subida  persista, Paula Carvalho refere que "no limite, a escalada de juros pode ter implicações no plano de financiamento".  Explica que "caso a pressão persista, pode levar ao adiamento do reembolso antecipado do empréstimo ao FMI, que se prevê que seja de 1,5 mil milhões de euros em 2017; e pode fazer aumentar o peso das emissões de curto prazo". Além do cancelamento do reembolso, o Tesouro pode ainda tentar apostar mais no retalho ou utilizar parte da almofada financeira.

Jean-Christophe Machado admite que "se esta tendência continuar, Portugal pagará mais para se financiar". Mas  realça que "o plano de financiamento não deverá ficar ameaçado". E recomenda que "antes de si tirar quaisquer conclusões o melhor é esperar para ver o que Trump irá fazer, já que isso aparenta ser actualmente o principal foco dos movimentos no mercado".

Apesar da flexibilidade do financiamento, a DBRS, a única agência que mantém Portugal no radar do BCE, tinha alertado na última avaliação que "um período prolongado de taxas de juro elevadas podia impactar negativamente as dinâmicas da dívida".

O fim dos juros baixos?

A escalada global dos juros após  a eleição nos EUA é explicada pela aposta do mercado  de que o plano de Trump leve a mais crescimento e inflação. E que isso resulte numa subida mais rápida que  o previsto dos juros por parte da Fed.

Mas apesar de muitos analistas estarem ainda com uma abordagem de esperar para ver o que Trump realmente trará aos mercados, Paula Carvalho retira uma conclusão da evolução das taxas nos últimos dias: "A actual tendência recorda sobretudo que o contexto de juros muito baixos é temporário e que o regresso a uma fasquia mais elevada pode ocorrer mais cedo que o previsto".

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