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Wall Street sofre queda mais violenta desde 2011
Foi uma sessão negra em Wall Street, com as acções a caírem de forma violenta perante os receios coma subida da inflação e o agravamento das taxas de juro nos Estados Unidos. O Dow Jones chegou a cair mais de 1.500 pontos.
O Dow Jones fechou a cair 4,62% para 24.342,76 pontos, sendo que durante a sessão sofreu uma queda ainda mais violenta. O índice que agrupa 30 das cotadas mais relevantes de Wall Street chegou a afundar 6,26%, ou 1.597,08 pontos, naquela que foi a queda intra-diária em pontos mais forte de sempre.
O Dow Jones fechou a cair mais de mil pontos e sofreu a queda percentual mais elevada desde Agosto de 2011. Ao mínimo da sessão de hoje corresponde uma queda de mais de 10% face ao máximo histórico fixado há algumas semanas.
O S&P 500 fechou a cair 4,1% para 2 649,01 pontos, o que representa a descida diária mais acentuada desde Agosto de 2011. O Nasdaq, que chegou a negociar em terreno positivo logo depois da abertura, fechou o dia a recuar 3,78% para 6.967,527 pontos. Só o índice tecnológico ainda está a acumular ganhos em 2018.
As perdas em Wall Street intensificaram-se nas últimas horas da sessão, já depois do fecho das praças europeias, que esta terça-feira deverão assim ser contagiadas por este agravar de sentimento negativo nas bolsas norte-americanas.
As perdas violentas deste arranque de semana ocorrem depois de uma sessão de sexta-feira que já foi negra para Wall Street. Os índices accionistas desceram mais de 2% na sessão anterior, culminando uma semana que foi a pior desde que Trump é presidente dos Estados Unidos.
Nas praças europeias o sentimento também é fortemente negativo, com o Stoxx 600 a desvalorizar hoje pela sexta sessão seguida, no período de quedas mais forte desde que em Junho de 2016 os britânicos optaram pela Brexit.
Sessão caótica, mas não de pânico
O Financial Times descreve a sessão de hoje em Wall Street como de "trading caótico". Eram 15:00 em Nova Iorque quando o Dow Jones afundou mais de 800 pontos em apenas 15 minutos. Rapidamente recuperou, mas foi depois perdendo terreno até ao fecho da sessão, altura em que as quedas voltaram a acelerar.
As quedas diárias de hoje superaram as registadas na sequência do Brexit, da desvalorização surpresa da moeda chinesa e dos receios com a vitória de Trump nas eleições dos EUA. Só não foi maior do que a registada quando os Estados Unidos perderam o "rating" máximo por parte das agências de "rating".
Perante o "sell off" agressivo em Wall Street, a agência Bloomberg fez um inquérito rápido junto de cerca de 20 operadores de mercado, tendo constatado que apesar das quedas violentas, não houve momentos de pânico.
Perante a ausência de notícias que justificassem uma queda tão agressiva nos índices, alguns operadores citaram os algoritmos e programas automáticos como os responsáveis por tão forte pressão vendedora.
Alta da inflação faz soar os alarmes
Este sentimento que domina os mercados actualmente contrasta totalmente com o registado no início do ano, que foi marcado pelo optimismo com os efeitos de uma recuperação económica global e sincronizada.
Os índices em Wall Street continuaram a acumular máximos históricos nas primeiras semanas de 2018, mas agora já apagaram estes ganhos, devido aos receios com a subida da inflação e uma aceleração na subida de juros por parte da Reserva Federal.
Esta expectativa de alta na inflação intensificou-se na sexta-feira, depois dos Estados Unidos terem revelado que os salários cresceram ao ritmo mais forte em oito anos, o que gerou um movimento de quedas fortes nas acções e obrigações em Wall Street.
Apesar de esta segunda-feira os juros das obrigações norte-americanas até estarem a recuar com força, o "sell off" nas acções acentuou-se. A "yield" das obrigações dos EUA a 10 anos caíram 12,2 pontos base para 2,71%, já longe do máximo de Janeiro de 2014 fixado hoje perto de 2,9%. Um movimento que mostra que os investidores se refugiaram na dívida soberana, bem como noutros activos mais tradicionais, como o ouro.
Correcção ou "bear market"?
A questão está agora em saber se estamos perante uma correcção saudável (apesar de abrupta), ou o início de um ciclo mais prolongado de desvalorizações. "Penso que o sentimento era demasiado optimista", comentou à Bloomberg Brad McMillan, CIO da Commonwealth Financial Network. "O que conduziu o mercado em Janeiro? Não foram os fundamentais, por melhor que sejam, foi um excesso de confiança", considerou.
Este ajustar de expectativas acerca da subida da inflação está a levar o mercado a descontar agora mais agravamentos na taxa de juro dos Estados Unidos. O mercado de futuros já está a assumir pelo menos três subidas de juros da Fed, sendo a primeira de 2018 já em Março.
"Quanto temos as taxas de juro a subir, tipicamente o que acontece é que as condições financeiras apertam, o crédito da banca e os empréstimos começam a abrandar e a economia fica mais exposta a um abrandamento" afirmou à Reuters Mona Mahajan, da Allianz Global Investors.
Apesar destes receios, as projecções mais recentes do FMI, divulgadas em Davos no final de Janeiro, apontam para que este ano a economia mundial vai crescer ao ritmo mais forte da década, apoiada na evolução positiva das principais economias, como Estados Unidos e Europa.
(notícia actualizada pela última vez às 21:45)