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Banca-sombra na Irlanda faz soar alarme antes de eleições

O forte peso da banca-sombra na Irlanda está novamente debaixo dos holofotes mediáticos. Alguns dias antes das eleições, o caso do VPB Funding, cujo único propósito era emitir dívida, levanta novas preocupações.

1º Irlanda
24 de Fevereiro de 2016 às 16:52
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Os irlandeses vão às urnas na próxima sexta-feira, 26 de Fevereiro, para escolher o novo Governo do país. Mas, sejam quais forem os novos governantes eleitos, há um problema que continua a ameaçar o sistema financeiro do país. Os chamados bancos-sombra, que representam dez vezes o tamanho da economia irlandesa, podem criar problemas no sector financeiro.

Sediado na capital irlandesa, o VPB Funding mantinha um escritório em Dublin e nenhum funcionário, tendo como única função vender obrigações. Em 2013, emitiu 225 milhões de dólares em títulos sem garantia. Hoje estes títulos não valem quase nada.

A emissão foi organizada pelo russo Vneshprombank, cuja licença foi revogada no mês passado, quando as autoridades do país acusaram a gestão de ter furtado os seus activos e falsificado contas, segundo a Bloomberg.

Este caso veio reabrir a discussão em torno da banca-sombra na Irlanda e os veículos especiais (SPV - Special Purpose Vehicle -, sigla em inglês), como o VPB, entidades não reguladas que emitem dívida na Irlanda em nome das instituições espalhadas pelo mundo.

Num momento em que a Irlanda se prepara para realizar eleições, estes bancos-sombra, que conduzem operações obscuras que contribuíram para acelerar a crise financeira de 2008, podem representar uma nova ameaça para o sistema financeiro irlandês. Os bancos da Irlanda foram fortemente afectados durante a crise financeira, tendo obrigado o Governo a nacionalizar os maiores bancos do país.

Dez vezes o PIB

Ainda que a Irlanda esteja a conseguir recuperar da crise, o forte peso destas actividades não reguladas no sistema financeiro irlandês pode colocar em causa as melhorias realizadas no sector. A Irlanda é um dos países do mundo em que estas firmas com veículos que estão na sombra do sector financeiro têm maior peso, com estes veículos a manterem 2,6 biliões de dólares em activos no país.

O sistema financeiro sombra, que inclui fundos de cobertura de risco, fundos de investimento e seguradoras, representa mais de dez vezes o tamanho da economia irlandesa.

"Há a preocupação que estes veículos irlandeses estejam a exportar o risco para outros sistemas financeiros no mundo e pode haver efeitos de contágio", afirmou Shaen Corbet, da Universidade de Dublin, à Bloomberg.

Segundo um inquérito citado pela agência de notícias, os veículos não regulados, como os SPV, representam um valor estimado de meio bilião de euros. Gareth Murphy, líder da unidade de supervisão de mercados do banco central irlandês, defende uma maior cooperação entre as autoridades, para enfrentar esta actividade que fica na sombra do sistema dos bancos tradicionais.

Mais operações obscuras

Apesar da grave crise financeira de 2008, as actividades desenvolvidas na chamada banca-sombra tem vindo a aumentar a nível global. De acordo com dados citados pela Bloomberg, as firmas não-bancárias que aumentaram crédito mantinham 36 biliões de dólares estimados em activos no final de 2014, depois de terem aumentado a uma média de 1,3 biliões por ano desde 2011.

Perante as ameaças do crescimento dos bancos na sombra, os reguladores, preocupados com a possibilidade dos bancos usarem os empréstimos na sombra para evitar novas regras regulatórias, estão a tentar contabilizar o tamanho desta indústria e desenvolver regras para controlar a actividade.

Até ao final de 2015, estes veículos especiais não tinham a obrigação de alertar o banco central sobre a sua presença em Dublin ou explicar qual o seu propósito, excepto em actividades que tocassem áreas reguladas.

O banco central da Irlanda reconheceu num relatório, publicado em 2015, que os institutos oficiais têm dificuldade em monitorizar as actividades na sombra devido "à complexidade e opacidade das suas transacções". Segundo o relatório citado pela Bloomberg, os maiores emitentes que utilizam estes veículos estão sediados nos EUA, no Reino Unido, na Alemanha, França, Itália, Rússia e Holanda.

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