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OPEP+ decide corte de 9,7 milhões de barris/dia. Mas retirada do mercado pode ser de 16 milhões

Após quatro dias de vídeoconferências, está por fim firmado um acordo de corte de produção pela OPEP+, com o México a entrar no entendimento. O acordo é histórico, pelo seu volume, e em Londres o Brent reagiu a disparar 8%, mas rapidamente perdeu fôlego.

As exploradoras de petróleo de xisto nos EUA enfrentam riscos acrescidos com a “guerra de preços” iniciada pelos sauditas.
Nick Oxford/Reuters
12 de Abril de 2020 às 18:57
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A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e os seus aliados (o chamado grupo OPEP+, que inclui a Rússia e o México) conseguiram selar um acordo neste domingo, 12 de abril.

Desde quinta-feira que este acordo estava a ser negociado. Nesse dia foi acordado um corte de 10 milhões de barris por dia para vigorar em maio e junho, mas o México não concordou com a quota de produção que lhe foi destinada e o entendimento esteve "por um fio" (tal como sucedeu em março, mas dessa vez à conta do finca-pé da Rússia).

 

A OPEP+, que conta com os 13 membros do cartel e 10 países parceiros, irá reduzir a sua produção em 9,7 milhões de barris por dia – volume inferior aos 10 milhões acordados inicialmente.

 

"O México parece ter conseguido uma vitória diplomática, uma vez que só terá de cortar a sua produção em 100.000 barris diários - menos do que a sua quota prorrateada", refere a Bloomberg.

Já os EUA, Brasil e Canadá (todos membros do G20 - e que não fazem parte da OPEP+) contribuirão com um corte adicional de 3,7 milhões de barris por dia, comentaram as mesmas fontes à agência noticiosa.

Vão entrar menos 16,2 milhões de barris por dia no mercado

A confirmarem-se estes volumes, seriam menos 13,4 milhões de barris por dia do lado da oferta. Mas entretanto o ministro saudita da Energia já comentou o acordo e disse, citado pela Reuters, que o corte efetivo da OPEP+ será de 12,5 milhões de barris por dia devido ao facto de a Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Koweit terem produzido em abril acima da quota que lhes correspondia antes deste entendimento. Assim sendo, sem prevaricadores, o corte total ascenderá a 16,2 milhões de barris diários.

No mercado de futuros de Londres, o Brent seguia a disparar 8% pelas 23:00 de Lisboa (na abertura da negociação fora do horário regular, o chamado ‘after-hours’), com os investidores animados por este acordo considerado histórico pela sua dimensão nunca antes vista. Mas foi sol de pouca dura e 15 minutos depois seguia a ceder 0,20%, a revelar uma vez mais a elevada volatilidade deste mercado numa altura de grande incerteza quanto ao real impacto económico da covid-19.

 

Recorde-se que a OPEP+ estava a contar com a participação do G20 neste esforço, com uma retirada de cinco milhões de barris por dia por parte dos países produtores desse grupo. No entanto, o Grupo dos 20 não fez referência a qualquer corte de produção no seu comunicado após a reunião que realizou na sexta-feira - e não está ainda claro que as diminuições anunciadas pelo Brasil, EUA e Canadá são o total a que ascenderá o corte por parte dos membros do G20.

Com a pandemia a paralisar o consumo de combustível em todo o mundo, os preços do crude afundaram para mínimos de 18 anos – o que ameaçou não só a viabilidade dos países que dependem das receitas desta matéria-prima mas também o futuro do "shale oil" (petróleo obtido a partir das rochas de xisto betuminoso) nos EUA, já que é um crude obtido de forma mais dispendiosa e as empresas não estão a conseguir manter-se à tona com preços tão baixos.

A recente "guerra dos preços" foi desencadeada a 8 de Março, quando a Arábia Saudita anunciou que iria aumentar a produção a partir de abril e oferecer descontos aos clientes. Esta foi a estratégia definida por Riade depois de Moscovo ter recusado a proposta de um corte adicional de produção – no âmbito do acordo que vigorava entre os países do cartel e os seus parceiros – para sustentar os preços do "ouro negro" perante o impacto do coronavírus Covid-19.

Na quinta-feira, 9 de abril, os preços do petróleo chegaram a disparar 12% nos EUA, mas acabaram o dia a afundar 9% por os investidores anteciparem que os cortes de produção não chegariam aos 20 milhões de barris por dia que chegaram a ser antecipados. Em Londres, o Brent do Mar do Norte, referência para as importações portuguesas, também chegou a subir mais de 10% nesse dia, mas terminou a jornada igualmente em baixa. Na sexta-feira os mercados estiveram encerrados.

A Agência Internacional da Energia disse recentemente que receava que uma retirada de 10 milhões de barris por dia do mercado pudesse não ser suficiente para estabilizar o mercado.

Maior corte de sempre 

Apesar de poder não ser suficiente para reequilibrar a oferta e a procura e de ser inferior ao apresentado na quinta-feira, este é o maior corte de produção de sempre – e vai vigorar até abril de 2022, mas com um decréscimo gradual no seu volume.

"O grande Acordo Petrolífero com a OPEP+ está feito. Isto salvará centenas de milhares de empregos no setor da energia dos Estados Unidos", reagiu Donald Trump na sua rede social de eleição, o Twitter, agradecendo ao presidente russo, Vladimir Putin, e ao rei Salman bin Abdulaziz da Arábia Saudita por terem conseguido levar adiante a assinatura deste acordo.

 

O último corte, que vigorou no primeiro trimestre do ano, estava em 1,7 milhões de barris diários (acrescendo-se a diminuição voluntária de Riade em mais 400.000 barris diários face ao plafond de produção que lhe foi destinado).

 

Na reunião de março, a ideia seria complementar este corte total com mais uma retirada de 1,5 milhões de barris por dia, mas o acordo falhou devido à recusa de Moscovo.



(notícia atualizada pela última vez às 23:18)

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