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Trump provoca perda de 1 bilião às obrigações
A vitória do republicano nas eleições está a provocar uma forte pressão vendedora no mercado de obrigações, com os investidores a anteverem uma subida da inflação e uma aceleração da economia.
Os obrigacionistas em todo o mundo perderam um bilião de dólares em apenas dois dias. A "culpa" é de Donald Trump e a factura ainda deverá aumentar, já que estas perdas dizem apenas respeito às últimas duas sessões da semana passada e a forte queda dos títulos de dívida soberana está a agravar-se esta segunda-feira.
Os juros das obrigações soberanas estão hoje em forte alta em todo o mundo, atingindo os títulos de maior risco (como as obrigações soberanas dos periféricos do euro) e os activos considerados de refúgio, como as bunds alemãs.
A Reuters diz mesmo que a vitória de Trump nas eleições pode marcar o fim do "bull market" no mercado de obrigações, que já dura há cerca de 30 anos. As expectativas de crescimento mais elevado na economia e inflação dos Estados Unidos está a levar os investidores apostar nas acções em detrimento das obrigações, explica a agência de notícias.
A perda de 1 bilião de dólares (920 mil milhões de euros) em apenas duas sessões foi a mais forte desde o início de 2015. Esta segunda-feira os juros da dívida europeia estão em forte alta, com a "yield" das bunds a subirem para máximos de Janeiro. Também nos EUA os juros agravam-se para máximos do início do ano, com a "yield" das obrigações a 30 anos a superarem os 3%.
O dinheiro que está a sair do mercado obrigacionista está a ser colocado no dólar, nos principais mercados accionistas e em alguma matérias-primas. O índice do dólar contra as principais moedas mundiais está em máximos de Fevereiro, o valor dos mercados accionistas aumentou um bilião de dólares na semana passada e os metais registaram a maior subida semanal em quatro anos.
Efeito Trump
O efeito Trump está assim a anular o impacto da actual política monetária expansionista que está a ser praticada pela maioria dos bancos centrais mundiais, em particular na Europa.
O programa económico de Donald Trump assenta no aumento do investimento público e gastos orçamentais, o que leva os investidores a acreditar que a maior economia do mundo vai acelerar e a inflação subir. O que deverá levar a Reserva Federal a ser mais agressiva na subida das taxas de juro.
"Estamos a assistir a uma alteração do sentimento no mercado de obrigações. Os investidores já estão a realocar as carteiras das obrigações para as acções", comentou à Reuters Jeffrey Gundlach, CEO da DoubleLine Capital, gestora de activos sedeada em Los Angeles.
"Vamos assistir a uma subida dramática nas ‘yields’? É ainda muito cedo para tirar conclusões", disse à mesma agência Mihir Worah, da PIMCO.
Os analistas alertam que o fraco crescimento da economia mundial não deverá permitir uma subida acentuada nas "yields" das obrigações nas próximas sessões. E também que é ainda incerto quais as políticas que Trump vai implementar, que podem não ser iguais às que prometeu na campanha.
"Precisamos de mais cautela devido às actuais incertezas. É precisamente o que está a acontecer no mercado obrigacionista", afirma Mark Lindbloom.
Decretar o fim do "bull market" nas obrigações parece assim ainda arriscado nesta altura. "É um pouco cedo para fazer essa declaração", refere Art Hogan, da Wunderlich Securities, em Nova Iorque. Para se materializar esta rotação dos investidores das obrigações para as acções será necessária "uma recuperação da economia global e que os bancos centrais suspendam a actual política monetária acomodatícia".
Em declarações à Bloomberg, outros analistas adiantam que a queda nas cotações das obrigações deve-se mais ao aumento da incerteza do que às perspectivas para a direcção da inflação, PIB e taxas de juro da Fed. A vitória de "Trump introduziu tanta incerteza" que o mercado está a atribuir um prémio a esse factor, "mais do que uma alteração de expectativas sobre a política monetária que vai ser seguida pela Fed. Penso que há espaço para esta tendência continuar", comentou John Davies, da Standard Chartered.