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À espera de Bruxelas, crowdfunding português "investe" em imobiliário, energia e PME

Conheça três plataformas portuguesas de financiamento colaborativo, apresentadas num evento da CMVM. A reguladora está a avaliar dez pedidos de registo no regime nacional, que será revisto para seguir as regras europeias.

Filomena Oliveira, vice-presidente da CMVM, enquadrou o crowdfunding no movimento de “democratização” do acesso a instrumentos financeiros. Paulo Duarte
António Larguesa alarguesa@negocios.pt 11 de Outubro de 2018 às 17:45

Promoção imobiliária, eficiência energética e micro e pequenas empresas portuguesas. São estes os alvos preferenciais de três plataformas portuguesas de crowdfunding, apresentadas esta quinta-feira, 11 de Outubro, durante uma conferência sobre o financiamento colaborativo enquanto alternativa para os investidores, organizada pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) na Universidade Católica, no Porto.

 

Nesta sessão que fechou um ciclo de eventos sobre fintech no âmbito da Semana Mundial do Investidor, os representantes da Go Parity, da Raize e da IZILEND apresentaram as particularidades e virtualidades das suas plataformas – esta última fê-lo pela primeira vez em público –, como alternativa ao financiamento tradicional, através de dívida bancária, mercado de capitais, empréstimos obrigacionistas, "private equity" ou "business angels".

 

Fazendo questão de enquadrar o crowdfunding no movimento em curso de "democratização" do sector financeiro, com fenómenos como a digitalização a "[tornarem] mais fácil o acesso de todos" a esses instrumentos, a vice-presidente da CMVM, Filomena Oliveira, considerou que a missão da instituição de proteger o investidor num contexto de desenvolvimento do mercado "assume hoje uma importância maior".

 

O nosso sonho era não ter reclamações porque significava que toda a gente tinha tomado decisões informadas. Filomena Oliveira, vice-presidente da CMVM

 

"Proteger o investidor não é aceitar as queixas, tentar que seja ressarcido – que também é. Mas, acima de tudo, é estar a montante disso, a capacitar o investidor. É uma missão formativa. Dar-lhe os instrumentos para que possa tomar decisões responsáveis. O nosso sonho era não ter reclamações porque significava que toda a gente tinha tomado decisões informadas. E se perdeu [dinheiro], decidiu por sua responsabilidade e autonomia", completou a responsável da entidade reguladora.

 

Regras do crowdfunding alteradas via Bruxelas?

 

Em discussão no seio da União Europeia está neste momento uma proposta de regulamento, publicada em Março de 2018, que propõe uma licença única para os prestadores europeus de serviços de financiamento colaborativo de capital ou por empréstimo às empresas. A ideia em Bruxelas é que venha a ser um regime harmonizado de adesão facultativa, a que as plataformas de crowdfunding europeias vão poder aderir, beneficiando na prática de um "passaporte europeu" para se estabelecerem ou prestarem serviços noutros Estados-membros.

 

Este processo legislativo que prossegue no Parlamento Europeu e no Conselho ainda será demorado, mas, assim que esteja concluído, deverá "arrastar" uma revisão do regime português, que desde Fevereiro prevê multas milionárias, para aproximá-lo das regras comunitárias e mantê-lo competitivo face a outros países. Os limites de investimento, os requisitos patrimoniais para as plataformas, a forma de prevenir conflitos de interesses, as acções publicitárias e a exigência de testes de literacia são algumas das matérias em que há disposições distintas entre o regime nacional concluído pela CMVM em Maio de 2016 e a proposta de regulamento europeu que está em cima da mesa.

 

 

O advogado Pedro Sousa Lobo é conselheiro legal da Go Parity.
O advogado Pedro Sousa Lobo é conselheiro legal da Go Parity. Paulo Duarte

 

Go Parity: apoiar a eficiência energética a partir de 50 euros

 

A Go Parity apresenta-se como a primeira plataforma de investimentos sustentáveis, tendo sido "criada com o objectivo de democratizar o investimento e gerar benefícios para o ambiente", apoiando projectos ligados à sustentabilidade e à eficiência energética. "Queremos criar um impacto com retorno. Somos uma plataforma que liga os cidadãos a projectos sustentáveis, a partir de 50 euros de investimento", resumiu Pedro Sousa Lobo, notando que quase todos os projectos em curso são na área do autoconsumo fotovoltaico. Sem comissões – exceptuando a de gestão pela montagem do projecto –, aos investidores deixou a promessa de serem remunerados com juros de 4% a 6% ao ano. O conselheiro legal desta plataforma detalhou que estão registados mais de 1.500 utilizadores (67% são homens), tem 298 investidores e 30% deles investiram em dois ou mais projectos. Como "o ‘mindset’ é global", acrescentou, 20% do investimento foi realizado por estrangeiros, desde a China ao Brasil. Nos 18 meses que leva online já foram investidos 680 mil euros e pagos 118 mil euros a investidores, num total de 9 projectos financiados, contabilizando ainda "mais de 5 milhões de euros em pipeline".

 

 

Ângelo Jesus, coordenador de marketing da Raize.
Ângelo Jesus, coordenador de marketing da Raize. Paulo Duarte

 

Raize: Bolsa de empréstimos a micro e PME de norte a sul

 

De um lado estão as PME que precisam de financiamento de médio e longo prazo, que não conseguem através da banca, e têm uma solução para apoiar a sua actividade através do investimento de pessoas comuns, numa ferramenta simples e rápida. Do outro estão os investidores que têm a possibilidade de investir directamente na economia real, diversificando os investimentos em várias empresas e reduzindo assim o risco associado, podendo obter liquidez do retorno do seu investimento sempre que o desejarem. Este é o mecanismo da Raize, com mais de 35 mil particulares inscritos e a primeira e única (até ao momento) gestora de crowdfunding já registada na CMVM – há mais dez pedidos de registo em apreciação neste momento. Fundada em 2013, já financiou perto de 16,5 milhões de euros e foi também a primeira empresa europeia do segmento a dispersar capital em bolsa, tendo começado a 18 de Julho a transaccionar no segmento Euronext Access da bolsa portuguesa (o antigo mercado Easynext). O coordenador de marketing, Ângelo Jesus, destacou o "papel social" da plataforma, por apoiar micro e pequenas empresas que asseguram 40% do emprego em Portugal, sobretudo fora dos grandes centros urbanos; e o processo digital do processo que faz com que, apesar de ter sede em Lisboa, a região da capital só tenha 12% das financiadas, abaixo do peso das empresas do Minho e Douro litoral (33%) e da Estremadura e Ribatejo (29%).

 

 

Bernardo Faria e Maia integra a equipa de gestão da IZILEND.
Bernardo Faria e Maia integra a equipa de gestão da IZILEND. Paulo Duarte

 

IZILEND: Dinheiro rápido e inicial para promotores imobiliários

 

A IZILEND está a chegar ao mercado para financiar os promotores imobiliários na fase inicial dos seus projectos, prometendo "pôr dinheiro rapidamente em cima da mesa". Dirigida apenas a investidores qualificados – "estão sempre salvaguardados, em primeiro lugar, pela hipoteca do imóvel, é uma garantia real" –, a proposta de valor é resumida por Bernardo Faria e Maia (ex-Deutsche Bank), que neste projecto é acompanhado por Rui Cesário Pereira (também da área da banca, com passagens por Haitong e VSM Capital) e por Francisco Jonet e Nuno Ravara, ambos da FS Capital, com experiência no ramo imobiliário. "Queremos ser rápidos, ter transparência total de todos os custos tanto para o investidor como para o promotor, e vamos ser flexíveis em termos de montantes, prazos, estrutura e optimização do negócio", resumiu. Com um montante mínimo de 250 mil e máximo de 5 milhões de euros, "loan to value" até 70% e prazo de três meses a 18 meses (sem perdas em caso de saída depois de um trimestre), na rubrica dos custos inclui uma comissão de desembolso de 2% do valor do financiamento e uma taxa de juro indicativa a partir de 1%/mês, além dos custos legais e associados à compra do imóvel. "Já sondámos o mercado com dois ou três promotores e percebemos que há mercado para isto", concluiu Bernardo Faria e Maia, detalhando que há duas opções para o reembolso, com os juros a poderem ser pagos mensalmente ou no final do financiamento, aquando do reembolso do capital.

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